segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Obra de Oiticica em acervo digitalizado



Grande parte da obra de Hélio Oiticica está preservada no site do Itaú Cultural ( www.itaucultural.org.br ), através do “Programa Hélio Oiticica”, que teve como coordenadora de pesquisa a curadora de arte Lisette Lagnado. A iniciativa disponibiliza ao público, gratuitamente, parte dos documentos do artista. Sobre o programa falou ao Caderno 3, o Superintendente de Atividades Culturais do Itaú Cultural, Eduardo Saron

Em que consiste o Programa Hélio Oiticica?

O site Programa Hélio Oiticica é o resultado de uma parceria entre o Itaú Cultural e o Projeto Hélio Oiticica. Seu objetivo é disponibilizar ao público uma parte dos documentos do artista, arquivados na sede do Projeto HO no Rio de Janeiro. Esses documentos foram trazidos para São Paulo para serem catalogados, digitalizados em versão fac-similar e tratados para que sua deterioração fosse retardada, totalizando mais de 5000 páginas. A trajetória dos escritos de Hélio Oiticica se estende de 1952 a 1980.

Há quanto tempo existe o site?

A pesquisa que resultou neste site foi desenvolvida entre setembro de 1999 e junho de 2002.

Como funciona o projeto? De que forma o público pode ter acesso às informações sobre a obra de Oiticica?

A documentação encontra-se disponível apenas no site. A pesquisa pode ser feita das seguintes formas: a partir da página inicial (home) – basta clicar nos links, organizados em nove blocos temáticos, para ter acesso a uma versão resumida da ficha catalográfica e às imagens dos documentos; navegando pela malha conceitual - ao clicar em uma das imagens da página inicial ou no item Malha Conceitual (do formulário de procura avançada ou da ficha catalográfica de algum documento), o consulente é levado para uma malha formada pelos conceitos de Hélio Oiticica. A malha traz imagens das obras de Oiticica e, em alguns casos, excertos de seus textos. Cada conceito da malha trará automaticamente uma lista de documentos associados a ele. Em relação às imagens das obras, basta colocar o mouse sobre uma delas que sua ficha técnica é apresentada. Um clique sobre a imagem faz com que ela seja ampliada em nova janela. Por meio de pesquisa simples - na página inicial, há um campo intitulado “procura documentos”, onde o consulente pode digitar a expressão que desejar, clicando em seguida no botão “OK”. O texto digitado servirá para uma busca na ficha catalográfica, e não conteúdo dos documentos. Através da procura avançada, o formulário de procura avançada traz 15 campos da ficha catalográfica dos documentos (tombo, tipo de documento, série, espécie, data do documento, nomes próprios, endereços, palavras chaves, conceitos próprios, conceitos de outrem, obras próprias, obras de outrem, movimentos / tendências / correntes, exposições / eventos / festivais.

Fale sobre o acervo do programa. Que documentos compõem o arquivo do projeto (são fotos ou textos escritos pelo próprio artista)?

O site do Programa Hélio Oiticica contém o catálogo dos documentos pertencentes ao Arquivo Hélio Oiticica e um conjunto de verbetes que procura dar conta do universo de conceitos e obras de Hélio Oiticica. Dentre os documentos de Hélio Oiticica, podemos encontrar: agenda, caderno, fichários, notebook, entrevistas, textos para catálogos, plantas, projetos, texto sobre arte.

Diante do último acontecimento sobre o incêndio da obra de Oiticica, que considerações o senhor pode fazer sobre o assunto?

O incêndio no acervo do Projeto Hélio Oiticica é mais um fato a se lamentar sobre a preservação da memória artística brasileira. É preciso que a sociedade e o governo se mobilizem para criar ações e projetos quanto à guarda, manutenção, catalogação de acervos públicos ou mesmo de suporte e prestação de serviços a acervos particulares.

Em sua opinião, de que forma o programa do Itaú Cultural pode ajudar na divulgação e na conservação das obras do artista?

A catalogação e a disponibilização via site de versões fac-similares digitais permitem que, apesar da dispersão e a possível perda de documentos de e sobre artistas, pesquisadores e público em geral tenham acesso ao conjunto de uma determinada produção, bem como ter um olhar global sobre a arte no Brasil.

O programa Hélio Oiticica só funciona virtualmente, pelo acesso ao site do Itaú, ou vocês têm outros mecanismos de pesquisa?

Para ampliar a democratização do acesso a bens culturais, o Itaú Cultural disponibiliza todo o projeto na internet, de modo gratuito.

Até hoje, qual é o número de acessos ao site do programa?

O site do Itaú Cultural tem uma medida de 800 mil acessos únicos por mês.

Como surgiu a ideia de criar um acervo virtual?

O Programa Hélio Oiticica é uma decorrência da experiência do Itaú Cultural na sistematização de informações aplicadas ao acervo do Projeto Hélio Oiticica. A ideia de criação de acervos virtuais está na origem do Itaú Cultural. Fundado a partir da atuação do Banco Itaú, o instituto criou em 1987 o Banco de Dados Informatizado Instituto Itaú Cultural, que tinha como objetivo coletar e tornar públicas informações sobre as artes e cultura no Brasil. O projeto deu origem às Enciclopédias Itaú Cultural, abrigadas no site do instituto.

