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terça-feira, 12 de junho de 2018
Facebook: hora de compartilhar ou desgrudar?
A onipresente rede social de Mark Zuckerberg tornou-se um problema político, econômico e existencial - e já há quem defenda um êxodo em massa
Por Alexandre Matias | ] cultura [
Ilustrações Lucas Levitan
O SENADOR NORTE-AMERICANO Dick Durbin olhava para o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, por cima dos óculos, durante o interrogatório que o dono da maior rede social do planeta atravessou no início de abril. “Você ficaria à vontade em compartilhar conosco o nome do hotel em que ficou na noite passada?”, perguntou. “Ahn…”, balbuciou o cacique de uma tribo digital com mais de dois bilhões de pessoas, para responder em seguida, com um sorriso constrangido, “não”. A resposta foi recebida com uma explosão de gargalhadas dos presentes na sessão do senado americano, em Washington.
O inquérito respondido por Zuckerberg dizia respeito ao escândalo envolvendo a maior rede social do mundo, que fora usada pela consultoria política inglesa Cambridge Analytica como plataforma digital para sugar dados de quase 90 milhões de pessoas e depois manipular suas escolhas online para que elas fossem refletidas em votos. A Cambridge gaba-se de ter sido decisiva em recentes terremotos políticos modernos, como a eleição de Donald Trump nos EUA e o Brexit, referendo que desconectou o Reino Unido do Mercado Comum Europeu.
A bomba explodiu quando um ex-funcionário da empresa, o programador Christopher Wylie, veio a público para revelar que a Cambridge Analytica havia usado um inocente teste de personalidade postado na rede para drenar informações dos usuários do Facebook e influenciar suas escolhas a partir de anúncios e posts patrocinados direcionados para diferentes tipos de eleitores. A crise foi tamanha que a Cambridge anunciou em maio que fechará suas portas.
O teste vinha dentro de um aplicativo que pedia para que o público entregasse todo o tipo de informação sobre si mesmo armazenada pelo Facebook: agenda de contatos, quantidade de likes, links clicados, histórico de buscas. A minúcia chegava ao extremo de colher dados sobre pessoas que nem sequer estão na rede social, através de contatos digitais diferentes, como a agenda de telefones no celular ou o histórico de e-mails daqueles que aceitaram usar o app clicando inocentemente na caixinha de permissões do teste de personalidade.
Embora o próprio Zuckerberg lave as mãos e diga que foram as pessoas que aceitaram os termos de uso tanto do aplicativo quanto do Facebook, o fato é que a empresa controla uma quantidade de informações pessoais cada vez maior e tem se tornado central na maioria das conexões entre pessoas atualmente. Mesmo fora de seu domínio azul, Zuckerberg ainda rastreia as pessoas pelo Instagram e pelo WhatsApp, duas ferramentas independentes que tiveram saltos de popularidade e foram compradas pelo Facebook.
A era digital fez nascer um novo tipo de oligopólio: o dos dados pessoais. Aproveitando-se da ingenuidade do público e de uma nova legislação norte-americana que permitia a vigilância online após os atentados de 11 de setembro de 2001, novas empresas passaram a oferecer produtos online aparentemente gratuitos - sejam redes sociais, e-mails online, aplicativos de comunicação e de relacionamento, serviços na nuvem e mapas digitalizados - que coletam informações sobre cada passo dado por seus usuários. Ao aceitar os termos de uso destes novos serviços, as pessoas aos poucos foram abrindo mão de sua privacidade e até de sua liberdade, carregando dispositivos de monitoramento online em seus bolsos.
Corporações como Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft começaram a desdobrar suas atividades para além de suas funções originais, aumentando o nível de consentida invasão de privacidade de seus usuários. Conhecendo melhor seus clientes como nenhum outro tipo de empresa na história, eles começaram a vender estas informações em forma de publicidade, personalizando os anúncios de acordo com os hábitos digitais de seus “consumidores” - que são, na realidade, o verdadeiro produto oferecido aos anunciantes pela rede social.
Empresas menores como Twitter, Spotify, Uber e Netflix, entre inúmeras outras, também coletam seus dados para “melhorar seus serviços”, embora todos almejem ter a influência e o tamanho dos dois maiores gigantes digitais: Google e Facebook. Se o primeiro não tem uma grande rede social para conectar as pessoas, é simplesmente dono do maior site de buscas do mundo, do principal serviço de streaming do planeta (o YouTube), do principal sistema operacional para celulares (o Android) e do principal serviço de mapas online do mundo (o Google Maps).
Já o Facebook parece ter uma influência maior do que a simples inteligência artificial bradada pela empresa. Ele bane a nudez (incluindo mães que amamentam), mas não tira do ar cenas violentas, por alegada “liberdade de expressão”. No mesmo inquérito realizado nos EUA, Zuckerberg assegurou que grupos de ódio são proibidos no Facebook, quando qualquer usuário percebe a tendência belicosa por trás de comentários, likes e compartilhamentos.
A crescente polarização ideológica da sociedade no mundo todo parece ter sido reforçada pela distribuição eletrônica de publicações da rede, com a criação de bolhas de interesse que não conversam entre si. Problema que o indiano Chamath Palihapitiya, que chegou a ser vice-presidente de crescimento de usuários da rede entre 2007 e 2011, apontou no fim do ano, em uma palestra na Escola de Negócios de Stanford sobre o vício em redes sociais. Para o ex-diretor da empresa, o Facebook está destruindo o funcionamento da sociedade e rasgando o tecido social ao fazer as pessoas se tornarem compulsivas no uso e na recompensa mental que seu uso traz. Na mesma época, o primeiro presidente do Facebook, Sean Parker, admitiu em um evento na Filadélfia que a rede foi desenhada para ser viciante: “Só Deus sabe o que estamos fazendo com o cérebro de nossas crianças.”
Todas essas revelações não alteraram significativamente o engajamento de seus usuários, embora um movimento de êxodo digital tenha se intensificado desde então, e o Facebook venha encontrando dificuldades em atrair usuários mais jovens. Obviamente, a opção de abandonar o Facebook é complicada, pois a rede se tornou central em uma série de relações sociais e comerciais - e ainda não encontrou um rival à altura (quadro acima).
O que nos deixa a um clique da tirania, como alertou a professora Melissa K. Scanlan, da Escola de Direito de Vermont, em um artigo no jornal britânico The Guardian: “O uso nefasto de nossos dados pessoais está em toda parte. Se a Cambridge Analytica pode obtê-los, o que impede que um governo também os tenha?” E prosseguiu: “A maior tirania seria a fusão do monopólio corporativo e do poder governamental, criando o estado de vigilância mais invasivo da história.”
Jamais poderíamos imaginar que a distopia do futuro digital que habitamos hoje fosse mais assustadora que a ficção de George Orwell e Aldous Huxley, que cogitaram, respectivamente, o estado de vigilância máxima personificado na figura do Grande Irmão no livro 1984 e o estado de êxtase alienante em Admirável Mundo Novo. O início do século 21 parece ser uma mistura destes dois cenários, em que alimentamos um Grande Irmão digital com nossos êxtases pessoais.
sexta-feira, 1 de junho de 2018
O Brasil paralelo no WhatsApp
Durante a crise dessa semana um outro mundo acontecia nos grupos de WhatsApp
Pedro Doria | O Estado de S. Paulo
Imagem: Internet
Há, nas entranhas do WhatsApp, um outro Brasil. Nele, uma quantidade imensa de pessoas vive uma realidade paralela. Passei a última semana me dividindo entre seis grupos distintos. Estes ‘grupos de notícias’ informam aquilo que a imprensa ‘não tem coragem’ de contar. Para o observador atento, os grupos revelam dois processos paralelos: Um deles é uma estrutura de marketing político de guerrilha em formação, fazendo um jogo sujíssimo. O outro é um novo tipo de brasileiro, despolitizado e no entanto engajado, tentando compreender a confusa realidade à volta, com as poucas ferramentas de que dispõe.
Grupos no WhatsApp têm um limite de tamanho: 256 usuários. E os convites podem ser distribuídos por links. Essas são informações chaves para compreender a dinâmica de como funcionam. Os links para entrar nos grupos de notícias vão circulando, do grupo de família para o do serviço.
Quem entra é abastecido com centenas de mensagens por dia. São vídeos, áudios e imagens, quase nunca texto. Muitos memes com críticas ao governo. Os vídeos e os áudios carregam um sentido de urgência, de que é preciso encaminhar, que a notícia tem de alcançar a maior quantidade de pessoas possível. Rápido. Sempre falsas.
Durante o estirão final da greve, as mensagens principais eram três: não confie na imprensa, a intervenção militar está para acontecer - basta um dia a mais de caminhões parados. Os generais estão decididos. É segurar um pouco mais, e quem fica na fila de posto de gasolina é burro. Em memes e vídeos, burros foram imagens constantes. É a gente que não aguenta o tranco. Os caminhoneiros parados conseguiram baixar o preço do seu combustível, as cidades precisam ir às ruas, também parar, mostrar sua fibra. Derrubar o governo é fundamental.
Nada é acidental ou espontâneo nestes grupos. Muitos leem, dois ou três os alimentam com a torrente de posts. E alguém, por trás, passou dias produzindo material. A cada dez minutos tem alguma coisa nova para que todos sejam mantidos em alerta. O conjunto oferece uma mensagem organizada e calculada com um efeito em mente. E, sempre que um grupo começa a encher, um novo grupo é publicado.
Há uma operação por trás deste processo, gente especializada construindo a mensagem. O governo, já frágil por deméritos próprios, sofreu uma tentativa de sabotagem por equipes que sabiam muito bem o que estavam fazendo. Tentaram aproveitar-se da greve dos para provocar um novo 2013 nas cidades. Não conseguiram.
Mas conseguiram outras coisas. Porque todo mundo que se inscreve nos grupos deixa duas informações essenciais: é alguém que procurou, que está querendo notícias novas e o número do celular com DDD, ou seja, origem geográfica. A turma do marketing de guerrilha construiu um banco de dados bem fornido de pessoas crédulas, engajadas, que formarão o marco zero da distribuição de fake news na campanha eleitoral.
