quinta-feira, 18 de março de 2010

Maria Clara Machado ganha acervo digital

“Em Maria Clara a escritora e diretora coincidem com uma riquíssima organização humana, onde o fantástico janta na mesa do real, e se comunicam naturalmente... o fantástico fica plausível, é um dado cotidiano, até corriqueiro. E o real surge desligado de seu peso tantas vezes incomodo”.
Carlos Drummond de Andrade

Um acervo digital reunindo toda a obra, documentos, fotos, correspondências, prêmios, entre outras informações da carreira e vida da escritora e diretora MARIA CLARA MACHADO (1921-2001) estará disponível para os admiradores desse grande nome do teatro brasileiro. Além disso, o internauta encontrará matérias em jornais e revistas, um arquivo digital com registro fotográfico, com uma grande seleção de registros pessoais e de peças teatrais. Também estarão disponíveis vídeos de peças e material sobre a criação do “O Tablado”, fundado por Maria Clara em 1951, no Patronato Operário da Gávea, no Jardim Botânico, onde funciona até hoje.

Sob a coordenação geral de Cacá Mourthé, diretora e sobrinha da autora, e direção de produção da Sarau Agência de Cultura Brasileira e patrocínio da Petrobras, o acervo será lançado oficialmente no dia 20 de março, às 17h30, num grande evento no "O Tablado", que reunirá vários artistas que passaram pelo espaço e uma apresentação do espetáculo “Cavalinho Azul” (1959), que entra em cartaz para mais uma temporada no local. No dia também ocorrerá a apresentação do acervo e do site e um coquetel infantil no Pátio do Patronato.

“Maria Clara me dizia que era uma pessoa saudosista, o que lhe interessava era o presente. A organização e digitalização do acervo é um grande passo no presente para abrir novos caminhos no futuro, no sentido de preservar suas idéias e difundi-las para as gerações futuras”, afirma Cacá Mourthé.

No acervo, são encontrados o material gráfico, as montagens teatrais e fotos das mais de trinta peças da autora (infantil e adulto), dentre elas os sucessos: “Pluft, o fantasminha”; “A bruxinha que era boa”; “O boi e o burro no caminho de Belém”; “Maroquinhas Fru-Fru”; “Aprendiz de Feiticeiro”; “Jonas e a balei”; e “O rapto das cebolinhas”. Ainda, no Teatro Adulto, também se encontra o material de “Referência 345” (1963); “Miss Brasil” (1964); “As Interferências” (1965); “Os Embrulhos” (1969); e “Um Tango Argentino” (1972).

Nomes como Bárbara Heliodora, Fernanda Montenegro, Ivan Junqueira, Kalma Murtinho, Anna Letycia, Luiz Paulo Horta, Gilberto Braga, Fernando Pamplona e Jorge Leão Teixeira deixaram seus depoimentos no site.

“Levar acervos particulares para o acesso mundial conduzirá a história desses personagens por caminhos cuja longitude ainda não imaginamos”, afirma Andréa Alves, da Sarau Agência de Cultura Brasileira.

Cacá Mourthé, além da coordenação do acervo e da direção do espetáculo “Cavalinho Azul” também é responsável pela direção da nova montagem do musical infantil “Os Saltimbancos”, de Chico Buarque, em cartaz no Oi Casa Grande.

Nasceu a 03 de abril de 1921, em Belo Horizonte (MG). Veio morar no Rio de Janeiro, aos quatro anos de idade, com as quatro irmãs, todas Marias, Celina, Luiza, Ana e Ethel (Tatau). Vinícius de Moraes chegou a fazer uma poesia para elas, intitulada “As Machadinhas”. No Rio, a família morou na Gávea, em Copacabana e, finalmente, em Ipanema, a famosa casa da ‘’Visconde Pirajá, 487’’, onde seu pai recebia intelectuais e artistas aos domingos. Esse ambiente certamente colaborou para a formação intelectual de Maria Clara.

Em 1941 participou de uma reunião Internacional de Bandeirantes, em Nova York, estendendo sua temporada em Washington por sete meses, onde morou na casa de Candido Portinari, grande amigo de seu pai, e que estava pintando o painel para o Congresso americano. Em 1948 voltaria aos Estados Unidos com um grupo de bandeirantes para uma breve temporada. Foi graças ao bandeirantismo que ela foi parar no Patronato Operário de Gávea, nstituição de caridade dirigida por um grupo de senhoras da sociedade que atendia aos moradores das favelas próximas ao Patronato.

Maria Clara escreveu 27 peças infantis e cinco para adultos. Suas peças infantis foram traduzidas para vários idiomas e montadas diversas vezes fora do Brasil. Recebeu por mais de uma vez o prêmio Molière, Mambembe e Coca-Cola, além dos prêmios Shell, Sacy, Golfinho de Ouro, o da Academia Brasileira de Letras, entre outros.