Quais são as vantagens desse tipo de pesquisa para o público brasileiro, principalmente, para os estudantes?

Aberto ao público em 1989, muito antes da popularização da internet no país, esse banco de dados era inicialmente acessado somente na sede do Instituto Itaú. Em 1999, ele se torna disponível pela internet e, dois anos depois, com base nesse acervo, a primeira das Enciclopédias, dedicada às Artes Visuais, é lançada. Esse processo só foi possível com o contínuo investimento do Itaú Cultural em pesquisa, coleta, tratamento e informatização de dados. As vantagens desse processo de informatização de dados desenvolvidos pelo Instituto são muitas. Por serem bases eletrônicas, disponíveis na internet, o programa possibilita o acesso fácil, rápido e gratuito a um público amplo. O que contribui para a formação cultural de milhares de estudantes brasileiros.

Em sua opinião, qual é a importância da obra e do artista Hélio Oiticica para a cultura brasileira?

Hélio Oiticica foi um artista excepcional e brilhante, à frente do seu tempo. O artista é uma das maiores referências internacionais da nossa arte. Suas obras envolviam além do fazer artístico um minucioso planejamento conceitual e permitiram que o público abandonasse o papel de espectador e se tornasse parte da produção de arte. Hélio com seus Parangolés , Bólides e Metaesquema, visava a interação com o público. Sua arte é altamente experimental, de caráter, livre, além de se voltar para a realidade do país .

Cinema
Vida e obra de Oiticica entre curtas


São vários os filmes que se dedicam a contar ou, ao menos citar, a trajetória do performer e multifacetado artista Hélio Oiticica.

No site Curta Petrobras, por exemplo, é possível assistir a alguns filmes, como “H.O.”, que tem a atuação do próprio Hélio, ao lado de Caetano Veloso, Carlinhos do Pandeiro, Ferreira Gullar, Lygia Clark, Mildo da Mangueira, Nininha e Waly Salomão. Com 13 minutos de duração, o curta do diretor Ivan Cardoso tem texto poético de Haroldo de Campos e focaliza a obra de Oiticica.

Já “À meia noite com Glauber Rocha”, do mesmo diretor, tem 16 minutos. No site, a descrição é um tanto curiosa: “O olho vorticista do ivampirante Ivan escolheu os seus totens, elegeu os seus emblemas, regeu em diadema os seus temas. Este filminvenção glauberélico, helioglauberiano, é uma partitura de iluminuras em mosaico, belas e brutas como pedras recém-saídas de seus geodos”.

O curta tem novamente a participação de nomes como os de Caetano Veloso no elenco, além de Danuza Leão, Glauber Rocha, Hugo Carvana, João Ubaldo Ribeiro, José Lewgoy, José Mojica Marins, Luiz Carlos Saldanha e vários outros. A lista é grande.

“Heliorama” é uma produção de 2004 que também entra pro rol dos filmes de Ivan Cardoso. A montagem reúne cinejornais, trailers, clipes e outros fragmentos de som e imagem do artista plástico. Com 14 minutos de duração, o curta foi produzido com patrocínio da Petrobras.

Cosmococa
“Cheirandocosmococa Bunel”, por sua vez, do diretor Silvio Tavares, é uma apropriação em vídeo da série fotográfica realizada, nos anos 70, por Oiticica e Neville D´Almeida, intitulada Cosmococa. A obra de Hélio nasceu de seu descontentamento com a linguagem cinema. Incomodava-lhe, no meio, a relação espectador-espetáculo. Uma inatividade hipnotizante do último devia ser rompida, e o público portar-se-ia de maneira insubmissa. Os artistas forjavam um espaço suave, mas não domesticável, onde o ritmo das coisas deveria ser desnaturalizado. Junto a uma banda sonora distinta se passam imagens sequenciadas ou não de slides, com imagens de Hendrix, cobertos por cocaína.

FIQUE POR DENTRO
Programa Oiticica: arte e educação para todos

No site do Itaú Cultural, o link Percurso Educativo, dedicado à Arte Efêmera, destaca Hélio Oiticica como um dos artistas que subverteram o cenário dos anos 1960 e 1970, ao lado de nomes como Cildo Meireles, Lygia Pape e Nelson Leirner. O material, direcionado ao auxílio ou como ferramenta de apoio para professores na preparação de aulas, destaca a vida do artista, assim como informações sobre sua obra e críticas ao trabalho. Já no verbete dedicado a Hélio Oiticica na Enciclopédia de Artes Visuais, o público encontra a biografia do artista, com comentários e textos críticos, histórico, depoimentos sobre sua obra e fontes de pesquisa, além de informações sobre suas exposições – individuais, coletivas e póstumas. Lançado no site do instituto em 2002, o programa teve como objetivo disponibilizar ao público grande parte dos documentos de Oiticica, arquivados na sede do Projeto Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro. O acervo, composto por documentos, anotações e entrevistas com o artista, começou a ser catalogado e digitalizado a partir de 1999, em versão fac-similar, totalizando mais de 5.000 páginas. Não há registros de outro projeto de digitalização da obra do artista.

Fonte: Ana Cecília Soares - Diário do Nordeste

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