Não é o fato de os grupos serem de extrema-direita que mais impressiona. É sua credulidade, ingenuidade política. “Os militares já estão chegando em Brasília”, dizia um áudio. Como se eles precisassem ir para a capital. “O general Beltrano vai subir a rampa do Senado às 15h”, informava outro. A rampa é do Planalto. “O deputado Cicrano deu ordens.” Deputados não dão ordens. As incongruências, as notícias falsas tão vagas, não ligam o alerta de ninguém, mas alimentam uma raiva já existente. Terreno fértil para um demagogo populista.
quinta-feira, 3 de maio de 2018
Site brasileiro JOTA cria bot para incentivar cobertura jornalística de processos parados no STF
Por Carolina de Assis | Knight Center
Em 1920, o jurista brasileiro Rui Barbosa (1849-1923) afirmou que “justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”. Quase 100 anos depois, suas palavras inspiram a nova empreitada do site brasileiro JOTA, que tem o Judiciário como foco de sua cobertura jornalística. O bot Rui (@ruibarbot), lançado no fim de abril, monitora e divulga no Twitter a lentidão no andamento dos processos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Diariamente, Rui tuíta sobre aniversários de processos parados na mais alta corte do país. No dia 25 de abril, por exemplo, ele avisou que uma ação sobre punição a motorista que foge depois de acidente de trânsito está parada há um ano no STF. O tuíte deu origem a uma reportagem do próprio JOTA sobre o processo e a lentidão em seu andamento.
O objetivo do bot é justamente direcionar o olhar de jornalistas e da cidadania para os gargalos do Judiciário brasileiro, disse Felipe Recondo, cofundador e diretor de conteúdo do JOTA e idealizador do bot, ao Centro Knight.
“A ideia surgiu entre 2014 e 2015, quando começamos o JOTA”, contou Recondo. “A percepção é que a gente cobria os processos judiciais quando eles andavam, mas a natureza do Judiciário, por várias razões - excesso de processos, travas na legislação, excesso de recursos - é que os processos não caminham.” A sensação, segundo o jornalista, era de cobrir apenas uma parte da história.
A cobertura dos processos parados permite desvelar “as disfuncionalidades do Judiciário”, disse Recondo, e explorar as várias razões possíveis para a lentidão. “Pode ser um ministro que não está dando a prioridade que talvez devesse dar a esse processo; pode ser o Ministério Público, que não devolveu o processo e ainda está analisando; as partes podem estar usando recursos legítimos, mas que podem protelar a decisão... A gente queria saber onde estão os gargalos em cada um desses casos. A ideia então foi fazer uma cobertura com sinal negativo, cobrindo também o que não anda.”
Guilherme Jardim Duarte, editor de dados do JOTA, programou Rui em Python, linguagem de programação muito usada por jornalistas em projetos como este. Ele explicou ao Centro Knight que o bot parte de uma lista de 289 ações compiladas pela equipe do JOTA em meio às 43 mil que tramitam no STF. O robô entra todos os dias no site do tribunal, confere quando cada processo que consta na lista foi atualizado e, caso algum esteja completando anos ou 180 ou 270 dias sem movimentação, ele tuíta a respeito.
“A única coisa que o bot faz é ver se o processo está fazendo aniversário [sem movimentação]”, disse Duarte. “O resto é o trabalho do repórter, de apurar e contar o que aconteceu.”
A lista de ações monitoradas pelo bot é resultado de uma curadoria da equipe do JOTA com base em critério jornalístico, disse Recondo. “Vimos o que na nossa cobertura pode ter maior repercussão para a legislação, a economia, a sociedade, a política, etc.” Mas a lista está aberta a atualizações e sugestões de leitores e leitoras sobre outras ações a serem monitoradas. “Foi imediato: assim que o robô entrou no ar as pessoas começaram a nos escrever dizendo ‘vocês deviam acompanhar o processo tal’. E estamos abertos a isso.”
Um aspecto valioso do projeto é ele ser um gerador de pautas não só para o JOTA, mas para qualquer jornalista ou veículo que acompanhe Rui no Twitter e que se interesse por alguma ação parada que ele destaca.
“A gente poderia ter feito um robô exclusivamente para nós”, disse Recondo. “Seria também extremamente relevante, mas não cumpriria com a tarefa que é também fazer com que as redes sociais e pessoas que talvez não leiam o JOTA, mas leem outros meios, tenham acesso a isso.” Estando no Twitter, “qualquer pessoa pode acessar, e quem quiser pode fazer matéria em jornais de qualquer lugar do país em cima daquela informação”, afirmou.
Além de reportagens no JOTA, Rui já gerou repercussão entre os próprios ministros do STF. Alguns deles comentaram com Recondo sobre o bot. Um ministro disse que o JOTA deveria expandir o projeto para todo o Judiciário. Já outros dois expressaram receio; um não entrou em detalhes, mas outro fez uma ressalva sobre os magistrados serem responsabilizados pela lentidão nos processos. “Eu disse que o robô vai tuitar apenas que o processo está parado. Nós vamos fazer matéria e explicar por que e onde está parado”, disse Recondo.
Houve também provocações de outras pessoas do STF, contou ele. “Disseram que ‘do jeito que isso aqui é, vocês vão ficar apitando que nem sirene’. Respondi ‘bom, se for assim, temos que discutir o modelo dos tribunais, não o modelo do Rui’”, riu o jornalista.
Novos Ruis estão no horizonte do JOTA. “A gente quer ampliar os tribunais”, disse Duarte. “O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é o tribunal que todo mundo pensa em seguida. Em termos de questões legais, é nossa corte superior. O STJ é bastante importante e é esquecido, às vezes, e tem vários casos interessantes e importantes ali.”
Segundo Duarte, outro projeto previsto pela equipe do site é uma análise de dados a respeito de todos os processos que constam no site do STF - cerca de dois milhões, entre ações finalizadas e ainda em andamento.
Para Recondo, o jornalismo baseado em dados é praticamente uma exigência da cobertura do Judiciário. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, em 2016 quase 110 milhões de processos passaram pelo Judiciário brasileiro. “Para fazer uma cobertura dessas, ou você tem dados ou você mergulha em 100 milhões de processos, e você não vai conseguir sair”, afirmou.
“A gente quer fazer um jornalismo baseado em evidências, e essas evidências às vezes podem ser metrificadas”, disse o diretor do JOTA, para quem os leitores têm demandado a apresentação de evidências no jornalismo. “Quando mais nós estivermos baseados em dados, menor vai ser o achismo, melhor o leitor estará informado e melhor vai poder formar seu juízo.”
Em 1920, o jurista brasileiro Rui Barbosa (1849-1923) afirmou que “justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”. Quase 100 anos depois, suas palavras inspiram a nova empreitada do site brasileiro JOTA, que tem o Judiciário como foco de sua cobertura jornalística. O bot Rui (@ruibarbot), lançado no fim de abril, monitora e divulga no Twitter a lentidão no andamento dos processos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Diariamente, Rui tuíta sobre aniversários de processos parados na mais alta corte do país. No dia 25 de abril, por exemplo, ele avisou que uma ação sobre punição a motorista que foge depois de acidente de trânsito está parada há um ano no STF. O tuíte deu origem a uma reportagem do próprio JOTA sobre o processo e a lentidão em seu andamento.
O objetivo do bot é justamente direcionar o olhar de jornalistas e da cidadania para os gargalos do Judiciário brasileiro, disse Felipe Recondo, cofundador e diretor de conteúdo do JOTA e idealizador do bot, ao Centro Knight.
“A ideia surgiu entre 2014 e 2015, quando começamos o JOTA”, contou Recondo. “A percepção é que a gente cobria os processos judiciais quando eles andavam, mas a natureza do Judiciário, por várias razões - excesso de processos, travas na legislação, excesso de recursos - é que os processos não caminham.” A sensação, segundo o jornalista, era de cobrir apenas uma parte da história.
A cobertura dos processos parados permite desvelar “as disfuncionalidades do Judiciário”, disse Recondo, e explorar as várias razões possíveis para a lentidão. “Pode ser um ministro que não está dando a prioridade que talvez devesse dar a esse processo; pode ser o Ministério Público, que não devolveu o processo e ainda está analisando; as partes podem estar usando recursos legítimos, mas que podem protelar a decisão... A gente queria saber onde estão os gargalos em cada um desses casos. A ideia então foi fazer uma cobertura com sinal negativo, cobrindo também o que não anda.”
Guilherme Jardim Duarte, editor de dados do JOTA, programou Rui em Python, linguagem de programação muito usada por jornalistas em projetos como este. Ele explicou ao Centro Knight que o bot parte de uma lista de 289 ações compiladas pela equipe do JOTA em meio às 43 mil que tramitam no STF. O robô entra todos os dias no site do tribunal, confere quando cada processo que consta na lista foi atualizado e, caso algum esteja completando anos ou 180 ou 270 dias sem movimentação, ele tuíta a respeito.
“A única coisa que o bot faz é ver se o processo está fazendo aniversário [sem movimentação]”, disse Duarte. “O resto é o trabalho do repórter, de apurar e contar o que aconteceu.”
A lista de ações monitoradas pelo bot é resultado de uma curadoria da equipe do JOTA com base em critério jornalístico, disse Recondo. “Vimos o que na nossa cobertura pode ter maior repercussão para a legislação, a economia, a sociedade, a política, etc.” Mas a lista está aberta a atualizações e sugestões de leitores e leitoras sobre outras ações a serem monitoradas. “Foi imediato: assim que o robô entrou no ar as pessoas começaram a nos escrever dizendo ‘vocês deviam acompanhar o processo tal’. E estamos abertos a isso.”
Um aspecto valioso do projeto é ele ser um gerador de pautas não só para o JOTA, mas para qualquer jornalista ou veículo que acompanhe Rui no Twitter e que se interesse por alguma ação parada que ele destaca.
“A gente poderia ter feito um robô exclusivamente para nós”, disse Recondo. “Seria também extremamente relevante, mas não cumpriria com a tarefa que é também fazer com que as redes sociais e pessoas que talvez não leiam o JOTA, mas leem outros meios, tenham acesso a isso.” Estando no Twitter, “qualquer pessoa pode acessar, e quem quiser pode fazer matéria em jornais de qualquer lugar do país em cima daquela informação”, afirmou.
