quarta-feira, 15 de agosto de 2007

‘Biblioteca do futuro’disponibiliza 188 mil livros eletrônicos


Portal do Consórcio Cruesp coloca à disposição de 250 mil usuários das três unversidades paulistas obras de referência em todas as áreas do conhecimento

ÁLVARO KASSAB

A biblioteca do futuro está prestes a se tornar uma realidade nas três universidades estaduais paulistas. O consórcio formado pelos três sistemas de bibliotecas da USP, Unesp e Unicamp (leia texto na página 7) passa a contar com um acervo de 188 mil livros eletrônicos. Os títulos, a maioria voltada para a pós-graduação, abrangem todas as áreas do conhecimento. Pelo menos 250 mil usuários, entre docentes, pesquisadores e alunos, terão acesso a essa massa de e-books.

O projeto, idealizado pelo Consórcio Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas) Bibliotecas, foi viabilizado a partir de recursos da Fapesp no âmbito do programa FAP-Livros. Foram investidos US$ 2 milhões na aquisição de bancos de dados de livros eletrônicos. A cerimônia de inauguração do portal de e-books ocorrerá no próximo dia 22 de agosto, às 10h00, no auditório da Biblioteca Central da Unicamp.

“Trata-se do maior e mais atualizado acervo de e-books da América Latina”, informa o presidente do Cruesp e reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge. “Com essa conquista as universidades estaduais paulistas, que concentram metade da produção científica no país, colocam-se à frente do processo de disponibilização bibliográfica eletrônica no país”. O reitor ressalta que, no caso específico da Unicamp, esse processo já vem de vários anos, uma vez que detém a mais ampla biblioteca digital brasileira.

Uma diferença marcante em relação ao acervo tradicional, que continua indispensável, é que os livros eletrônicos podem ser acessados 24 horas por dia, conforme lembra o coordenador do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU), Luiz Atílio Vicentini. “Embora tenham sido adquiridas para as pesquisas na área de pós-graduação, as bases de dados poderão ser usadas da mesma forma por alunos de graduação e por interessados que se inscreverem no sistema”.

Vicentini destaca outras vantagens da consulta virtual, entre as quais a busca integrada, o fato de o livro poder ser acessado de qualquer máquina instalada nas instituições e a ausência de fila de espera para o empréstimo. Ademais, explica o coordenador do SBU, a racionalização de recursos é expressiva. “Um único e-book está disponível para as três universidades, sem a necessidade de compra de exemplares”, exemplifica.

A qualidade das coleções é outro ponto enfatizado pelo bibliotecário. Segundo Vicentini, os livros foram escolhidos com base em ampla pesquisa feita pelos integrantes do consórcio. Foram dois anos de trabalho, do planejamento à liberação dos recursos. “Adquirimos as principais obras em todas áreas. Os livros integram catálogos das melhores editoras internacionais. Foram agregadas também coleções de obras raras, como é o caso dos livros do século 18 da Biblioteca Britânica”.

Segundo o especialista, pelo acordo assinado entre o Cruesp e a Fapesp, o consórcio terá como contrapartida a manutenção, durante cinco anos, do portal de e-books. Depois desse período, o convênio será reavaliado. Vicentini calcula que cada uma das três universidades vai investir anualmente cerca de US$ 50 mil. Segundo ele, o custo não é alto. “Só para a assinatura de periódicos internacionais impressos, por exemplo, a Unicamp investe US$ 5 milhões/ano”.

A relação custo-benefício, segundo o especialista, é uma das grandes vantagens das bibliotecas virtuais. Vicentini lembra que não seria possível a implantação, em seis meses, como foi o caso do portal de e-books, de uma biblioteca convencional com 188 mil volumes impressos. “Só para efeito de comparação, a biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas [IFCH], que é a maior da Unicamp, inaugurada há mais de 30 anos, conta hoje com um acervo de 160 mil livros”.

