quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Web 2.0 e a (r)evolução do conteúdo

Eis que repente um site consegue transformar o usuário de internet em estrela. De mero espectador, ele passa a produtor do conteúdo ali veiculado, que passa, por sua vez, a ser divulgado e, melhor: discutido, repercutido, avaliado. Estamos diante, assim, de uma mudança radical nos rumos não só da rede mundial dos computadores como da comunicação tal qual a conhecemos? Sim e não. A parte verdadeira da afirmação é que nunca o internauta teve tanto poder. De receptor, ele passou a ser emissor; de coadjuvante, vira ator principal. A parte do "não" se explica com uma simples visitinha aos primórdios da internet. Na época das BBSs, a primeira forma de comunicação na web (antes ainda da era gráfica), era o internauta o grande detentor do poder da comunicação, através das comunidades de troca de recados. Era dele que partia a produção do que se veiculava na Net.

A Web 2.0 é nada menos que a retomada do início da internet. Temos o poder hoje, assim como tínhamos antes da bolha pontocom e anteriormente à entrada, na rede, dos grandes estúdios e dos conglomerados de comunicação. E essa constatação é fantástica. Nunca tivemos tantas ferramentas de produção e nossa voz nunca esteve tão livre. Não à toa, já incomodamos os veículos tradicionais, que tiveram de reformular seu portifólio para combater o produtor independente de conteúdo.

Recorremos à enciclopédia virtual Wikipedia [1] para tentar entender o fenômeno da Web 2.0: lá, ela é chamada de "internet participativa". A afirmação faz todo o sentido, ainda mais depois da chegada dos gadgets superdesenvolvidos com acesso à internet e funções avançadas de captação de áudio e vídeo. Com o boom das câmeras digitais e dos telefones celulares dotados destas, produzimos não só texto como imagens e reportagens. Assim, passamos a oferecer a nossa visão dos acontecimentos, invadimos a mídia convencional com os flagrantes capturados por nossas lentes.

Há uns seis anos, os blogs apareceram como a alternativa amadora para os grandes portais de notícias. Blogueiros famosos já recebiam mais visitas, em seus diários virtuais, que homepages de nomes badalados na mídia. Com uma linguagem muito mais próxima do dia-a-dia e uma abordagem diferente dos fatos, os blogs passaram a se tornar candidatos naturais à sucessão dos veículos tradicionais. Estes, por sua vez, com medo da concorrência, criaram canais especiais para publicação de textos e de vídeos gerados pelos leitores, assim como incentivaram seus jornalistas a se tornar blogueiros também.

Blogs, fotologs, videologs. O novo mundo multimídia, instigado pelas novas ferramentas tecnológicas, está permitindo a revolução. Ou melhor, a evolução. Já há celulares capazes de capturar vídeos de alta qualidade, comparáveis até mesmo a câmeras profissionais. Só para exemplificar o que vem vindo por aí: os canais Multishow e MTV criaram programas especiais nos quais a captação das imagens é feita por amadores, usando celulares Nokia de última geração, o N-95 e o N-93.

A partir de câmeras especiais acopladas, estes celulares permitem que qualquer um seja cameraman ou videomaker. Para manejar estas câmeras, basta apenas saber ligar o celular e segurá-lo direito. Vamos além: essas produções serão divulgadas em cadeia nacional de TV. Não estamos mais, portanto, falando de produções amadoras de fundo de garagem que geram milhares de visitas no YouTube [2]. A internet deixa de ficar apenas na internet e invade as outras mídias. Não há quem a segure.

Outra mudança que irá impactar a mídia tradicional se chama TV Digital. Ao oferecer mais interatividade – num segundo momento, já que no primeiro a transmissão será apenas unidirecional -, ela aumentará as chances de participação do receptor na forma como se faz e como se veicula TV. O espectador poderá montar sua grade de programação e escolher o que deseja assistir, e a que momento. E vai mais longe ainda: ele poderá influir na programação, se comunicando com a emissora em tempo real. Se o controle-remoto já foi uma incrível revolução, a TV Digital mostrará, à mídia tradicional, que o público não é mais o mesmo.