Além de reportagens no JOTA, Rui já gerou repercussão entre os próprios ministros do STF. Alguns deles comentaram com Recondo sobre o bot. Um ministro disse que o JOTA deveria expandir o projeto para todo o Judiciário. Já outros dois expressaram receio; um não entrou em detalhes, mas outro fez uma ressalva sobre os magistrados serem responsabilizados pela lentidão nos processos. “Eu disse que o robô vai tuitar apenas que o processo está parado. Nós vamos fazer matéria e explicar por que e onde está parado”, disse Recondo.
Houve também provocações de outras pessoas do STF, contou ele. “Disseram que ‘do jeito que isso aqui é, vocês vão ficar apitando que nem sirene’. Respondi ‘bom, se for assim, temos que discutir o modelo dos tribunais, não o modelo do Rui’”, riu o jornalista.
Novos Ruis estão no horizonte do JOTA. “A gente quer ampliar os tribunais”, disse Duarte. “O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é o tribunal que todo mundo pensa em seguida. Em termos de questões legais, é nossa corte superior. O STJ é bastante importante e é esquecido, às vezes, e tem vários casos interessantes e importantes ali.”
Segundo Duarte, outro projeto previsto pela equipe do site é uma análise de dados a respeito de todos os processos que constam no site do STF - cerca de dois milhões, entre ações finalizadas e ainda em andamento.
Para Recondo, o jornalismo baseado em dados é praticamente uma exigência da cobertura do Judiciário. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, em 2016 quase 110 milhões de processos passaram pelo Judiciário brasileiro. “Para fazer uma cobertura dessas, ou você tem dados ou você mergulha em 100 milhões de processos, e você não vai conseguir sair”, afirmou.
“A gente quer fazer um jornalismo baseado em evidências, e essas evidências às vezes podem ser metrificadas”, disse o diretor do JOTA, para quem os leitores têm demandado a apresentação de evidências no jornalismo. “Quando mais nós estivermos baseados em dados, menor vai ser o achismo, melhor o leitor estará informado e melhor vai poder formar seu juízo.”
quarta-feira, 4 de abril de 2018
A geração Facebook
Por Eduardo de Barros | Adversa
Basta ligar o computador - ou o smartphone ou sabe-se lá mais o que - para se deparar com estas massas fantasmagóricas digladiando-se virtualmente, num espetáculo tão patético como desumano. Eis a geração Facebook!
Mas afinal o que se ganha quando se faz o mal aos outros? Já Simone Weil punha tal questão e respondia “Cresce-se. Estende-se. Enche-se um vazio em si criando-o nos outros”. Sim, crescemos virtualmente, estendendo nossos múltiplos tentáculos. Já que não temos mais intimidade, nos dedicamos a perscrutar vida intima alheia, tudo invadindo com nosso veneno biliar.
Eis o ‘homem novo’ - sonhado por todas as utopias - que tendo abolido toda vida interior, ficou completamente oco, desde que vendeu sua alma num mercado de pulgas. Seu único divertimento é o xingamento e só encontra suas delícias em tornar vazios os demais.
terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
Livro discute o uso do Whatsapp no ensino
Lançado recentemente, o livro da Editus - Editora da UESC, com co-edição da EDUFBA, põe em foco a discussão do uso de aplicativos enquanto recursos pedagógicos. "Whatsapp e educação: entre mensagens, imagens e sons" foi organizado por Cristiane Porto, Kaio Eduardo Oliveira e Alexandre Chagas, contando com 13 artigos de diferentes pesquisadores do Brasil e de outros países.
A obra discute a utilização do aplicativo Whatsapp enquanto aliado no processo de ensino e aprendizagem no contexto atual da cibercultura. Os capítulos que o compõem apresentam experiências de pesquisadores, propostas de ensino e aprendizagem, e outras formas de ensinar e aprender que têm o Whatsapp como mediador do processo.
Sumário
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018
Uma distopia digital
Não é à toa que muitos consideram dados equivalentes ao petróleo; para Morozov, no entanto, o novo petróleo não são os dados, mas a inteligência artificial.
Pedro Doria | O Estado de S. Paulo
Imagem: Internet (Evgeny Morozov)
Há uma nova teoria circulando a respeito de para onde a internet nos leva. Segundo esta leitura, algumas poucas empresas estão construindo sistemas de inteligência artificial que se tornarão rapidamente fundamentais para a vida. Todos os governos, organizações da sociedade civil e indústrias dependerão desta tecnologia. Que será controlada por um oligopólio. Estamos assistindo ao nascimento de monstros.
Sempre que alguém apresenta um cenário distópico assim, não custa dar uns passos atrás.
Para muitos no Vale do Silício, Evgeny Morozov é um neoludita. Alguém com medo irracional de tecnologia. Esta semana, a revista americana Politico o anunciou em sua lista de 28 pessoas que farão diferença em 2018.
Nascido na Bielorrússia, criado na Bulgária, morador de Barcelona - 33 anos. É escritor. Foi professor visitante em Stanford, a universidade no coração do Vale. Teve uma bolsa do Yahoo para estudar em Georgetown. TED Fellow. E está terminando o doutorado em Harvard. Não se trata do currículo típico de um ludita. Mas ele desconfia do Vale.
Na sua visão, por exemplo, o Grande Firewall da China não é apenas um instrumento de censura do governo. Tem também este papel.
Mas é, antes de tudo, um recurso protecionista. Impede a entrada de tecnologia americana no País do Centro, enquanto sua própria indústria se desenvolve. Esta semana, aliás, o governo americano intercedeu perante uma operadora de celular para que os aparelhos topo de linha da Huawei não sejam vendidos, pois são equivalentes a Motorola e Apple. A guerra pelo futuro da tecnologia entre os dois países está oficialmente aberta.
Morozov questiona a ideia, amplamente difundida, de que dados são, para o século 21, o que o petróleo foi para o século 20.
Dados alimentam os produtos tecnológicos e sustentam a indústria. A Amazon armazena e analisa todo nosso comportamento na loja virtual. A partir do conjunto de todos seus clientes, faz cálculo de preços, decide o que apresentar a cada indivíduo, define logística. O Google usa dados de motoristas para oferecer o melhor caminho pelo Waze, compreende nossas inúmeras escolhas em buscas para produzir resultados melhores. O Facebook, e seu já famoso algoritmo, é também este imenso banco de dados no qual cada reação ao que vemos é armazenada para tornar o serviço mais eficiente.
E dados, evidentemente, são usados para veicular publicidade.
Não é à toa, portanto, que muitos consideram dados equivalentes ao petróleo. Se guerras foram travadas para garantir o combustível que ergueu economias, hoje são dados que alimentam a nova economia. Para Morozov, no entanto, esta é uma ilusão.
O novo petróleo não são os dados, mas a inteligência artificial.
Na fase pela qual passamos, as grandes massas de dados estão ensinando complexos algoritmos de inteligência artificial. Sim, dados são cruciais. Porque é o big data, este grande volume, que permite aos sistemas avaliarem as muitas possibilidades de comportamento. É enxergando padrões se repetirem que sistemas de IA aprendem a prever.
E aí está o pulo do gato: a inteligência artificial está sendo treinada e sofisticada por empresas, como Amazon, Google, Facebook, Microsoft, IBM. Aos poucos, aplicações surgem. Para todas as indústrias: do varejo à saúde, da educação ao transporte, energia, mineração. Governo. Democracia. Publicidade. Tudo será muito mais eficiente com inteligência artificial. A um ponto tal que, quem não tiver, estará muito atrás. Serão poucos vencedores.
Daí: desigualdade. Na leitura de Evgeny Morozov está nascendo um novo oligopólio.
terça-feira, 30 de janeiro de 2018
A pedra no sapato de Zuckerberg
Aqueles que sonhavam com o paraíso da emancipação midiática se voltaram contra quem permitiu a balbúrdia das “fake news”: notadamente, o Facebook
Rodrigo Caetano | IstoÉ Dinheiro
Vivemos na era da informação. Os dados nunca foram tão abundantes, ou viajaram em velocidades tão rápidas. O paradoxo está no fato de que a desinformação também nunca foi tão evidente. O problema é que há uma relação inversamente proporcional entre a quantidade de informações a que uma pessoa é submetida e sua capacidade de discernir entre o real e o imaginário, de acordo com os estudiosos das teorias da comunicação. Esse entendimento não é, exatamente, novo. Um estudante de jornalismo do final dos anos 1990, provavelmente, terá lido sobre os efeitos dos extintos “jornalões” de domingo. Dizia-se, na época, que uma só edição dominical do “Folhão” ou do “Estadão” trazia mais informações do que um homem medieval estaria exposto durante toda sua vida. Essa superinformação acabava gerando, na verdade, uma desinformação generalizada. E ainda falávamos do papel.
Os tempos, no entanto, eram outros. A chamada “grande mídia” controlava a distribuição do conteúdo e fazia a sua “curadoria”. Os anúncios impressos ou televisionados garantiam o financiamento do jornalismo e da produção de conteúdo, ainda que a internet já indicasse que passaria como um trator por esse modelo. Então veio o Google, o Facebook, e tudo mudou. Com um misto de dinamismo americano e agressividade chinesa, as duas empresas sequestraram 20% dos gastos globais com publicidade. No ano passado, elas atraíram US$ 106 bilhões em anúncios, segundo a empresa de análises Zenith. Na mídia tradicional, quem chega mais perto é a americana Comcast, dona da NBC, com US$ 13 bilhões, oito vezes menos.
Se o impacto no mercado é absolutamente claro, os efeitos da mudança na sociedade ainda estão sendo sentidos. Numa primeira análise, o fim do “monopólio da grande mídia” aparecia como um sonho de liberdade. As barreiras que impediam a informação de ser disseminada democraticamente colapsavam e o mundo entraria em uma espécie de catarse informativa, na qual todos seriam, ao mesmo tempo, jornalistas e leitores, colaborando incessantemente para apurar e revelar a verdade. Isso não aconteceu. Com ajuda da Rússia, Donald Trump venceu as eleições nos Estados Unidos e aqueles que sonhavam com o paraíso da emancipação midiática se voltaram contra quem permitiu a balbúrdia das “fake news”: notadamente, o Facebook, de Mark Zuckerberg.