Foi aí que ela começou a trabalhar com teatro de bonecos, técnica que aprendera no Instituto Pestalozzi do Rio de Janeiro, em Copacabana. Pluft, o fantasminha; O boi e o burro no caminho de Belém; e Maroquinhas Fru-Fru; foram peças escritas primeiramente para o teatro de bonecos. A partir deste trabalho Maria Clara escreveu o livro ”Como fazer teatrinho de bonecos”, publicado pela editora Melhoramentos e reeditado, em 1969, pela editora Agir.

Em 1949, com um grupo de amigos, entre os quais Jorge Leão Teixeira, Claudio Fornari, Stelio Roxo, João Sergio Marinho Nunes e Geraldo Queiroz, criaram um grupo de teatro amador a que deram o nome de “Os Farsantes”, e montaram a Farsa do advogado Pathelin, dirigida pelo Frei Sebastião Hasselman, apresentada em curta temporada no Teatro de Bolso, na praça General Osório, Ipanema. Era o embrião do teatro Tablado. Em janeiro de 1951 fez sua primeira experiência profissional com cinema e, convidada por Martim Gonçalves, que conhecera na França e trabalhava na Companhia Cinematográfica Vera Cruz, participou como atriz do filme Ângela, rodado em Pelotas (RS), com Alberto Ruchell e Eliana.

Em outubro de 1951, com um grupo de amigos reunidos na casa de seu pai, Aníbal Machado, cria o Teatro Amador O Tablado, que passou a funcionar no Patronato Operário da Gávea, na avenida Lineu de Paula Machado, onde encontra-se até hoje. Com o tempo, O Tablado passou a ser referência na formação de atores, figurinistas, cenógrafos, diretores, iluminadores, sendo considerado um ‘celeiro’ de talentos.

Em 1956, preocupada em dar apoio aos novos grupos que se formavam, principalmente no interior do país, criou os “Cadernos de Teatro”, cujo lema era Remember Amapá. O objetivo dessa publicação era ensinar o bê-á-bá da técnica, como fabricar um refletor, noções de direção, interpretação etc.

A partir de 1964 passa a dar um curso de improvisação n´O Tablado.

Na década de 1990 começa a dividir a direção de suas peças com sua sobrinha Cacá Mourthé, que frequentou o Tablado desde criança e foi aluna e assistente de direção, absorvendo o espírito e a liderança de Maria Clara. No ano de 2000, Maria Clara escreve, em parceria com Cacá, a peça “Jonas e a Baleia”, fazendo da sobrinha sua herdeira à frente do instituição. Apesar de mais conhecida como autora e diretora de teatro, Maria Clara também atuou como atriz em varias. Foi assim que, em 1981, foi convidada a atuar em “Ensina-me a Viver”, de Colin Higgins, substituindo Henriette Morineau, com direção de Domingos de Oliveira.

Maria Clara faleceu no dia 30 de abril de 2001, mas deixou a todos os seus admiradores e amigos um valioso legado, especialmente voltado para o público Infanto-Juvenil.

FICHA TÉCNICA
Coordenação Geral: Cacá Mourthé
Direção de Produção: Andréa Alves
Produção: Sarau Agência de Cultura Brasileira
Coordenação de Pesquisa Documental: Rejane Goulart Guides
Coordenação de Pesquisa Iconográfica: Eliana Oikawa
Pesquisa: Celina Whately
Auxiliar de Pesquisa: Marciléa Rodrigues Innecco e Rosilene dos Santos Braga
Equipe de Acervo e Documentação
Supervisão: Elizabeth de Mello e Leitão Baptista de Oliveira
Arquivologia: Elvira Sueli da Silva
Conservação, Restauração e Consultoria: Lenon Braga
Tratamento de Mídias: Plano Geral
Revisão de Texttos: Andrea Rausch
Colaboração: Aracy Machado Mourthé, Aparecida Guedes, Eddy Rezende Nunes, Jorge Leão Teixeira, Mônica Nunes, Ronald Teixeira, Renata Tobelém, Viviana Rocha, Zé Helou, Silvia Fucs, Tatiana Trinxet, Zeli de Oliveira
Programação Visual: 6D
Banco de Dados e Programação do Site: Carlos Henrique Marcondes e Luiz Fernando Sayão INFO – SIS Informação e Informática
Suporte em TI: Rodrigo Soares (Cyber Consultoria em Tecnologia da Informação)
Produção Executiva: Eliana Oikawa e Janaína Santos
Assistência de Produção: Raphael Baêta
Estágio de Produção: Brunna Sanches
Planejamento: Priscila Marques
Prestação de Contas: Fernanda Veiga
Apoio de produção e Administração: Carlos Henrique
Apoio Institucional: Fundação Casa de Rui Barbosa

Fonte: Rio&Cultura

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