segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Consultório virtual

Cibercondríacos devem ficar atentos às fontes de dados médicos na internet


A assessora empresarial mora em Rio Preto e passa o dia conectada à internet, por causa do trabalho. Dedica grande parte do tempo aos sites sobre saúde.

Foi navegando que descobriu ter síndrome do pânico. Também na rede, procurou e encontrou sugestões de tratamento para a doença. Mas nunca deixou de procurar o médico para definir que atitude tomar.

Tudo começou há três anos, quando Valéria buscava informações sobre problemas respiratórios. O filho dela, Arthur, hoje com 5 anos, sofre de rinite alérgica.

Depois, a assessora pesquisou sobre a TPM (tensão pré-menstrual). E foi aí que diagnosticou: seus sintomas eram exagerados e surgiam independentes da menstruação. Tratava-se da síndrome do pânico – enfermidade que provoca crises inesperadas de medo e desespero.

“Passei por vários tratamentos. Aí descobri um remédio natural na internet e a ioga. Falei com meu médico, e ele disse que tudo bem”, conta Valéria. Ela complementa: “Acho que quando você vai ao médico já entendendo o que está se passando com você, fica mais fácil achar uma solução. Por exemplo, uma vez fui ao hospital e o médico veio me dizer que eu tinha labirintite. ‘Isso’, eu disse, ‘Porque tenho pânico!’ Os médicos gostam. Não têm que explicar tudo.”

Se os médicos gostam ou não é difícil afirmar. Não há unanimidade. O caminho habitual era o paciente sentir uma dor e buscar o clínico geral para ser encaminhado a um especialista. Agora, em nível extremo, sequer chegam a ser consultados.

Para o psiquiatra e professor de História da Medicina, Wilson Daher, os cibercondríacos são como os hipocondríacos. “Se antes pesquisavam bulas de remédio ou se chegavam às farmácias para perguntar sobre as últimas novidades, agora o fazem pela internet.”

Esse gigante consultório virtual seria o espaço ideal para o que o médico chama de “voyeurismo sadomasoquista”. “O hipocondríaco é voyeur do próprio corpo, buscando fustigar sua intimidade de maneira perversa.”

Daher acrescenta que quando há busca incessante de informações na internet nesse sentido, pode-se tratar de transtorno obsessivo grave. Na dúvida, a recomendação é para que sempre se busque a consulta presencial com um profissional credenciado pelo CRM (Conselho Regional de Medicina), como faz a cibercondríaca “do bem” Valéria Jordão.

Busca na net nem sempre é negativa
A principal característica dos cibercondríacos é o fato de eles não conseguirem navegar na internet sem acessar informações relativas a saúde.

Para a psicóloga Débora Cestaro, esse comportamento pode não ser negativo. Ela acredita que o acesso rápido às respostas na internet serve como um paliativo para as ansiedades diante de dúvidas relacionadas a sintomas ou a doenças.

Mas a profissional alerta que as informações podem estar erradas. Buscar sites reconhecidos pelos conselhos regionais dos profissionais de saúde é uma alternativa a essa armadilha.

A educadora e consultora internacional Ada Maria de Assis e Silva, acrescenta que a mudança cultural da relação médico-paciente é positiva.

“O médico terá de entender que não detém todo o conhecimento e deverá mudar sua conduta”, afirma.

Para Yonei Scotelari, diretora da FitWeb Studio – Soluções em Internet, a rede passou a ser a biblioteca mundial, “a maior e mais poderosa fonte de consulta jamais imaginada pelo homem”.

Fonte: Bom Dia Sorocaba

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