À medida que nos aproximamos de mais uma rodada de eleições importantes, nos EUA, no México e no Brasil, para citar alguns exemplos, a preocupação com os efeitos das redes sociais ganha os holofotes. Zuckerberg, por sua vez, sinaliza que, ainda que tenha tomado de assalto o mercado publicitário, não quer saber de lidar com o problema das “fake news”. Nas últimas semanas, ele anunciou medidas para, na prática, barrar o jornalismo, bom ou mau, dos feeds facebuquianos. Seu problema está no fato de que, apesar de ser altamente lucrativo para quem detém o “monopólio” da distribuição, o jornalismo tem um efeito colateral que se chama poder político. Não é possível ganhar dinheiro com ele sem lidar com as forças contraditórias que regem a geopolítica mundial. Nem se abster da responsabilidade de se ater aos fatos para criar narrativas, mesmo as enviesadas.
Antes um aliado na obtenção de audiência, o jornalismo se tornou uma pedra no sapato de Zuckerberg. Algo que atrapalha sua missão de conectar e aproximar as pessoas. Pior, transforma o Facebook em vidraça, em ator político, o que gera algumas demandas por regulação do setor de redes sociais, um antigo temor do empresário. A solução é devolvê-lo aos seus antigos donos, a grande mídia, acostumada com a tarefa de informar a opinião pública. O estrago, no entanto, está feito.
Ao afastar as notícias da rede social, Zuckerberg está criando uma brecha para as notícias falsas. A esperança é que esse espaço seja ocupado por aqueles que, nas palavras de Bertolt Brecht, tenham a coragem de dizer a verdade. “A verdade deve ser mostrada na sua luta com a mentira e nunca apresentada como algo de sublime, de ambíguo e de geral; este estilo de falar dela convém justamente à mentira”, escreveu o poeta e dramaturgo alemão, em um texto de 1934, com o qual conclamava os escritores a lutar contra o fascismo. O futuro da democracia depende disso.
Rodrigo Caetano | IstoÉ Dinheiro
Vivemos na era da informação. Os dados nunca foram tão abundantes, ou viajaram em velocidades tão rápidas. O paradoxo está no fato de que a desinformação também nunca foi tão evidente. O problema é que há uma relação inversamente proporcional entre a quantidade de informações a que uma pessoa é submetida e sua capacidade de discernir entre o real e o imaginário, de acordo com os estudiosos das teorias da comunicação. Esse entendimento não é, exatamente, novo. Um estudante de jornalismo do final dos anos 1990, provavelmente, terá lido sobre os efeitos dos extintos “jornalões” de domingo. Dizia-se, na época, que uma só edição dominical do “Folhão” ou do “Estadão” trazia mais informações do que um homem medieval estaria exposto durante toda sua vida. Essa superinformação acabava gerando, na verdade, uma desinformação generalizada. E ainda falávamos do papel.
Os tempos, no entanto, eram outros. A chamada “grande mídia” controlava a distribuição do conteúdo e fazia a sua “curadoria”. Os anúncios impressos ou televisionados garantiam o financiamento do jornalismo e da produção de conteúdo, ainda que a internet já indicasse que passaria como um trator por esse modelo. Então veio o Google, o Facebook, e tudo mudou. Com um misto de dinamismo americano e agressividade chinesa, as duas empresas sequestraram 20% dos gastos globais com publicidade. No ano passado, elas atraíram US$ 106 bilhões em anúncios, segundo a empresa de análises Zenith. Na mídia tradicional, quem chega mais perto é a americana Comcast, dona da NBC, com US$ 13 bilhões, oito vezes menos.
Se o impacto no mercado é absolutamente claro, os efeitos da mudança na sociedade ainda estão sendo sentidos. Numa primeira análise, o fim do “monopólio da grande mídia” aparecia como um sonho de liberdade. As barreiras que impediam a informação de ser disseminada democraticamente colapsavam e o mundo entraria em uma espécie de catarse informativa, na qual todos seriam, ao mesmo tempo, jornalistas e leitores, colaborando incessantemente para apurar e revelar a verdade. Isso não aconteceu. Com ajuda da Rússia, Donald Trump venceu as eleições nos Estados Unidos e aqueles que sonhavam com o paraíso da emancipação midiática se voltaram contra quem permitiu a balbúrdia das “fake news”: notadamente, o Facebook, de Mark Zuckerberg.
À medida que nos aproximamos de mais uma rodada de eleições importantes, nos EUA, no México e no Brasil, para citar alguns exemplos, a preocupação com os efeitos das redes sociais ganha os holofotes. Zuckerberg, por sua vez, sinaliza que, ainda que tenha tomado de assalto o mercado publicitário, não quer saber de lidar com o problema das “fake news”. Nas últimas semanas, ele anunciou medidas para, na prática, barrar o jornalismo, bom ou mau, dos feeds facebuquianos. Seu problema está no fato de que, apesar de ser altamente lucrativo para quem detém o “monopólio” da distribuição, o jornalismo tem um efeito colateral que se chama poder político. Não é possível ganhar dinheiro com ele sem lidar com as forças contraditórias que regem a geopolítica mundial. Nem se abster da responsabilidade de se ater aos fatos para criar narrativas, mesmo as enviesadas.
Antes um aliado na obtenção de audiência, o jornalismo se tornou uma pedra no sapato de Zuckerberg. Algo que atrapalha sua missão de conectar e aproximar as pessoas. Pior, transforma o Facebook em vidraça, em ator político, o que gera algumas demandas por regulação do setor de redes sociais, um antigo temor do empresário. A solução é devolvê-lo aos seus antigos donos, a grande mídia, acostumada com a tarefa de informar a opinião pública. O estrago, no entanto, está feito.
Ao afastar as notícias da rede social, Zuckerberg está criando uma brecha para as notícias falsas. A esperança é que esse espaço seja ocupado por aqueles que, nas palavras de Bertolt Brecht, tenham a coragem de dizer a verdade. “A verdade deve ser mostrada na sua luta com a mentira e nunca apresentada como algo de sublime, de ambíguo e de geral; este estilo de falar dela convém justamente à mentira”, escreveu o poeta e dramaturgo alemão, em um texto de 1934, com o qual conclamava os escritores a lutar contra o fascismo. O futuro da democracia depende disso.
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
HQ questiona o mundo oco e sem sentido das redes sociais
Quadrinhos: Unfollow, de Rob Williams e Michael Dowling
Collectors Room
Para que servem as redes sociais? Entre as várias respostas possíveis, a integração e aproximação entre as pessoas certamente está cada vez mais distante. Já a criação de personagens (ou máscaras) virtuais que contrastam com o verdadeiro eu de cada indivíduo surge como uma tendência (ou seria uma espécia de sociopatia?) que cresce mais e mais a cada dia.
Este e outros pontos são explorados com brilhantismo pelo roteirista Rob Williams (A Realeza: Os Mestres da Guerra) em Unfollow, série da Vertigo que a Panini está iniciando a publicação aqui no Brasil. Lá fora, Unfollow já tem 18 edições reunidas em três encadernados. 140 Tipos, o primeiro a sair no Brasil, vem com as seis primeiras em uma edição com 148 páginas, capa cartão, papel LWC e formato 17x26.
A trama imaginada por Williams soa como uma espécie de experimento de Stanford desses tempos estranhos onde a internet parece resumida a apenas uma ferramente para acessar redes sociais. Larry Ferrell é um jovem brilhante e bilionário, com apenas 24 anos, e que sofre de um câncer terminal. Ele é o criador de uma rede social gigantesca, e resolve dividir a sua fortuna entre 140 usuários desta rede escolhidos aleatoriamente através de um aplicativo. Só que tem um detalhe: os mais de 18 bilhões de dólares de Ferrell serão divididos igualmente entre os selecionados. Mas, se um morrer, a divisão passa a ser entre 139 pessoas, 138, 137 ... e assim por diante. Ou seja: é um teste não apenas para a ambição de cada indivíduo, mas sobretudo uma gigantesca prova de caráter coletiva.
E os personagens criados por Williams exploram os estereótipos tão comuns presentes nos Facebooks e Twitters da vida. Temos o garoto deslumbrado, a patricinha maluquinha, o profeta salvador e assim por diante. A arte de Dowling é primorosa, com um traço meio sujo e que casa como uma luva com o texto de Williams.
A leitura de Unfollow faz surgir várias perguntas. E ela possui várias camadas, é preciso admitir. Enquanto referências mais óbvias como o perfil dos participantes estão escancaradas, outras mais sutis como as máscaras que vão ruindo pela convivência interpessoal dos perfis virtuais podem passar batido pelos mais desatentos.
Unfollow é excelente, e bebe na fonte das questões abordadas pelo seriado Black Mirror, por exemplo, levantando dúvidas e perguntas sobre o que a tecnologia anda fazendo com essa imensa massa de manobra chamada humanidade.
Leia, pois é incrível.
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
Unfollow - 140 Tipos
“Os autores criam uma saga que mistura A Rede Social e Battle Royale, e que merece muito a sua atenção.” - IGN
“Provocativa, linda e atual.” - Brian Azzarello, cocriador e roteirista de 100 BALAS
“Choca, causa arrepios e vicia. UNFOLLOW é sua nova série favorita, mesmo que você ainda não saiba disso.” - Big Comic Page
“Williams, Dowling e Winter criaram algo acessível que é intrigante e prende o leitor.” - Comic Vine
140 PESSOAS. 18 BILHÕES DE DÓLARES. NENHUMA REGRA.
Larry Ferrell inventou uma rede social revolucionária que conecta a vida de milhões de pessoas - e que o tornou um dos homens mais ricos do mundo. Mas o recluso fundador da Headspace está morrendo e decidiu doar a fortuna que acumulou para 140 usuários aleatórios.
Saídos dos mais diversos recantos do globo, os vencedores da maior loteria da história foram levados até a ilha privativa de Ferrel para conhecer os perturbadores termos de sua nova riqueza: os 18 bilhões foram divididos igualmente entre todos, mas, se qualquer um deles morrer, o dinheiro será redistribuído entre os sobreviventes.
E assim começa o último e mais ambicioso projeto de engenharia social de Ferrel, um vasto experimento feito para revelar a verdadeira natureza da humanidade.
E com ele também começa a contagem regressiva da vida de 140 pessoas.