Um bom exemplo do que pode vir a ser a TV Digital se chama Joost [3]. O programa, que ainda está na fase beta (de testes), proporciona ao internauta uma forma diferente de assistir TV, mesmo que não seja em tempo real. Dentro do software, o usuário escolhe os canais que deseja assistir, monta sua grade de programação e aceita, ou não, assistir a comerciais, clipes de música e programas jornalísticos. É como se estivesse num restaurante self service e fosse escolhendo os pratos que mais lhe apetecessem. E, melhor: patrocinado. No Joost, as emissoras de TV oferecem o conteúdo de graça e rezam para que os internautas honrem este conteúdo com suas visitas, que podem gerar mais receita em publicidade.

Os donos do Joost – os mesmos que lançaram o programa de Voz sobre IP Skype [4] – já fecharam parcerias com canais convencionais de televisão. Estes, por sua vez, já estão estudando novas formas de manter a fidelidade de seu espectador. Porque este terá, cada vez mais, opções variadas para seu entretenimento. Com o cruzamento entre a TV e a internet e, agora, o celular, a mídia convencional vê nascer um público mais exigente e, por que não, mais esperto.

E se a revolução já mexeu com o mundo da televisão, o que dizer da rádio? Em primeiro lugar, este veículo já "sofre" com a concorrência dos poderosos e sedutores MP3 Players que dominaram os bolsos e as bolsas dos consumidores antenados. Com a queda nos preços dos modelos, a tendência é que transportar música passe a ser cada vez mais comum. Assim, em vez de sintonizar numa estação que escolhe o que ele vai ouvir, o ouvinte passa, cada vez mais, a montar o que ele mesmo designa como programação. Todos podem se tornar DJs, bastando para isso algumas músicas trocadas entre o tocador de música digital e o computador.

Por outro lado, a rádio convencional ganhou a internet como concorrente de peso. Já que pode congregar todas as funções de entretenimento num mesmo aparelho – seja ele o computador ou o gadget de estimação – por que o usuário vai preferir um rádio? Já que o computador já lhe oferece som de qualidade, através de sub woofers integrados – cada vez mais comuns – que sentido há em ligar o velho rádio de guerra? Mais ainda: há dezenas de celulares à venda dotados de rádio.

Um terceiro viés é o lançamento de rádios criadas e mantidas exclusivamente na internet. Com menos profissionais contratados, infra-estrutura em geral muito inferior e investimento pequeno, qualquer um pode ter uma rádio. Até mesmo uma particular, com programação distribuída a uma rede selecionada de amigos. Montar uma rádio na internet não custa muito, sendo o maior investimento a banda de transmissão que garanta a veiculação das músicas em tempo real. O melhor exemplo do que pode ser a rádio na internet? O serviço Pandora.com, que permite ao internauta montar até cinco canais de rádio e acompanhar o streaming em tempo real, pela internet. Mas, assim como ele, muitos outros serviços já fazem o maior sucesso na Web.
Outra forma de rádio pessoal muito comum hoje em dia se chama Podcast. Trata-se de um programa "pessoal" montado pelo usuário e baixado por qualquer pessoa. Assim, escuta-se o que quiser (de música a crítica gastronômica) na hora em que se desejar. O negócio tem dado tão certo que a mídia convencional, mais uma vez, correu atrás e já oferece downloads de podcasts para os internautas carregarem em seus MP3 players.

Rádio de bolso, sites de veiculação de vídeo, programas de TV criados a partir de celulares, jornalismo participativo: são muitas as funções do novo internauta. Antenado com o que acontece no mundo, ele não quer mais apenas ser informado. Ele quer informar.

O que você imagina que vai efetivamente mudar com a Web 2.0? Quais os sinais já visíveis da Web 2.0 para você? Dê a sua opinião.

Fonte: Opinião e Notícia

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