Pedro Doria*
Na semana passada, o assunto cá da coluna foi a OpenLibrary, projeto para digitalizar todos os livros do mundo. É o terceiro destes projetos, que incluem também um do Google e outro da Microsoft.
Na mesma semana, a Biblioteca Pública de Nova York recebeu uma Expresso Book Machine. É a segunda do mundo – a primeira está na sede do Banco Mundial, em Washington. Ela permite ao cliente que escolha um livro qualquer num banco de dados, imprime o exemplar e o encaderna.
No momento em que este tipo de máquina for comum – não vai demorar muito –, os arquivos livreiros da OpenLibrary, do Google e da Microsoft já estarão bastante recheados. É neste ponto em que uma revolução muito parecida com a da música digital tomará de assalto, mas não de surpresa, as editoras. Seu negócio vai virar de cabeça para baixo.
A partir dos anos 1950, nos EUA, algumas grandes gravadoras começaram a se consolidar, fazendo fortunas com artistas de amplo apelo popular. As primeiras estrelas milionárias não eram muitas – de Elvis Presley a Frank Sinatra - mas o rock, na década seguinte, principalmente a partir dos Beatles, transformou estas grandes empresas em gigantes.
As ferramentas da indústria fonográfica chegaram ao auge da sofisticação nos anos 80, quando o marketing assumiu as rédeas. Fórmulas, pesquisas de mercado, testes, acordos com rádios – a máquina de produção de sucessos passou a independer do artista. Dominando a divulgação e distribuição de discos, controlando cada um dos fatores, criou-se uma indústria na qual poucos grupos gigantescos impunham ao mercado uma meia dúzia de superestrelas que rendiam quantidades obscenas de dinheiro.
A digitalização da música mudou isto. Um negócio que dependia de discos que faziam sucesso por conta de uma única faixa naufragou – baixá-la da internet é trivial. Ficou mau negócio para as gravadoras investir fortunas num produto que não renderia. O mercado massificado é também melhor domado quando há poucas opções. Na internet, as opções musicais são amplas.
A música digital, hoje, é um negócio rentável mesmo para as gravadoras grandes - mas é um negócio diferente, com mais opções, onde o arquivo, os velhos discos, podem ser muito mais valiosos do que os novos. Afinal, tudo pode estar à disposição. E novas opções, fora do mundo das grandes gravadoras, surgem com mais facilidade.
As grandes editoras começaram a vender seu momento Beatles muito recentemente, com o Código Da Vinci e Harry Potter. Provavelmente nunca viverá seu momento Madonna, da produção quase científica, encomendada e não-acidental de um mega-sucesso. A digitalização chegou antes e muito mais opções de leitura estarão por aí.
Sim, o escritor que quiser, poderá abrir mão de ter uma editora. E, para elas, argumentar que há pirataria será mais difícil. Afinal, a tradição das bibliotecas é de emprestar livros de graça, mesmo. O paralelo com a música não é perfeito. Mas há algo de diferente no ar.
*pedro.doria@grupoestado.com.br
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