UNFOLLOW, a aclamada nova série Vertigo do escritor ROB WILLIAMS (A REALEZA) e do artista MIKE DOWLING (Death Sentence), com arte também do desenhista convidado R.M. GUÉRA (ESCALPO), penetra na criptografia acumulada da civilização para hackear a sociedade até o seu cerne em UNFOLLOW: 140 TIPOS. Tradução: Érico Assis.
#NasBancas
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
Biblioteca de SP cria clube de leitura com apoio das redes sociais
A Biblioteca de São Paulo (Av. Cruzeiro do Sul, 2.630 - São Paulo / SP) vai realizar uma atividade inédita a partir deste mês. Trata-se do Clube de leitura para jovens, que contará com o auxílio de blogs e redes sociais para incentivar o hábito de ler e aproximar o público teen da literatura. Serão realizados quatro encontros presenciais de agosto a novembro. No primeiro, que acontece no dia 26, das 14h30 às 16h30, será apresentado o livro Os meninos da biblioteca, do escritor João Luiz Marques, que também será o mediador das oficinas na biblioteca. Após cada encontro, a oficina continua na internet, porém, com mediação do personagem fictício Heitor, que acaba de completar 14 anos e de tanto gostar de ler recebeu o apelido de Le (de leitor). O bate-papo é pelo blog do Le-Heitor. Lá, será possível tirar dúvidas e pegar dicas de livros. O trabalho inédito realizado na Biblioteca de São Paulo é uma atividade de fomento à leitura e formação de novos leitores juvenis que demonstra o crescimento desse nicho. As inscrições para o clube devem ser feitas até 11 de agosto pelo e-mail agenda@bsp.org.br ou pessoalmente no balcão de atendimento da instituição.
terça-feira, 30 de maio de 2017
O ócio e o silêncio versus a tecnologia
Em meio a um contínuo processo de assimilação dos recursos digitais, os danos provocados pela aceleração massiva e pela recusa ao tempo de introspecção já são perceptíveis
A autoimposição de “ser produtivo” marca a existência dos indivíduos nas grandes cidades. A calma das palavras e o ouvir o outro com atenção são comportamentos e gestos que se tornaram pouco importantes. Clichês como “o tempo urge” ou “tempo é dinheiro” pertencem à dimensão produtiva da vida. Por outro lado, também servem como desculpa para o adiamento do descanso, do ócio e do contato consigo próprio. A tecnologia que invade o cotidiano e o progresso material podem ser antagonistas do tempo para o nada fazer, o tempo da preguiça. Afinal, qual o lugar do ócio nos dias atuais?
Se a produtividade está no centro da vida dos habitantes dos centros urbanos, a inaptidão à quietude - verborragia, em oposição ao silêncio - é uma marca comportamental dos indivíduos. A falação tomou conta da realidade e passamos a nos importar com o que não importa. As redes sociais simbolizam um tipo de cacofonia, todos dando opiniões e falando ao mesmo tempo sem a capacidade de ouvir (ler) o outro. As mídias sociais também impossibilitam o estar só consigo mesmo, já que as pessoas estão conectadas dia e noite. O tempo para o vazio e para a solidão já não existe. Disso tudo, resta compreender qual é a relevância do silêncio para a reflexão e para a fala no mundo contemporâneo.
EU VIA, MAS NÃO SABIA O QUE VIA
Adauto Novaes, filósofo, diretor do Centro de Estudos Artepensamento, que em 2016 celebrou três décadas de suas séries anuais de conferências, organizou duas coletâneas de ensaios, Mutações - O elogio à preguiça e Mutações - O silêncio e a prosa do mundo, ambas voltadas ao pensamento sobre a preguiça e o silêncio. Em entrevista à Revista da Cultura, ele afirma que, para entender o sentido que o ócio (preguiça) e o silêncio têm, convém situá-los no momento atual: “Vivemos não em estado de crise, mas em uma mutação em todas as áreas da atividade humana: nos costumes, nas mentalidades, na ética, na política, na linguagem e, principalmente, nas ideias de espaço e tempo, tudo isso produzido pela revolução técnico-científica, biológica e digital. O silêncio e a fala, o trabalho do pensamento e a função da preguiça no trabalho do pensamento também estão sendo afetados por essa mutação”.
O filósofo explica que “a negação da ideia de duração a partir do domínio do veloz e do volátil, em todas as áreas hoje”, é fundamental para abordar a paciência (preguiça) e o silêncio. Novaes confere certa “materialidade” a essa ideia quando aborda a criação artística e intelectual em contraste com as plataformas digitais de difusão de conteúdo. “Uma pesquisa recente calculou que os usuários passam 1 bilhão de horas por dia no YouTube, e esse número tende a aumentar. Outra pesquisa revela um aumento exponencial de palavras faladas a partir da invenção das novas tecnologias digitais. O que isso significa? Sabemos que as criações de obras de arte e de obras de pensamento exigem tempo e hoje a velocidade abole todo o trabalho de criação. Elas exigem paciência e silêncio. A maneira pela qual a grande maioria lida com os novos meios é suspeita. A relação entre a suposta consciência e o objeto apresentado é feita sem a mediação do pensamento, ou melhor, sem o tempo que todo pensamento pede. A relação entre a suposta consciência e a coisa apresentada leva a certezas simples e imediatas. Os clássicos citam sempre uma velha máxima: ‘Eu via, mas não sabia o que via’. Ver (ou ler) apenas não basta, é preciso tempo para pensar o que se leu e se viu”, enfatiza ele, que ao longo dos 30 anos de conferências que idealizou (a partir de 2006, Ciclo Mutações) escreveu mais de 800 ensaios, todos publicados em livros.
“Estamos sendo comandados por formas de relacionamento com o mundo, sem pensamento e sem saber. Não se sabe o que se lê e não exagero quando digo isso. Li há pouco uma matéria que me impressionou muito. Como se não bastasse a rapidez e a volatilidade do mundo em que vivemos, surge agora a criação de aplicativos para acelerar não só os programas de TV, mas também a leitura, o que os criadores dessa coisa esquisita chamam de ‘smart speed’, que acelera 1,5 vez a velocidade do áudio. ‘Cortar pausa entre palavras’, como propõe a nova forma de leitura, é destruir o sentido de cada palavra: agindo assim, jamais vamos dar sentido aos conceitos de liberdade, preguiça, silêncio, prosa, mundo, substância, pensamento, espaço, tempo, memória, vida, etc.”, conclui o filósofo.
A CONCORRÊNCIA
É comum elegermos os celulares e as redes sociais como concorrentes do ócio e do silêncio. Em tempos de realidade mediada pela tecnologia, os dispositivos digitais criam para os indivíduos um “ecossistema” viável para sua existência virtual. Em entrevista, Adriano Duarte Rodrigues, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa e um dos nomes mais importantes no estudo das ciências da comunicação de Portugal, alerta para o fato de se colocar as redes sociais e os celulares como vilões: “Tal postura deriva de uma das características da cultura, a tecnofobia, que é o nome que se dá ao medo dos dispositivos técnicos quando são inventados, antes de estarem assimilados na experiência das pessoas. Foi o que aconteceu com a invenção da escrita, da imprensa, do rádio e da televisão quando surgiram. As pessoas utilizam as redes sociais tanto para combaterem a solidão como para evitarem estar com os outros face a face. Como vê, não se pode generalizar”.
Mirian Goldenberg, antropóloga e escritora, diz o seguinte sobre a tecnofobia: “Não gosto muito dessa expressão porque impede você de fazer qualquer tipo de crítica a um fenômeno social importante hoje, que é o uso dos celulares, da internet, do Facebook e do Instagram. O fato de eu ser crítica - e sou - não significa que tenho qualquer tipo de fobia à tecnologia”. Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colunista do jornal Folha de S.Paulo, ela destaca algo que pode ser observado na existência virtual ou concreta da população, o narcisismo. “As pessoas estão muito autorreferidas, elas já têm sua opinião e a defendem violentamente, têm pouca paciência para ouvir opiniões, mesmo que semelhantes. As pessoas estão voltadas para seu celular, falando via WhatsApp ou postando no Facebook, e, além de tudo, o que mais me deixa desanimada é ver a falta de interesse pelos outros.”
Os resultados de uma realidade invadida pela tecnologia e de um campo comunicacional acelerado e causador de ruídos operam na contramão da paciência, do ócio e do silêncio. Novaes reflete e coloca questões a esse respeito: “O pensamento é uma paixão do intelecto, insensível às exigências apressadas. De que vale ter tanta informação se o leitor não tem tempo para combinação, compreensão e invenção? Como enfrentar o enigma do mundo sem recorrer ao silêncio, que dá sentido às palavras? O que resta no mundo da parlapatice e da busca da rapidez a não ser o legado de miséria intelectual? A conclusão a que chegamos é que resta pouca coisa, ou quase nada. A tarefa da linguagem, no sentido forte e originário do termo, não consiste em satisfazer necessidades de ordem prática. Não seria função da linguagem expressar o jogo supremo das mutações das ideias, formar pensamentos até então desconhecidos?”.
Existe uma relação direta entre uma vida preenchida por atividades - que acabam invariavelmente nas redes sociais - e a rejeição do “tempo vazio”, da solidão. Na opinião de Mirian, “essa verborragia é um retrato do nosso tempo. Pelo menos da grande maioria das pessoas que estão conectadas, mas também das que não estão; chega a ser um ‘me, me, me’, ‘eu, eu, eu’. Sofremos uma influência muito grande dos Estados Unidos e de toda essa revolução cultural da internet, e nesse contexto o ócio é associado a um fracasso. O que você vai postar no Facebook se não está fazendo absolutamente nada, se você está simplesmente olhando para a paisagem ou dormindo? O que é complicado para a nossa cultura atual é viver o vazio. Você precisa sempre estar preenchendo o vazio com alguma coisa, que é para curtir. A curtida do Facebook não é só uma curtida, é uma forma de reconhecimento”.
