terça-feira, 30 de novembro de 2010

A meia-vida das citações


Por Marcelo Hermes

Oi pessoal,

Estive nesta semana no seminário de avaliação dos INCTs, aqui em Brasília (clique aqui para conhecer o INCT que participo). Uma das coisas que mais se falava era sobre o fator de impacto das revistas que as pessoas estavam publicando. Entretanto, em uma das palestras que assisti (do prof. Augusto Abe, Unesp, Rio Claro), isso foi questionado para a área de bioquímica e fisiologia comparada. Apesar da maioria dos estudos ter baixo impacto (pequeno número de citações), muitos estudos são citados por décadas. É a questão da 1/2 vida das citações de um artigo. Artigos de tópicos muito "quentes" tendem a terem muitas citações logo depois de publicados, mas em alguns anos o paper está "morto", ultrapassado. Muitos estudos em bioq. e fisiologia comparada apresentam meia-vida de muitos anos.
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Resolvi dar uma espiada nos meus 4 papers com mais de 100 citações. Cada um deles pertence a uma sub-área do vasto campo de estudo de radicais livres. Vejam que cada um deles apresenta um perfil único de citações ao longo do tempo. Os resumos dos estudos podem ser lidos clicando de ano de publicação de cada paper : 5-ALA (1991), Xilenol (1995), Tannic (1999) e paper Tania (2002).
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O que vemos aqui é que o estudo "5-ALA", de 1991, que por muitos anos foi meu paper mais citado, está morrendo em termos de citações.
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O artigo "Xilenol" (um método para medir peroxidação lipídica em tecidos animais) está dando sinais de queda em termos de citações por ano, após um auge em 2007. Observem que o paper - da área de bioquimica comparada - levou mais de 10 anos para chegar ao seu ápice de citações.
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O paper "Tannic" está em fase ascendente de citações/ano. Este paper está se tornando um "classic" para a área de antioxidantes vegetais.
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Finalmente, o "Paper Tania", de 2002, que é uma revisão sobre adaptações redox em ambientes extremos está em um patamar de citações por ano (apesar de uma pequena queda em 2010).
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Não se pode tirar conclusões genéricas sobre 1/2 vida de citações analisando apenas 4 artigos. A idéia desse post é mostrar que artigos podem levar mais de 10-15 anos até serem reconhecidos (exemplo: o paper "Xilenol"), assim como podem entrar na fase de esquecimento após 10-15 anos (foi o que aconteceu com meu "hot paper" de 1991). Assim, se não podemos avaliar um artigo pelas citações que obteve depois de, digamos, 3 anos de publicação, avaliar pelo fator de impacto (que tem a ver com a média de impacto de todos os artigos de uma revista, por um determinado período de tempo) chega a ser simplista demais.

Fonte: Ciência Brasil

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