segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O plano que fará com que uma biblioteca evolua para além dos livros


Mario Aguilar | Gizmodo

Bibliotecas costumam ser lugares para leitura. Mas as coisas não são mais tão simples assim. Em Washington DC, capital dos Estados Unidos, foi anunciada uma proposta vencedora para a renovação da biblioteca central histórica. E trata-se de um plano ambicioso para transformar o edifício em um lugar onde ideias nascem – e as coisas são de fato feitas.

Em uma cidade cheia de monumentos e edifícios governamentais, a Biblioteca Memorial Martin Luther King Jr. é um raro exemplo de modernismo. Inaugurada em 1972, o prédio foi o último idealizado pelo famoso arquiteto Ludwig Mies van der Rohe – e é um excelente exemplo do estilo de Mies: uma estrutura primariamente horizontal e classicamente proporcional.


Mesmo antes dos projetos de restauração, a biblioteca começou a se preparar para o futuro. No ano passado, ela substituiu parte dos livros por uma área chamada “Digital Commons”, com 60 PCs, 16 iMacs, uma máquina de livros expressa, uma impressora 3D, e, o mais importante de tudo, espaço para 140 pessoas se sentarem e ligarem os próprios computadores.

Foi o primeiro passo para institucionalmente reconhecer o que bibliotecários e observadores casuais sabem há muito tempo: que a biblioteca não é mais um lugar onde pessoas vão para buscar livros. Na verdade, não é um lugar onde pessoas vão para fazer uma única coisa. É um lugar onde pessoas vão para fazer várias coisas, seja para usar computadores públicos em busca de emprego, ou estudantes e profissionais que querem um espaço silencioso para fazer algum trabalho.

Em resumo, o design de 40 anos de idade da biblioteca pode ser um marco histórico, mas ela precisa de uma reformulação geral, com serviços e áreas para servir um papel comunitário muito mais amplo do que o inicial. Em outras palavras, ela precisa ser totalmente refeita, e apenas uma parte ou outra será salva.

A proposta vencedora para renovar a biblioteca, uma ação conjunta da Mecanoo Architecten, da Holanda, e da Martinez+Johnson Architecture, de Washington DC, definiu o seguinte: a biblioteca precisa de uma reformulação de algo com uma função para algo multifuncional, um lugar que pode abrigar tudo desde espaços educacionais a salas de reuniões e, é claro, também precisa de espaço para livros.


Por dentro do prédio de Mies, os arquitetos propuseram que cada andar deve ter seu propósito próprio. O subsolo vai ser lar do impressionante “Centro de inovação e prototipagem”, um espaço flexível com pisos de concreto industrial, paredes móveis e espaço para workshops e aulas. No térreo, o “Mercado da cidade” terá apresentações, uma área de atuação, um café e uma livraria – é o tipo de espaço no qual as pessoas se movem casualmente como parte da vida na cidade.

O segundo andar é dedicado a um centro educacional, onde ficarão os livros da biblioteca. Acima dele, os arquitetos propuseram um espaço para leitura, seguido de um andar de história com coleções especiais e um espaço para exibições. Por fim, no topo, um novo deck e espaço com jardim.

Estruturalmente, o edifício será adaptado e todas as paredes não-estruturais serão trocadas por vidro ou eliminadas totalmente. Assim, o edifício terá mais iluminação natural.


Um dos aspectos mais controversos do plano, no entanto, é o fato de que ele transformará o edifício em um espaço misto público-privado, e grupos protestam contra qualquer envolvimento privado nele, mesmo que uma ou outra parceria privada possa ser, de alguma forma, benéfica. Como o WAMU lembra, os administradores há muito reclamam que o enorme edifício é caro e complicado para se manter. Uma das porções opcionais da proposta, um espaço privado, provavelmente para residencias, seria construído acima da estrutura de Mies.

Mas essa controvérsia em relação a público e privado deve ser encerrada com a necessidade de financiamento. Até agora, o prefeito de Washington DC, Vincent Gray, só destinou US$ 103 milhões de dinheiro público para o projeto, o que é muito abaixo do que os US$ 250 milhões estimados para a execução completa.

Também é importante ressaltar que a proposta vencedora não é nada além de um conceito neste momento. As empresas vencedoras foram escolhidas devido ao conceito apresentado, e acredita-se que é o mais adequado às necessidades da comunidade e da biblioteca, mas os detalhes ainda precisam ser negociados e certamente serão modificados. Vamos torcer para que este projeto ambicioso seja feito. [Scribd and DC Public Library via WAMU and DCist]

Um comentário:

  1. Fantástico o projeto. E a visão então que estão a ter do presente e futuro das bibliotecas é excepcional!
    Obrigada pela partilha, desconhecia isto.
    Maria

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