Para a antropóloga, autora de obras como Velho é lindo! e A bela velhice, à medida que as pessoas envelhecem, o tempo passa a ser um capital. “Até os 40 anos, você não tem a noção de que seu tempo vai embora, porque você acha que vai viver muito. Você gasta muito tempo para agradar, para satisfazer as demandas externas, por vaidade, porque você quer que todo mundo te ame. Ou então fazendo um trabalho que você odeia porque quer ganhar dinheiro. Seu tempo não é seu principal capital. Quando você começa a se aproximar dos 60 anos, pode ser antes, o tempo passa a ser uma riqueza. ‘Antes o tempo era para os outros, agora o tempo é para mim. Sou a principal interessada no meu tempo.’ Com essa revolução, o tempo passa a ser voltado para coisas que realmente dão significado a sua vida.”
Embora sejamos seres sociais, a solidão é inerente ao ser humano e todos iremos desaparecer um dia, como salienta o professor português Adriano Duarte Rodrigues: “não devemos esquecer que, ao contrário das outras espécies, os seres humanos são animais solitários porque têm como horizonte fatal sua experiência solitária da morte. É essa experiência da solidão que alimenta as relações que as pessoas estabelecem umas com as outras e que define sua natureza social”. Ainda que existam disputas simbólicas entre tecnologia, ócio e silêncio, esses elementos se fazem presentes na vida dos indivíduos. De maneira a subverter a técnica, a velocidade acelerada do digital e o “ser produtivo”, vez ou outra pode ser agradável evocar a preguiça e o silêncio, e refletir sobre nosso bem-estar e sobre nossas relações com as pessoas e com o mundo.
segunda-feira, 29 de maio de 2017
Rede social e saúde
Há o elemento da autoestima, da constante comparação a conhecidos ou estranhos
Lúcia Guimarães | O Estado de S.Paulo
Você fica contente quando curte uma postagem no Facebook? Tem certeza? Não sou especialista, porque limito o tempo que passo no quintal do Zuckerberg, com seus dois bilhões de usuários ativos. Mas também não fiquei surpresa com o resultado de um estudo publicado numa revista acadêmica americana de epidemiologia. Durante dois anos, Holly Shakya, especialista em saúde pública da Universidade da Califórnia, e Nicholas Christakis, pesquisador da Universidade de Yale, monitoraram 5.208 adultos em dois aspectos: vida social e saúde mental. Descobriram que, quanto mais tempo passavam no Facebook, maior a deterioração do seu bem-estar.
O estudo foi rigoroso e envolveu dados colhidos pelo Instituto Gallup. Além de compartilhar informação sobre o tempo que passavam na rede social, os pesquisados revelaram dados sobre interação social e saúde.
Quanto mais tempo a pessoa usava o Facebook, não importa se curtindo ou não postagens, pior se sentia. De acordo com dados fornecidos pelo Facebook, os usuários passam lá, em média, uma hora por dia. Outras pesquisas revelam alto número de usuários que consultam uma conta de mídia social antes de levantar da cama. Não se trata apenas de estimular o sedentarismo e aumentar o sentimento de isolação por substituir a interação pessoal. Há o elemento da autoestima, da constante comparação a conhecidos ou estranhos. Como a tendência é o internauta apresentar a autoimagem mais positiva possível online, os parâmetros de comparação se tornam distorcidos. Se, no convívio pessoal é mais difícil idealizar o outro, quanto mais se transfere a vida social para a rede, maior a criação de expectativas exageradas e a sensação de fracasso por não satisfazê-las.
Há quem interprete dados como o do estudo de Shakya e Christakis de outra forma. As pessoas com maior tendência à depressão e com autoestima mais baixa passariam mais tempo na rede social, ou seja a rede social apenas exacerba uma tendência preexistente. E, sim, há estudos que veem a mídia social como fonte de reafirmação e apoio na comunidade.
quarta-feira, 5 de abril de 2017
Livro, um objeto de riqueza inesgotável
Em entrevista à FaustoMag, o crítico literário Rodrigo Gurgel fala sobre leitores em redes sociais e leitura digital:
Redes sociais podem ser consideradas bons espaços para a formação de um leitor?
Não. Uma rede social é apenas o que seu próprio nome expõe: um entrelaçado de relações sociais que se formam e se desfazem no contexto de diferentes espaços virtuais. São ótimas redes de comunicação, de troca de ideias. Mas são ótimas também para desviar nossa atenção e impedir que nos tornemos bons leitores, que leiamos o que realmente importa.
É uma batalha inglória a das livrarias contra os sites de download gratuito de livros?
Não creio. O livro assumiu, em nossa cultura, um papel crucial — e mantemos com ele uma relação sensorial e, ao mesmo tempo, de confiança no seu poder de preservar a cultura e abrir, de forma constante, novas perspectivas de estudo, de conhecimento. Eu próprio utilizo diferentes aparelhos para leitura de e-books, mas o contato com o livro permanece insuperável — em termos de prazer, de facilidade de acesso e de indexação do conteúdo estudado. Considero o livro um objeto de riqueza inesgotável.
Leia a entrevista na íntegra, aqui: http://bit.ly/2oFRPKM
terça-feira, 4 de abril de 2017
Eles são desconectados por opção mesmo em tempos de internet
País em que, segundo as estatísticas, o número de aparelhos celulares chega a ser maior do que o de habitantes; onde mais da metade da população tem acesso à internet, e um contingente de proporções gigantescas mantém contas em redes sociais, há pessoas que não aderiram ao uso da tecnologia digital. Eles não gostam (até porque não se consideram) de ser chamados de "desplugados", "alienados". São, por assim dizer, refratários conscientes à aplicação das ferramentas hoje disponibilizadas. Mais do que isso, não criticam e respeitam a opção daqueles que incorporaram o emprego dos dispositivos, programas e aplicativos à rotina.
Professora, Cássia Nascimento cultiva um hábito do qual muitos abriram mão por conta da evolução tecnológica: ela escreve cartas à mão. Destaca, no entanto, que faz isso em ocasiões especiais e que mantém conta em correio eletrônico. Na prática, Cássia costuma, ainda que com menos frequência, enviar cartões às pessoas com quem se relaciona.
Explica que o gesto denota mais pessoalidade e consideração. "Escrever de próprio punho é um gesto de carinho, demonstra o quanto gostamos de alguém." Até por praticar esse conceito, Cássia procura transmiti-lo aos alunos. "É curioso, mas as crianças com quem trabalho entendem e até gostam de se corresponder assim também. Claro, elas convivem com as mesmas ferramentas, usam os mesmos dispositivos, mas sabem valorizar outras formas de expressão, como os cartões."
Cássia também não mantém página em rede social. "Não vejo necessidade. Acho que o espaço poderia ser melhor aproveitado, mas respeito a escolha de quem usa. Até para não me expor e discutir assuntos que pouco acrescentam, prefiro ficar distante, o que não me impede de me manter informada e acompanhar tudo o que acontece."
Sem internet para as crianças
Na casa do fotógrafo Luiz Antonio Setti de Almeida o uso da internet foi abolido. Pai de seis filhos, ele entendeu que a medida foi a mais indicada para evitar que as crianças tenham acesso a conteúdos impróprios e entrem na zona de conforto que leva muitos a não estudarem. Além disso, Setti aponta a distância do vício de ficar o tempo todo plugado como fator que levou em conta para adotar a postura.
Ele não considera que a decisão tenha sido radical, menos ainda usou de arbitrariedade. "Conversei e expus para eles as razões e tudo correu sem problemas. Existe o tempo certo para usar a internet. Eles têm jogos como qualquer criança, mas optamos por controlar esse comportamento."
Com isso, Luiz Setti conseguiu liberar os filhos do uso excessivo da rede mundial de computadores. Não fosse por tudo isso, ele mantém em casa um acervo de livros que são consultados para trabalhos escolares. "Aqui, eles podem estudar e desenvolver na prática o aprendizado. Hoje, ficou muito fácil e cômodo para os adolescentes fazerem lição e outras tarefas. Basta digitar no buscador, e o dever aparece pronto. Isso não agrega conhecimento algum."
De precursor a desconectado
O psicoterapeuta e escritor José Carlos de Campos Sobrinho teria motivos de sobra para utilizar ferramentas tecnológicas, se assim o quisesse. No começo dos anos 90, quando a internet era aplicada em escala bem menor (na realidade, apenas para fins específicos; a "estreia" propriamente dita ocorreria em 1995), ele foi surpreendido com um presente dado por sua sobrinha: um modem.
"Zeca", como é mais conhecido, foi praticamente um precursor no uso da rede mundial de computadores mas as coisas pararam por aí. Hoje, em tempos de plena efervescência digital, não usa celular, nem mantém perfil nas redes sociais. Possui uma conta de e-mail da qual se socorre esporadicamente apenas para aquilo que julga essencial.
Sobre o telefone, aliás, ele conta outra curiosidade: quando clinicava, costumava portar um BIP, nome dado ao dispositivo eletrônico pelo qual era contatado. O aparelhinho, que José Carlos chama de "avô do celular" porque antecedeu à tecnologia dos telemóveis, era acionado por uma rede de transmissões via rádio. Muito popular lá pelos idos de 70 e 80, hoje não passa de recordação.
Como, então, o personagem desta matéria se comunica? "Eu falo", responde ele de pronto para zoar com o repórter. Fala, gesticula, acena, emite sinais, recorre a códigos, mas não usa celular. "Quem precisa me contatar, liga para minha casa ou para o consultório. Não faz a menor falta", acrescenta. José Carlos está longe de ser um desplugado, não critica, menos ainda patrulha aqueles que não sabem viver sem a parafernália eletrônica. "Só entendo que não preciso somar com a maioria."
O entrevistado aponta inconvenientes provocados pela onda digital. "Hoje, se o jovem sai de casa, é contatado pelo telefone e não atende, acaba estabelecendo o desespero entre seus pais." Em relação à rede social, José Carlos, considera que esses ambientes pouco ou quase nada agregam. "Na verdade, se alguém fizesse um mapeamento criterioso, descobriria que mais de 90% daquilo que é postado não faz o menor sentido. Quando uma pessoa coloca ali algo que sabidamente não está correto, que ultrapassa a barreira do absurdo, por mais incrível que possa parecer, a besteira é amplificada. São centenas de curtidas, de compartilhamentos e a ignorância ganha espaço. Legal que Umberto Ecco tenha dito que a internet é o espaço que deu voz aos imbecis."
O escritor aponta a intolerância como outro fator que faz da rede social um campo de batalha, um ambiente que dissemina o ódio. José Carlos diz que tudo do que precisa são os livros que compõem o acervo da biblioteca instalada em seu consultório. "Eles me mantêm mais atualizado. E sempre."
