sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Discurso do "pai" da Wikipédia expõe rota de colisão com Google

Ambos são fruto da chamada Web 2.0 --ou seja, da evolução natural da internet, que empurra a navegação para o que é gerado pelo próprio internauta. Mas, Wikipédia e Google, pelo que mostrou Jimmy Wales na sabatina da Folha, ontem, estão em rota de colisão.

Não foram poucas as vezes que o co-fundador da Wikipédia citou o concorrente em sua visita à capital paulista. "Eu concordo que o YouTube seja um bom lugar para ver vídeos engraçados, mas não para aprender sobre a crise financeira", disse, em evento no Centro Cultural São Paulo.

Na sabatina, foi a vez da página Knol, enciclopédia colaborativa do Google, ser satirizada por Wales. O empresário fez piada sobre as possíveis estratégias da companhia para conseguir dinheiro nessa seara.

"Se eles querem vender, vão escrever coisas sobre Viagra, pôquer ou viagens para Bali. Isso sim vai dar dinheiro", disse.

"Não temos esse comportamento de fazer piada com concorrente", responde Félix Ximenes, diretor de comunicação do Google Brasil. "Se o nosso consumidor está contente, está ótimo para nós."

O representante do gigante das buscas ironiza o fato de Wales ter citado diversas vezes a empresa em sua passagem por São Paulo. "O Google é o assunto do dia", diz.

Colaboração e lucro

Para o advogado Ronaldo Lemos, diretor do projeto Creative Commons no Brasil, o discurso de Wales reforça que ele "resolveu dar o troco", mas também que o empresário se preocupa com os rumos da colaboração na web.

"Não acho que ele está tão preocupado assim com o Google em si. Ele está querendo testar os limites da colaboração na internet", afirma Lemos.

Para o advogado, o sistema de colaboração é definitivo, mas deve adotar formatos mais comerciais, voltados ao lucro. "Os sistemas colaborativos estão caminhando para formatos híbridos, se misturando com o mercado. O Flickr [do Yahoo!] e o YouTube são uma mostra disso. A colaboração estará presente em tudo o que for feito na internet, mesmo que em projetos comerciais", afirma Lemos.

Entretanto, colocar publicidade na enciclopédia --assunto tratado por Wales como "possibilidade" é uma decisão "arriscadíssima". "Isso pode destruir a Wikipédia, porque cria um problema de governança entre os colaboradores. Eles vão começar a questionar: 'por que eu não recebo parte do dinheiro que a Wikipédia está gerando?'", diz.

Amigos e rivais
Embora estejam em atrito verbal, Google e Wikipédia funcionam como parceiros na web. Prova disso está no tráfego dos internautas.

"Mais de 70% dos visitantes da Wikipédia digitaram o assunto pesquisado em algum buscador. Isso nos Estados Unidos, porque no Brasil esse índice é superior a 80%", explica José Calazans, analista de mídia do Ibope/NetRatings.

De acordo com dados do Ibope, os verbetes de maior sucesso são relacionados a temas de trabalhos escolares. Em setembro, "Independência do Brasil" e "Machado de Assis" apareceram no topo do ranking da Wikipédia. Assuntos com destaque na mídia também costumam alavancar verbetes. Em agosto, "Jogos Olímpicos" e "China" lideraram.

"O grande problema da Wikipédia, que é a credibilidade, parece não importar aos seus leitores. Na internet, eles aprendem a checar mais fontes e a comparar dados de origens diferentes para conseguir chegar às informações que desejam", diz o analista.


Enquete aberta pela Folha Online na última terça-feira dá razão ao analista do Ibope. Até agora, mais de 60% dos leitores disseram confiar no conteúdo da enciclopédia colaborativa.

Fonte: Folha Online

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