segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Integração é o futuro das bibliotecas digitais

Acervos integrados devem facilitar a procura de materiais por parte dos usuários. Primeira iniciativa mundial, a World Digital Library, coordenada pela Unesco, conta com participação brasileira

por LUÍS CELSO JR., Gazeta do Povo Online.

Um e-mail circula pela rede mundial de computadores alertando os internautas que o Portal Domínio Público, biblioteca digital criada em 2004 pelo Ministério da Educação (MEC), estaria prestes a fechar por causa do baixo número de acessos. A mensagem também pede a todos que visitem o site, num esforço conjunto para que ele não encerre os trabalhos. A causa até seria nobre, se não passasse de um boato. "Esse e-mail já circula há mais de um ano. Já até soltamos notas oficiais desmentindo, mas de tempos em tempos a mensagem volta e o boato ganha força. Pelo contrário, o site é uma iniciativa de baixo custo e que e que dá bons resultados", explica o coordenador do portal Domínio Público, Marco Antonio Rodrigues. "Há até projetos de criação de uma rede de bibliotecas, o que é uma tendência atual no mundo", completa.

Como o portal do MEC, muitas outras bibliotecas digitais - que distribuem livros digitais, teses, dissertações e outros materiais gratuitamente na internet - não só estão crescendo como buscam uma maior integração de seus acervos. Esse parece ser o próximo passo lógico, como salienta Rodrigues, já que existem centenas de sites espalhados pelo mundo e que não se comunicam diretamente, dificultando a busca de obras por parte dos usuários.

A Unesco, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, coordena a primeira iniciativa global nesse sentido. A World Digital Library (WDL) - Biblioteca Digital Mundial, em tradução livre -, pretende ser um portal multicultural, integrando bibliotecas de vários países e materiais em diversas línguas, inclusive o português.

A brasileira Biblioteca Nacional, que também possui acervo digital, é a única participante da América Latina nesse primeiro momento do projeto, e uma das primeiras a serem aceitas. A WDL deve entrar em funcionamento no dia 17 de outubro, quando será lançado na 37.ª Conferência Geral do órgão, em Paris, e deve ter um acervo composto por mapas, fotografias e manuscritos digitalizados, acompanhados por textos explicativos. Os livros estarão disponíveis apenas na segunda fase.

Ao lado das bibliotecas do Congresso dos EUA, Nacional da Rússia, Nacional da Coréia do Sul e da "Bibliotheca Alexandrina", a Biblioteca Nacional do Brasil - a oitava maior do mundo e a primeira da América Latina com acervo calculado em nove milhões de itens em geral - é uma das parceiras-fundadoras da WDL. A maior do mundo em acervo digital é a Biblioteca do Congresso dos EUA, com 7,5 milhões de documentos.

Iniciativa nacional
Apesar de uma tendência global, a integração de acervos ainda não é uma realidade em todo o Brasil. Projetos nesse sentido ainda são poucos. Um deles, também anunciado recentemente, é a integração dos acervos digitais das bibliotecas da Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade Paulista (Unesp), promovida pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp).

Com caráter prioritariamente científico, o sistema deve reunir 188 mil livros eletrônicos e mais de 250 mil usuários, entre docentes, pesquisadores e alunos das instituições participantes. Foram investidos US$ 2 milhões no projeto, que foi viabilizado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelo programa FAP-Livros.

Debate
O assunto também começa a ser discutido com mais ênfase. Em julho deste ano, o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI) promoveu o seminário Conteúdos Digitais na Internet. Uma das constatações dos debates foi a necessidade de uma maior articulação político-institucional para promover a integração das bibliotecas digitais existentes, segundo o memorando de intenções do evento.

Esta articulação deve envolver órgãos de governo, do setor privado e da sociedade civil, e focar com especial atenção aqueles acervos que possam contribuir para a melhoria na qualidade da educação do país. "Já existem propostas do MEC de um repositório que pudesse dialogar com essas iniciativas [de integração], mas ainda são projetos", explica o coordenador do portal Domínio Público, Marco Antonio Rodrigues.

Fonte: Gazeta do Povo

Bibliotecas virtuais

O Portal Domínio Público foi criado para ser um repositório principalmente de material acadêmico, mas seu perfil mudou com o tempo. Hoje conta também com vídeos, imagens e músicas no acervo, que já tem mais de 57 mil materiais. Todos eles já estão liberados de direitos autorais, seja por terem entrado em domínio público - o que acontece segundo a legislação brasileira 70 anos após a morte do autor - ou por terem a divulgação liberada pelos autores (saiba mais). Somente em setembro deste ano, o portal recebeu mais de 410 mil visitas.

Confira algumas bibliotecas digitais que oferecem materiais gratuitamente na internet:

* Projeto Gutenberg - O Projeto Gutenberg se auto-denomina a primeira e maior biblioteca virtual da internet. São mais de 16 mil livros grátis em diversas línguas no catálogo.

* CultVox - Um dos maiores sites do ramo no Brasil. Oferece livros eletrônicos grátis e também versões online de livros impressos para venda. É necessário efetuar cadastro para fazer download das obras.

* eBookCult - Biblioteca virtual que distribui livros eletrônicos de forma gratuita. Possui ênfase na área de educação.

* eBooksBrasil - Site independente que oferece livros nacionais e importados sob a licença Creative Commons.

* Projeto Democratização da Leitura - Site que visa ampliar as opções de livros para leitura na internet por meio de colaborações.

* Google Books - Ferramenta de busca da Google destinada aos livros. Por meio da pesquisa, é possível localizar e visualizar trechos de livros e obras completas. Os livros que já estão em domínio público estão disponíveis para download. O serviço está em versão de testes (beta).


Ciência

As bibliotecas virtuais voltadas para o ambiente acadêmico são inúmeras. Muitas restringem o material em seus acervos à uma área específica do conhecimento, como a Biblioteca Online de Ciências da Comunicação (BOCC). Outras são fechadas para um público específico, como a UnibibiWeb, do Creusp, para alunos das universidades paulistas.

Entre as maiores, se destaca a internacional Scientific Eletronic Library Online (Scielo), que reúne artigos científicos e periódicos de 10 países. A Scielo, iniciativa da Fapesp com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), busca o desenvolvimento de uma metodologia comum para preparação e divulgação da literatura científica em formato eletrônico.

Outra ferramenta que pode ser muito útil para buscar material científico é o Google Acadêmico. Ainda em versão de testes (beta), ela pode localizar artigos, teses, livros, resumos e pré-publicações por nome do autor, título e ou qualquer outra informação.

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