Conectividade em excesso pode aumentar a ansiedade e gerar depressão nos usuários
Por que num cenário de predominância dos recursos tecnológicos ainda existe quem relute ou prefira não se integrar a essa onda? Como explicar que muitos não usem telefone celular, correspondam-se por meio de cartas, ou ignorem o WhatsApp e outros meios de interatividade?
Com a palavra, o professor de Mídias Digitais da Universidade de Sorocaba (Uniso), Wilton Garcia, segundo quem "há diversas maneiras de usufruir das tecnologias emergentes sem necessariamente ficar refém delas." Não há, ele acrescenta, uma obrigação de se adquirir telefone celular, por exemplo.
"É preciso ficar atento aos desafios de (re)considerar o apelo publicitário do mercado de tecnologias e a alarmante cultura digital. Esta última traz benefícios (comunicação, informação, etc.), mas também malefícios (ansiedade, depressão, etc.). A lógica do imediatismo e da dependência informacional deixa muita gente descontrolada para acessar, a todo instante, as redes sociais. E, depois, o que fazer com esses dados, que são rapidamente descartáveis?"
Garcia diz que não existe uma demanda única na vida. "Importante é o bem-estar. Por isso, a felicidade está em várias experiências contemporâneas distintas, sem a necessidade absurda de fazer parte, de modo tão radical, da vida alheia com o uso da internet. Estar livre de situações embaraçosas, por exemplo, pode ser uma justificativa plausível para se viver bem, sem atropelos."
"Todavia, nas redes sociais, interessam somente os números de seguidores, clicks ou likes. Por isso, a condição humana apenas ilustra como temática dos debates virtuais, espaço de agenciamento/negociação de uma representação numérica qualquer cujos dados formatam uma anotação sistêmica na dinâmica tecnológica."
A leitura do especialista permite comparar o ambiente virtual àquilo que Shakespeare chamou de "um infinito de nadas". Embora muitos não se deem conta, a interação na era digital é quase nenhuma.
Invasão de privacidade
Outro aspecto a ser considerado em se tratando do uso da tecnologia nesse contexto está relacionado à onda de ataques discriminatórios virtuais que fez muita gente reconsiderar e se desplugar da rede. Wilton Garcia diz que eles, os ataques, "são formas inadequadas de pensar sobre as relações humanas. As pessoas (o usuário-interator) confundem muito entretenimento com informação. Isso são instâncias distintas, mas provocam sérios problemas". Nas redes sociais, ele continua, as pessoas sentem mais liberdade de pronunciar o que não devem, porque estão distantes.
Por outro lado ainda, é sabido que o acesso à internet e o uso de telefone celulares não garantem a privacidade. Para o estudioso, "vida pública é o oposto da vida privada". "No contemporâneo, o público predomina mediante a exibição da vida cotidiana. Há enorme dificuldade de se manter a privação da vida, uma vez que é comum a vontade de se tornar celebridade (ou famosos), além do complexo sistema de vigilância virtual, em que as pessoas são expostas, e exibidas quase como mercadorias.
via José Antonio Rosa | Jornal Cruzeiro
O que o Facebook sabe sobre você (mesmo que você não queira)
A rede social sabe se você terminou um namoro, por onde você caminhou durante o dia e ainda pode lhe oferecer anúncios condizentes com sua faixa de renda
Daniela Simões, Giovanna Wolf Tadini e Paula Soprana | Época
Facebook e Google são exemplos de companhias que oferecem "serviços gratuitos" que se tornaram cruciais na vida de boa parte dos usuários de internet. Para ter acesso irrestrito às facilidades propostas por esses sites, a moeda fornecida são os dados pessoais. As informações de cada usuário cadastrado são vendidas a outras empresas em troca de verbas bilionárias de publicidade. Quanto mais serviços essenciais são criados, maior a demanda por dados. Quanto mais detalhes individuais são fornecidos, mais dinheiro as companhias ganham. Só que há um balanço saudável nessa relação de troca: é preciso haver transparência e respeito à privacidade. Nesse sentido, essas gigantes deram algumas escorregadas nos últimos anos, em especial o Facebook, com 1,8 bilhão de usuários ativos no mundo.
Por exemplo, você pode revelar ao Facebook seu status de relacionamento. Pode dizer se está solteiro, em um relacionamento sério ou casado (e indicar com quem). Pode também optar por não dar essa informação à rede social e deixar o campo em branco. Em uma relação saudável, a empresa respeitaria a opção. Na prática, o Facebook tenta descobrir essa informação (afinal, é valiosa para outras empresas que anunciam na plataforma) a partir dos rastros digitais de cada um processados por um algoritmo. Dependendo do que você conversa no Messenger, dos perfis e das páginas que passa a visitar, o algoritmo supõe, por exemplo, que você se separou ou começou a namorar. O mesmo vale para sua localização geográfica, sua faixa de renda e uma série de informações que, ainda que o usuário não queira compartilhar, ficarão à disposição.
O Facebook age de modo ilegal? Até que haja uma legislação geral para o tratamento de dados pessoais no Brasil, não. Todas as práticas constam nos termos de uso, aqueles que ninguém lê. Do ponto de vista moral, é de esperar que a empresa não use uma informação que você explicitamente tenta ocultar de seu perfil. Com base nisso, criamos uma lista de informações que o Facebook consegue detectar, querendo o usuário ou não:
1. Que você terminou um relacionamento (mesmo que não tenha alterado o status)
É possível expressar publicamente se você namora alguém, está solteiro, casado ou em um relacionamento aberto. O problema é que, mesmo que você decida não fornecer essa informação em seu perfil, o Facebook consegue supor. Ele cruza dados de suas buscas e da interação com outros usuários na rede e, assim, traça um perfil. Por exemplo: Joana se divorciou, começou a receber convites de balada dos amigos, a interagir com pessoas novas que, por sua vez, utilizam aplicativos de paquera. O Facebook deduz que os interesses de Joana mudaram e ela passa a integrar um grupo de consumo novo. Assim, anúncios do Tinder e do Happn começam a surgir em sua página pessoal.
2. Qual a sua renda estimada
O Facebook cruza uma base de dados genérica sobre a distribuição de renda de um local fornecida por uma empresa (no Brasil, trata-se do grupo Experian) com sua própria base de dados. A rede sabe, por exemplo, que em determinada região há 20% de habitantes pertencentes à classe A. O Facebook então, com base em curtidas de páginas, busca por produtos e serviços e locais que o usuário frequenta, enquadra os usuários naquela faixa econômica aproximada. Isso se traduz em publicidade direcionada. Por exemplo: um anunciante de uma TV de luxo não terá interesse em alcançar usuários com uma renda estimada em dois salários mínimos. O problema? O uso de informações que não concordamos em fornecer (mesmo que a identidade seja preservada ao anunciante) e o risco da segregação, afinal, muitas campanhas na rede social vão além da mera propaganda "compre agora" e poderiam interessar a grupos socioeconômicos que foram excluídos do direcionamento.
3. Por onde você caminha ao longo do dia
Mesmo com o GPS do celular desativado e sem permitir o acesso do Facebook à sua localização, a rede social consegue detectar por onde você andou a partir de sua conexão a alguma rede sem fio. O usuário não tem a opção "Não ser rastreado". Se você já cruzou com um mesmo usuário em diferentes locais, tem amigos em comum e interesses semelhantes, é grande a chance de o algoritmo do Facebook cruzar informações para sugerir que você adicione a pessoa na rede social, mesmo que seja um completo anônimo.
4. Os produtos que você quer comprar
Não é teoria conspiração quando você pensa em um produto e um anúncio de uma marca relacionada a ele surge em sua timeline. Muitas vezes, nesse processo de "pensar sobre um produto", digitamos uma palavra-chave relacionada a ele na busca ou mencionamos em algum comentário. Esse rastro é identificado pelo Facebook, que oferece um sofá, um batom ou um destino turístico, por exemplo, logo depois de você mencioná-lo a algum amigo. Alguns usuários relatam que, só de mencionar um produto verbalmente, o Facebook já oferece um anúncio relacionado na rede social. Para isso, a empresa precisaria captar e processar áudios de conversas ocorridas próximas ao celular. Não há confirmação de que o Facebook adote tal prática.
5. Quem são seus amigos mais próximos
A partir da quantidade de interações na rede (mensagens, publicações na timeline e marcações de fotos) e de informações explicitamente fornecidas pelos usuários, o algoritmo detecta os laços de amizade e a intensidade das relações entre dois perfis. A identificação facial nas imagens é usada também como um sistema proteção da rede para confirmar se determinado usuário é o detentor de uma conta. Isso pode acontecer quando você errar sua senha repetidas vezes ou conectar de um dispositivo desconhecido.
6. Quem você adiciona no WhatsApp
O grupo Facebook é dono do aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp e do aplicativo de imagens Instagram. Parte de suas atividades nessas redes é compartilhada com o Facebook. Se um número é adicionado no WhatsApp, a sugestão de amizade com o detentor desse número será quase instantânea em outra rede social do grupo. O fato de uma conta no Facebook não estar vinculada a um número de WhatsApp, por exemplo, já gera um alerta ao Facebook de que esse perfil pode ser falso. Uma relação meramente profissional, por exemplo, que inclui conversas de WhatsApp, quase automaticamente vira uma sugestão de amizade.
7. Qual é a velocidade de sua banda larga
Com o auxílio da localização do usuário, o Facebook pode detectar o padrão médio de banda larga de uma região. Se João está no bairro paulistano Itaim, por exemplo, é fácil extrair a média de conectividade daquela região específica.