USP – Adriana Ferrari, diretora técnica do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP, que é formado por 42 unidades, pondera que sua opinião pode estar “contaminada” pelo fato de ser uma das idealizadoras do projeto. A diretora acredita que o consórcio “deu um passo decisivo” na área de formação e desenvolvimento de acervos dos sistemas de bibliotecas. O formato digital, afirma a especialista, impulsionará outras iniciativas conjuntas.
Na opinião de Adriana, a aquisição de e-books, por exemplo, complementa uma etapa iniciada com a compra conjunta de bases de dados bibliográficas e textuais de periódicos de forma consorciada, tanto para a obtenção de melhores preços como também para atender o núcleo comum das três universidades. “Havia um gap. Não tínhamos nada relacionado a livro eletrônico. Conseguimos, com o projeto, tornar disponíveis obras de todas as áreas do conhecimento, 365 dias por ano, transcendendo as barreiras físicas”, afirma.
Adriana destaca ainda que o portal de busca, o Unibibliweb, adicionará as coleções de livros eletrônicos às várias bases de dados e recursos existentes. “Será possível, inclusive, entrar diretamente nos sites dos editores, a partir dos computadores instalados em quaisquer locais das universidades ou remotamente, utilizando o serviço de vpn”.

Na opinião da Adriana, a biblioteca está cada vez mais se transformando num espaço diferente, e o portal de e-books se insere nessa nova configuração. “Caminhamos em direção às facilidades domundo digital. A biblioteca deve ser um espaço agradável de pesquisa, no qual o pesquisador encontrará novidades, além de poder interagir com outras pessoas. Será um espaço de vivência”, prevê.

Segundo a bibliotecária, o projeto só concretizado em razão de investimentos feitos pelo Cruesp, os quais garantem a infra-estrutura necessária às bibliotecas. “Esses investimentos são regulares, o que dá a sustentação ao projeto. Sem o aporte de recursos, inclusive para a capacitação de profissionais, não estaríamos nesse patamar a que chegamos”.
Unesp – Margaret Antunes, coordenadora da Coordenadoria Geral de Bibliotecas da Unesp, cujo sistema congrega 30 unidades, ressalta a possibilidade de o e-book poder ser consultado simultaneamente. “Trata-se de material atualizado e que está disponível para o usuário de forma imediata. Ao contrário do material impresso, que demanda um maior tempo de aquisição e posterior catalogação até ser colocado nas estantes das bibliotecas”.
Segundo Margaret, no caso da Unesp, o portal compartilhado ganha mais importância em razão da descentralização dos campi da universidade, que conta atualmente com 30 bibliotecas, em 23 cidades do Estado de São Paulo. “Temos, por exemplo, três faculdades de engenharia em cidades muito distantes entre si – Bauru, Ilha Solteira e Guaratinguetá. Para atender um sistema com essas características, seria necessária a aquisição de pelo menos três exemplares do mesmo título”.

Produtos e serviços do Consórcio Cruesp
Foi criado em 1994 um grupo de trabalho para discutir ações integradas entre os sistemas de bibliotecas das três universidades estaduais paulistas. Dez anos depois, em janeiro de 2004, foi firmado o convênio instituindo o Consórcio Cruesp Bibliotecas, cujas premissas são a cooperação, o compartilhamento e a racionalização de recursos.

O consórcio é composto por 93 bibliotecas, contando com um acervo de mais de 8 milhões de itens bibliográficos e uma freqüência anual de 7 milhões de usuários. O Portal Cruesp/Bibliotecas [www.cruesp.sp.gov.br/bibliotecas] está disponível desde 2002, possibilitando o acesso da comunidade aos seguintes produtos e serviços:

- Unibibliweb – Proporciona o acesso simultâneo, via internet, com interface de busca unificada, aos bancos de dados bibliográficos Dedalus/USP, Acervus/Unicamp e Athena/Unesp, além de contar com lista unificada de títulos de periódicos eletrônicos e acesso a outros recursos.

- Bases de dados referenciais – Adquiridas pelo Consórcio, permitem o acesso a obras de várias áreas do conhecimento, na web, a partir dos equipamentos conectados à USP, Unicamp e Unesp.

- Biblioteca Eletrônica do Cruesp – Formada pelo arquivamento de conteúdos digitais provenientes de parcerias com editores comerciais e institucionais.

- Livros eletrônicos – Títulos de todas as áreas do conhecimento, voltados para o ensino e pesquisa nas três universidades.


