sábado, 5 de janeiro de 2013

USP negociará com revistas científicas acesso aberto às suas pesquisas


Artigos que descrevem os estudos dos cientistas da Universidade de São Paulo serão publicados em biblioteca digital

Mariana Lenharo - O Estado de S.Paulo

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) que publicam artigos em revistas científicas devem passar a negociar com as editoras contratos que permitam que o material fique disponível gratuitamente em uma página da instituição. Hoje, muitas vezes instituições públicas financiam pesquisas e, quando os resultados são publicados, as próprias universidades têm de pagar para acessá-los.

André Lessa/AE
'Quanto maior a presença da internet, maior a visibilidade', diz diretora das bibliotecas da USP

A determinação do reitor João Grandino Rodas foi oficializada com a resolução n.º 6.444, publicada em 22 de outubro. As pesquisas serão publicadas na Biblioteca Digital da Produção Intelectual da USP (BDPI), recém-inaugurada (www.producao.usp.br). A iniciativa faz parte de um movimento global pelo acesso aberto à ciência. Unesp e Unicamp planejam estratégia semelhante e outras, como a Universidade de Brasília (UnB) e as federais de Santa Catarina (UFSC) e do Rio Grande do Sul (UFRGS), já têm seus repositórios, como são chamadas essas bibliotecas online.

Segundo a diretora do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (Sibi), Sueli Mara Soares Pinto Ferreira, a decisão já vinha sendo discutida havia alguns anos. "Dessa forma, a USP dá um retorno maior, trazendo para a sociedade o que ela investiu e, ao mesmo tempo, aumentando a visibilidade do que é produzido."

Tudo o que é publicado na nova biblioteca digital, que já tem 30 mil registros, aparece no Google Acadêmico. "Quanto maior a presença na internet, maior a visibilidade da universidade e sua posição nos rankings. Com tanta tecnologia, há rankings que medem a presença dos estudos nas redes sociais, por exemplo", diz Sueli. Entra na BDPI toda a produção acadêmica, exceto teses e dissertações, que já vinham sendo publicadas em acesso aberto em teses.usp.br.

O Instituto Brasileiro de Informação de Ciência e Tecnologia (IBICT) tem projeto para fornecer kits tecnológicos para universidades desenvolverem suas bibliotecas digitais. A USP foi uma das contempladas. Em três anos, foram implementados 39 repositórios institucionais. "Nossa ideia é estender essa ação para todas as universidades brasileiras", diz Bianca Amaro, coordenadora do Laboratório de Tecnologia da Informação do IBICT.

Unesp e Unicamp começam o processo de abrir o acesso às suas pesquisas em projeto com a USP e com a Fapesp. A meta é que a publicação comece em 2014. "Temos responsabilidade de liderar esse movimento no Brasil", diz o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, Ronaldo Aloise Pilli. "Pretendemos que gradativamente essa cultura se implemente e, quando o pesquisador for escolher uma revista, a recomendação seria optar por aquela que permita o acesso aberto."

Pilli pondera que os cientistas não deixarão de publicar em revistas importantes, caso não deem acesso aberto, "para que algo maior não seja sacrificado".

Segundo Flávia Maria Bastos, coordenadora-geral das bibliotecas da Unesp, a instituição já começou o levantamento dos trabalhos científicos produzidos a partir de 2010 para a publicação em livre acesso. Ela observa que, na situação atual, "a universidade não tem direito de armazenar sua própria produção científica e depende da autorização das editoras para dar visibilidade à sua produção".

A pesquisadora Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), observa que a pressão pelo acesso livre não deve ser feita por pesquisadores isolados, mas por grandes representações, como a própria SBPC e sua similar americana, a American Association for the Advancement of Science (AAAS).

Ela destaca que, no Brasil, o acesso às publicações internacionais já é privilegiado, graças à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que há 12 anos assina e libera as principais revistas científicas para os programas de pós-graduação.



Projeto depende de colaboração de cientistas

Para que o projeto tenha sucesso, os pesquisadores devem conhecer as opções de contrato de publicação em revistas científicas que permitam o acesso aberto. Bianca Amaro, do Instituto Brasileiro de Informação de Ciência e Tecnologia (IBICT), diz que "pesquisadores não se davam conta do que estava escrito na letra pequena dos contratos".

Agora, as universidades os orientam a firmar contratos favoráveis. Caso não seja possível liberar totalmente o acesso gratuito, uma opção é estabelecer um prazo para a liberação.

Helena Nader, da SBPC, diz que alguém tem de pagar a conta. "Tem todo um sistema envolvido entre a submissão de um artigo e a publicação: a edição, a revisão. Se obter o aceso livre depois de um ano da publicação na revista já seria uma vitória fantástica."

O acesso aberto pode ser feito de duas formas. O arquivamento em bancos de dados públicos de pesquisas que foram publicadas em revistas comerciais é a "via verde". A "via dourada" é quando a própria revista não cobra pelo acesso.

Para o professor da Escola de Artes Ciências e Humanidades da USP (EACH) Pablo Ortellado, que coordena o Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação, o Brasil está muito avançado na segunda via. Ele cita o modelo SciELO, plataforma que publica em acesso aberto as principais revistas científicas brasileiras. / M.L.

Um comentário:

  1. Faltam bases de dados no Brasil. A partir dos repositórios Institucionais é possível construir estas Bases. De acordo com Sayão(1996) as bases de dados representam a metáfora da memória Científica. Neste caso as bases de dados nacionais representariam a metáfora da memória científica nacional. Elas possibilitam o acesso á informação produzida pelas universidades e institutos de pesquisa desde a sua criação. Para preservar e dar acesso a toda produção dessas Instituições é necessário proceder a digitalização retrospectiva de seus acervos institucionais e depositar a produção atual em seus repositórios.
    Os artigos científicos são um dos principais meios de comunicação da ciência. Por este motivo é importante a sua preservação em meio digital. Acredito que os artigos de periódicos guardam parte significativa da memória da produção científica nacional e que, também, os instrumentos necessários para se ter acesso a essa memória são parte integrante da mesma, uma vez que, sem esses instrumentos, bases de dados e outros, grande parte dela fica inacessível para a maioria dos usuários

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