8. Qual é seu modelo e versão de celular, tablet ou computador
A partir do momento que você instala o aplicativo do Facebook em seu dispositivo ou acessa algum de seus serviços, a rede social tem acesso a informações sobre seu sistema operacional, bateria, nomes e tipos de arquivos, softwares utilizados no aparelho, nome da operadora de celular, informações de conexão e localização geográfica. Esses sinais parecem irrelevantes, mas dão dicas sobre seu poder aquisitivo e de consumo.
terça-feira, 21 de março de 2017
"O uso pesado das mídias sociais começou a criar ansiedades"
Orkut Buyukkokten, criador do famoso Orkut, fala sobre as mudanças no comportamento social com a 'vida online'
por Mariana Zirondi | Propmark
Uma rede social baseada no amor e não nos likes. Essa é a proposta de Orkut Buyukkokten, fundador da rede social que leva seu nome, para a recém-criada Hello. O objetivo, basicamente, é construir relações fundamentadas nas paixões, unindo pessoas em ‘comunidades’, que ficaram muito populares no extinto Orkut. Os sentimentos verdadeiros, inclusive, fazem parte do discurso do executivo, que analisa como a internet mudou as relações humanas e substituiu o ‘olho no olho’.
Orkut Buyukkokten aposta na rede social Hello para melhorar as relações humanas
O Brasil tem uma visão realista sobre ele mesmo, afirma Buyukkokten. Expressividade, receptividade e amizade são características apontadas pelo executivo que ajudam os usuários brasileiros a transferir o comportamento offline para a ‘vida online’. Além disso, o país tem abertura às novas tecnologias e são ‘early adoptors’.
“Nosso mundo está mais conectado que nunca, porque se tornou fácil estar ligado a milhões de pessoas ao mesmo tempo. Tudo está ao nosso alcance e, infelizmente, o uso pesado das mídias sociais começou a criar ansiedades e depressões nas nossas vidas. Na maioria das vezes, nos escondemos atrás das nossas telas e assistimos a feeds de destaques, evitando interagir com as pessoas cara a cara”, afirma Buyukkokten.
Como resultado, segundo ele, as pessoas ficam mais solitárias e infelizes do que nunca. Afinal, conhecer alguém pessoalmente ou ter experiências reais é o que aproxima e conecta. O medo de expressar a autenticidade e a personalidade criada no ambiente online podem estar construindo barreiras. Como consequência, se torna muito difícil encontrar intimidade, companheirismo e amor no mundo real.
"Existem centenas de aplicativos e sites que prometem nos ajudar a fazer amigos e encontrar o amor, mas ainda há muito ódio no mundo e estamos sozinhos. Me entristece ver que, com todos os avanços em tecnologia e software, estamos mais solitários do que nunca. O que compartilhamos online representa o que pensamos e o que achamos que o mundo quer ver, e não realmente aquilo que temos por dentro. Quando não nos sentimos seguros, expressando nossos verdadeiros ‘eus’ online, nos isolamos ainda mais. Espero que o futuro da mídia social nos aproxime, nos conecte e crie um mundo melhor", diz Buyukkokten.
A rede social Orkut foi criada em 2004 com o nome de seu fundador. O objetivo inicial da rede era os Estados Unidos, mas a maioria dos usuários estavam localizados no Brasil e na Índia. Em solo brasileiro, foram conquistados mais de 30 milhões de usuários, mas a rede perdeu popularidade com o crescimento de seu principal concorrente, o Facebook. O Google, do qual a rede social era filiada, anunciou o seu fim no dia 30 de setembro de 2014, gerando comoção dos usuários brasileiros. No entanto, um ‘museu de comunidades’ foi criado e reúne mais de um bilhão de mensagens trocadas nos tópicos de discussão. Além disso, até 30 de setembro de 2016, os internautas puderam resgatar as informações armazenadas na rede social através da ferramenta Google Takeout.
Buyukkokten conta que o Orkut.com foi construído e pensado para uma geração diferente. Há um pouco mais de uma década, ele explica que o mundo estava vivendo, pela primeira vez, a exposição nas redes sociais. “Hoje em dia, as pessoas estão em vários serviços de mídia social ao mesmo tempo. Outra grande mudança nesse cenário foi a transição do desktop para os navegadores em smartphones e dispositivos móveis. Estamos sempre conectados, online e multitarefas, em múltiplas plataformas”, comenta.
Quando questionado sobre tendências para os próximos anos, os vídeos aparecem como a grande aposta de Buyukkokten para as redes sociais. A mobilidade vai viabilizar, cada vez mais, a produção de filmes e da experiência online relevante. “A mídias sociais são uma paisagem em constante evolução. É muito importante inovar e permanecer em contato com as novas gerações, atualizando os padrões de uso e usando a sensibilidade das comunidades. As redes sociais que não evoluem ao longo do tempo correm o risco de ficar desatualizadas ou irrelevantes”, diz.
Nesse contexto, o fim do Orkut para o seu fundador foi um ‘capítulo incrível da história’, mas uma experiência para outro tipo de geração. Com isso, a proposta da Hello se configura destinada a aproximar pessoas por suas paixões e expandindo as possibilidades a quem se conectar. O lançamento de Buyukkokten chegou ao Brasil em julho de 2016 e está presente em 13 países.
“Ela é a primeira rede social construída sobre ‘amores’ e não ‘likes’. Na Hello, estamos construindo um caminho mais fácil para fazer conexões, e tudo começa com um ‘Olá’. Um gesto simples e amigável pode ser o começo de algo novo e bonito. Estamos criando uma comunidade onde todos se sentem bem-vindos, incluídos, e não são julgados. Quando expressamos ou somos autênticos, em nossas paixões e interesses genuínos, seguimos pelo caminho do amor e da felicidade, que é a coisa mais importante que você poder ter nesse mundo”, esclarece.
por Mariana Zirondi | Propmark
Uma rede social baseada no amor e não nos likes. Essa é a proposta de Orkut Buyukkokten, fundador da rede social que leva seu nome, para a recém-criada Hello. O objetivo, basicamente, é construir relações fundamentadas nas paixões, unindo pessoas em ‘comunidades’, que ficaram muito populares no extinto Orkut. Os sentimentos verdadeiros, inclusive, fazem parte do discurso do executivo, que analisa como a internet mudou as relações humanas e substituiu o ‘olho no olho’.
Orkut Buyukkokten aposta na rede social Hello para melhorar as relações humanas
O Brasil tem uma visão realista sobre ele mesmo, afirma Buyukkokten. Expressividade, receptividade e amizade são características apontadas pelo executivo que ajudam os usuários brasileiros a transferir o comportamento offline para a ‘vida online’. Além disso, o país tem abertura às novas tecnologias e são ‘early adoptors’.
“Nosso mundo está mais conectado que nunca, porque se tornou fácil estar ligado a milhões de pessoas ao mesmo tempo. Tudo está ao nosso alcance e, infelizmente, o uso pesado das mídias sociais começou a criar ansiedades e depressões nas nossas vidas. Na maioria das vezes, nos escondemos atrás das nossas telas e assistimos a feeds de destaques, evitando interagir com as pessoas cara a cara”, afirma Buyukkokten.
Como resultado, segundo ele, as pessoas ficam mais solitárias e infelizes do que nunca. Afinal, conhecer alguém pessoalmente ou ter experiências reais é o que aproxima e conecta. O medo de expressar a autenticidade e a personalidade criada no ambiente online podem estar construindo barreiras. Como consequência, se torna muito difícil encontrar intimidade, companheirismo e amor no mundo real.
"Existem centenas de aplicativos e sites que prometem nos ajudar a fazer amigos e encontrar o amor, mas ainda há muito ódio no mundo e estamos sozinhos. Me entristece ver que, com todos os avanços em tecnologia e software, estamos mais solitários do que nunca. O que compartilhamos online representa o que pensamos e o que achamos que o mundo quer ver, e não realmente aquilo que temos por dentro. Quando não nos sentimos seguros, expressando nossos verdadeiros ‘eus’ online, nos isolamos ainda mais. Espero que o futuro da mídia social nos aproxime, nos conecte e crie um mundo melhor", diz Buyukkokten.
A rede social Orkut foi criada em 2004 com o nome de seu fundador. O objetivo inicial da rede era os Estados Unidos, mas a maioria dos usuários estavam localizados no Brasil e na Índia. Em solo brasileiro, foram conquistados mais de 30 milhões de usuários, mas a rede perdeu popularidade com o crescimento de seu principal concorrente, o Facebook. O Google, do qual a rede social era filiada, anunciou o seu fim no dia 30 de setembro de 2014, gerando comoção dos usuários brasileiros. No entanto, um ‘museu de comunidades’ foi criado e reúne mais de um bilhão de mensagens trocadas nos tópicos de discussão. Além disso, até 30 de setembro de 2016, os internautas puderam resgatar as informações armazenadas na rede social através da ferramenta Google Takeout.
Buyukkokten conta que o Orkut.com foi construído e pensado para uma geração diferente. Há um pouco mais de uma década, ele explica que o mundo estava vivendo, pela primeira vez, a exposição nas redes sociais. “Hoje em dia, as pessoas estão em vários serviços de mídia social ao mesmo tempo. Outra grande mudança nesse cenário foi a transição do desktop para os navegadores em smartphones e dispositivos móveis. Estamos sempre conectados, online e multitarefas, em múltiplas plataformas”, comenta.
Quando questionado sobre tendências para os próximos anos, os vídeos aparecem como a grande aposta de Buyukkokten para as redes sociais. A mobilidade vai viabilizar, cada vez mais, a produção de filmes e da experiência online relevante. “A mídias sociais são uma paisagem em constante evolução. É muito importante inovar e permanecer em contato com as novas gerações, atualizando os padrões de uso e usando a sensibilidade das comunidades. As redes sociais que não evoluem ao longo do tempo correm o risco de ficar desatualizadas ou irrelevantes”, diz.
Nesse contexto, o fim do Orkut para o seu fundador foi um ‘capítulo incrível da história’, mas uma experiência para outro tipo de geração. Com isso, a proposta da Hello se configura destinada a aproximar pessoas por suas paixões e expandindo as possibilidades a quem se conectar. O lançamento de Buyukkokten chegou ao Brasil em julho de 2016 e está presente em 13 países.
“Ela é a primeira rede social construída sobre ‘amores’ e não ‘likes’. Na Hello, estamos construindo um caminho mais fácil para fazer conexões, e tudo começa com um ‘Olá’. Um gesto simples e amigável pode ser o começo de algo novo e bonito. Estamos criando uma comunidade onde todos se sentem bem-vindos, incluídos, e não são julgados. Quando expressamos ou somos autênticos, em nossas paixões e interesses genuínos, seguimos pelo caminho do amor e da felicidade, que é a coisa mais importante que você poder ter nesse mundo”, esclarece.
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