Digitalização de teses revela tendência

Na opinião de Vicentini, as mudanças tecnológicas vieram para ficar. Segundo o especialista, a adoção de softwares livres e arquivos abertos acompanha a tendência da comunidade científica na criação de repositórios de conhecimento acessíveis a qualquer cidadão do mundo, por meio de mecanismos de divulgação dinâmicos, flexíveis e com custos bem mais baixos que os convencionais. Prova disso é marca recém-alcançada pela Biblioteca Digital da Unicamp: 50% das 27 mil teses defendidas até 2006 na Universidade já estão digitalizadas.

Traduzindo em números: estão disponibilizadas na web 13.620 dissertações e teses, de acordo com números aferidos no mês de maio. Segundo Vicentini, trata-se do maior conteúdo de acesso livre da América Latina. Não falta demanda: em maio, de acordo com o coordenador, foram registradas 447.701 visitas, com uma média diária de 14.441 acessos.

A quantidade de downloads registrados até 31 de maio também é um indicativo dessa demanda por novos formatos: foram 63.860, com um acumulado de 1,6 milhões desde 2002. Com esses números, chega-se à média de 122 downloads por tese, feitos por mais de 270 mil usuários de diversos países cadastrados na Biblioteca Digital, que integra nacionalmente o projeto da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD, de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Informação em C&T (IBICT do Ministério de Ciência e Tecnologia). Do volume de teses publicadas no Banco Digital do IBICT (44.367), as 13.620 teses da Unicamp representam 31% do conteúdo total, coletado entre as 59 instituições participantes.

A meta da equipe coordenada por Vicentini é publicar 20 mil trabalhos até o final deste ano, ou seja, 80% das teses defendidas na Universidade. “Queremos completar a coleção da Biblioteca Digital com 100% das teses defendidas em 2008”, revela. Para tanto, o coordenador do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU) conta com uma equipe composta por bolsistas, estagiários, bibliotecários, analistas de sistemas e programadores.


Como acessar- Unespwww.bibliotecas.unesp.br

USPwww.usp.br/sibi

Unicampwww.sbu.unicamp.br

Portal Cruespwww.cruesp.sp.gov.br/bibliotecas

Algumas das coleções adquiridas
- CRC Referex – Títulos nas áreas de Engenharia Mecânica e Materiais, Química, Petroquímica e Processos, Eletrônica e Elétrica

- CRC Press Package – Obras nas áreas de Farmácia, Ciências Ambientais, Matemática, Medicina, Engenharia de Alimentos, Ciência da Computação, Administração e Negócios, Engenharia Civil, Engenharia Biomédica, Engenharia Química, Engenharia Elétrica, Biologia, Agricultura e Botânica

- OVID – Livros na área de Medicina

- OCLC-Netlibrary – Títulos de diversas áreas do conhecimento, tais como Agricultura, Física, Biologia, Educação, entre outras. Nesta base de dados é possível selecionar títulos específicos

- SAFARI – Obras nas áreas de Administração, Ciências da Computação e Inteligência Artificial

- E-Livro e EBrary– Livros de diversas áreas, tais como Administração, Economia, Educação, Artes, Antropologia, Filosofia, Ciência Política, Ciências Sociais, História, Lingüística, Ciência da Informação, Música, Direito e Literatura, entre outros.

- ECCO – Coleção de títulos da British Library do século XVIII, incluindo mapas e manuscritos, entre outros. Importante fonte de pesquisa para diversas áreas, sobretudo para a de Humanidades.

O SBU em números
O Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU) é composto por 24 bibliotecas. Conta com um banco de dados, o Acervus, que possibilita a localização de livros, teses, periódicos e outros materiais disponíveis no Sistema. Nas bibliotecas, estão armazenados para uso da comunidade mais de 700 mil livros, além de outros tipos de materiais, entre os quais teses, dissertações, partituras, CD-ROM, vídeos, microfilmes e microfichas. Abaixo, alguns números do SBU, de acordo com dados de 2006.

- 24 bibliotecas
- Acervo de monografias (livros e teses) – 760 mil
- Acervo de periódicos (títulos) – 16.287
- Outros materiais – 300 mil
- Circulação do acervo (empréstimo+consulta) – 1.441.727
- Periódicos eletrônicos – mais de 19 mil títulos

Fonte: Jornal da Unicamp - 13 a 19 de Agosto de 2007

Nenhum comentário:

Postar um comentário