terça-feira, 8 de junho de 2010

Redes sociais atuam como megafone do mundo real

por Tagil Oliveira Ramos especial para IT Web

O bom senso deve prevalecer, ou seja, não se publica no Twitter ou no Orkut palavras que não se diriam pessoalmente

No fim de maio, foi lançado um movimento incentivando as pessoas a protestarem contra a falta de privacidade do Facebook. Foi um tiro n"água. Pouco mais de 30 mil pessoas aderiram, ou seja, aproximadamente 0,00075 % dos 400 milhões de usuários da maior rede social do planeta.

Talvez o Quit Facebook não tenha sido a maneira certa de se reivindicar. Mas o assunto em foco é sério, muito sério. Com a exposição cada vez maior de informações privativas, há um risco grande para os participantes. As redes sociais funcionam como um amplificador dos atos no mundo real. Palavras ditas algumas vezes no calor da emoção ganham repercussão, fazendo o desavisado se arrepender pelos excessos.

Quem poderia imaginar, por exemplo, que a torcida inflamada durante o jogo Corinthians e São Paulo poderia levar à demissão do diretor-comercial da empresa de hospedagem Locaweb, um dos patrocinadores do time São Paulo? Pois levou. Alex Grikas, corinthiano fanático, resolveu soltar o verbo no Twitter durante um jogo. Leia mais aqui.

Caso semelhante aconteceu com um dos editores da National Geographics Brasil, Felipe Milanez. O jornalista foi demitido por criticar outra publicação da Abril: a revista Veja, o carro-chefe da editora. No seu perfil no Twitter, Milanez mandou ver nos adjetivos. O tweet é reproduzido literalmente: "Veja vomita mais ranso racista x indios, agora na Bolívia. Como pode ser tão escrota depois desse seculo de holocausto?" (sic)

Algum tempo depois, o mesmo Milanez escreveria no mesmo perfil: "Acabo de ser demitido por causa dessa infeliz conta de Twitter. Sonhos e projetos desmancharam no ar virtual."

Casos como esses trazem à tona algumas perguntas: Em nome da liberdade de expressão, pode-se dizer exatamente o que se pensa de qualquer maneira e em qualquer lugar? Por outro lado, até que ponto as empresas têm o direito de cercear a opinião de seus funcionários? Enfim, até onde vai o limite entre o público e o privado nas redes sociais?

A partir desta reportagem, IT Web publica uma série de quatro reportagens sobre o tema, mostrando as melhores práticas em ambientes da Web 2.0, a abordagem correta de alguém da sua lista de contato (para pedir um emprego ou uma indicação), quais os tipos de informações as empresas de RH estão buscando sobre os candidatos nas redes e o cuidado que você deve ter ao informar detalhes sobre sua vida pessoal. Participe, enviando comentários e opiniões.

Nos dois casos narrados acima, a repercussão das palavras causou o malefício. Ambos os protagonistas pecaram por desconhecer as regras das redes sociais (a famigerada "netiqueta"). Mas, antes disso, se esqueceram das regras vigentes no próprio cotidiano. Certamente, ambos teriam mais cuidado se estivessem escrevendo um artigo para um jornal de bairro ou mesmo dando uma entrevista para uma TV comunitária.

"O artigo 482 da CLT prevê demissão por justa causa quando o funcionário, com vínculo claro com seu trabalho, difama a empresa em que trabalha", alerta o advogado especialista em direito eletrônico Renato Opice Blum. "Nas redes sociais, é preciso que se separe muito bem o propósito de um perfil, definindo se ele será usado para finalidades corporativas ou pessoais."

O caso do diretor-comercial e o do editor são contemplados pela mesma lei trabalhista, independente dos meios utilizados para a difamação. Ou seja, o problema nada tem a ver com as mídias sociais. Um operário vestindo o uniforme da empresa xingando o patrão ou um cliente por meio de palavrões teria o mesmo destino. "Nesse caso, não se considera que há cerceamento da liberdade de expressão", pontua Opice Blum.

Segundo ele, o problema está na forma e nos termos como as frases foram emitidas. Elas deixaram de ser simples comentários e se configuraram como difamação, prejudicando outras pessoas e a própria empresa (representada por seus produtos).

Tudo seria diferente se o linguajar fosse outro. "É possível discordar, sim, até de políticas empresariais ditadas pela diretoria, desde que usadas palavras adequadas e não ofensivas", esclarece. Mas as pessoas, inexperientes ainda com as novas mídias, cometem excessos e são punidas por eles.

Leia mais
Acompanhe a série especial sobre etiqueta nas redes sociais.

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