sábado, 19 de abril de 2008

Site Wikicrimes permite que vítimas marquem em mapa locais onde sofreram violência

Preocupado com a baixa notificação de crimes no país, o especialista em tecnologia da informação em segurança pública Vasco Furtado, da Universidade de Fortaleza, criou um site para mapear a violência. Inspirado na Wikipedia e com visual que lembra o Google Maps , o Wikicrimes permite ao usuário marcar num mapa virtual e interativo o local e a hora onde o crime ocorreu, além de inserir mais detalhes sobre o fato.

" No Wikicrimes você identifica os locais. A idéia é mapear o crime. "
- Nas estatísticas oficiais não há informação sobre em que ruas acontecem aqueles crimes, ou quais os bairros mais perigosos. No Wikicrimes você identifica os locais. A idéia é fazer o mapeamento do crime.

Ele acredita que a identificação das localidades mais violentas feita pelas vítimas pode ajudar a alertar o cidadão para áreas perigosas de sua cidade e também orientar os órgãos públicos no planejamento de suas ações. O site, criado em dezembro do ano passado, tem hoje cerca de 150 acessos diários.

- O acesso é grande, mas a cultura da participação é o nosso desafio. As pessoas precisam perceber que, se elas participarem, vai ser útil para os outros - defende o professor.

O GLOBO ONLINE conversou com o idealizador do site. Leia abaixo.

Como surgiu a idéia? Qual a intenção do projeto?
Temos problemas no Brasil em relação à informação criminal. As polícias não gostam de divulgar os dados. As informações não são publicadas e não há a transparência que deveria existir em relação a um dado público. As autoridades acham que a divulgação atrapalha o trabalho da polícia. Além disso, há uma insegurança porque os dados não são perfeitos, e, se fossem conhecidos, aumentariam a pressão popular.

Com isso, não se sabe se os dados da polícia condizem com a realidade. Em algumas cidades, até 60% dos crimes não são notificados à polícia.

O site pode ajudar a diminuir o problema da subnotificação?
Acredito que sim. A polícia vai poder olhar os dados oficiais e comparar com o site. Isso seria um benefício para a polícia. Mas o maior beneficiado acredito que seja o cidadão. Ele pode olhar os dados colocados por outras pessoas, criando uma troca de recados.

Quando você sofre um crime, você conta para alguém. Dá algumas indicações de não seguir tal caminho, não estacionar o carro em certo ponto. O Wikicrimes é um espaço de recados global. Eu, por exemplo, se viajo para o Rio posso saber como é a situação perto do hotel onde vou ficar. Se posso caminhar na rua à noite.

O site pode se tornar um banco de dados confiável sobre criminalidade?
Sim, embora esse seja o grande desafio. Temos várias estratégias. A primeira delas, é que quem informa o crime deve informar também emails de pessoas que possam confirmar aquele fato. Então, quanto mais gente confirma o fato, mais credibilidade tem a sua informação. Há também uma área de comentários, onde pode-se informar que aquele crime saiu numa matéria do GLOBO ONLINE, por exemplo, ou incluir até mesmo o número do Boletim de Ocorrência.

Além disso, nós temos uma série de parcerias. O site não precisa crescer só com participação individual. Fizemos parceria com corretores de seguro de automóveis em Fortaleza, por exemplo. Eles têm informações constantes sobre furtos de veículos e informam os crimes quando recebem. E é uma informação confiável. Nós chamamos esses parceiros de entidades certificadoras.

O senhor entrou em contato com Secretarias de Segurança?
Seria interessante ter como parceiro o Ministério Público. Ainda vamos atrás de dados oficias. Fiz uma correspondência para todas as Secretarias de Segurança do país. Ainda não tive nenhuma resposta, mas imagino que se a primeira colocar os dados, as outras vão atrás. E não precisa envolver só dados criminais. Podemos publicar fotos de procurados, de pessoas desaparecidas.

( A Secretaria de Segurança do Rio afirma não ter recebido correspondência sobre o assunto. A assessoria de imprensa do órgão disse ainda que o secretário José Mariano Beltrame desconhece o site, e que só se pronunciaria depois de se se informar sobre o projeto.)


Fonte: O Globo

http://www.wikicrimes.org/


"A parte mais importante do progresso é o desejo de progredir" Sêneca

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