terça-feira, 16 de agosto de 2011

As revistas de acesso livre tem fator de impacto?


Por Hélio Kuramoto

A Nature publicou um texto apresentando o ponto de vista de James Pringle, vice-presidente Development, Academic and Government Markets da Thomson ISI.

Segundo James Pringle, “uma das questões mais frequentes é sobre a posição da Thompson ISI a respeito do acesso livre. Ele se mostra surpreso porque ninguém questiona sobre a posição da Thompson ISI a respeito das revistas comerciais, das revistas da associações e sociedades científicas. A resposta é bem direta: se o acesso livre produzir revistas que disseminem informação relevante de alta qualidade para os pesquisadores, estas serão incluídas em suas bases de dados, caso contrário, não serão.”

Outra questão colocada é: “Há evidências que possam ajudar a indicar o impacto e influência de revistas de Acesso Livre na comunidade científica? Para começar a responder essa questão, a Thompson ISI realizou, recentemente, um pequeno estudo com revistas de acesso livre indexadas. Foi definido Acesso Livre puramente em termos do acesso – sem se preocupar com quem paga por ele – checando listas disponíveis de tais revistas e tentando verificar se as edições atuais e retrospectivas eram diretamente acessíveis pela Internet sem custos.

Não houve intenção que este estudo fosse exautivo ou definitivo. Foi simplesmente um primeiro olhar aos dados disponíveis. Futuramente, haverá maiores refinamentos e análises na medida em que os dados estiverem disponíveis.

Vários fatos se destacaram. Primeiro, fomos surpreendidos pelo número de revistas de Acesso Livre selecionadas para o estudo. Mais de 190 revistas de Acesso Livre passaram por um rigoroso critério de seleção. Em segundo lugar, estas revistas tendem a se comportar como as revistas constantes na nossa coleção. Enquanto algumas delas estão entre as mais importantes de suas áreas, outras não estão. Embora como grupo elas possam estar recebendo, inicialmente, mais citações, essas evidências, hoje, não são conclusivas e a diferença não é dramática.

É impressionante a variedade de revistas que apareceram nessa análise. Algumas, como a BMJ, tem uma longa e pretigiosa história, que trouxeram para esse novo modelo. Outras, como a BMC Câncer, são revistas recentes em busca de uma reputação. Outros ainda, como a Brazilian Journal of Microbiology, são revistas de importância regional que usam o Acesso Livre como uma forma de expandir a consciência global. Estas distinções são importantes. Existem várias rotas para o Acesso Livre, e os objetivos de cada editor podem ser diferentes.”

É importante salientar que a Brazilian Journal of Microbiology é mantida e disseminada via o SciELO.
Na visão de James Pringle, “o Acesso Livre, em si, não significa necessariamente mais citações nestas revistas – nem equivalem a menos. Nós achamos que isso acontece porque o aumento do número de leitores potenciais às revistas não altera o valor fundamental e relevância de um artigo em uma revista para o trabalho de um pesquisador em particular. Se algum modelo de acesso escolhido permite que a revista seja lida por todos ou pela maioria de seu público-alvo, esta audiência julgará a sua relevância. As revistas e outras formas de publicação científica terão impacto com base em outros critérios e não apenas no critério de ter acesso livre.

Cada vez mais, a literatura científica está se tornando mais acessível ao grande público, sob várias formas. Algumas revistas são inteiramente acessíveis ao público em geral sem nenhum custo. Outras são de acesso público, em grande parte. Outros ainda, embora não estejam acessíveis ao público em geral, são acessíveis à grande maioria de seu público-alvo por meio de contratos ou licenciamentos. Se a revista pode ser acessada pelo seu público-alvo, então os componentes de qualidade do jornal, tais como o perfil de seu conselho editorial, sua capacidade de atrair excelentes artigos e assim por diante, continuará a ser primordial que se pague para a sua produção.

Dado o processo de seleção, o nosso estudo não mede toda a gama de influência da literatura de Acesso Livre. Em vez disso, ele mede o impacto dessa literatura sobre o núcleo de publicações científicas – em certo sentido, a sua entrada no cerne da comunidade científica. A publicação científica está sendo reformulada de outras maneiras, com efeitos incertos. Algumas informações de qualidade que tem sido tradicionalmente disponibilizadas apenas como artigos coletados em revistas científicas está se tornando acessíveis diretamente como artigos depositados em repositórios institucionais. Estes repositórios podem ter padrão diferente de citação. Olhando ainda mais adiante, o artigo científico, em si, pode, eventualmente, ser dividido em componentes, como seus dados, objetos multimídia e materiais complementares tornam-se mais acessíveis diretamente a partir de bancos de dados, mas é muito cedo para prever até que ponto o Acesso Livre depende de ter uma ‘revista’ como nós atualmente conhecemos.

Nossas observações permitem aprender algumas lições úteis. Os periódicos de Acesso Livre podem ter um impacto semelhante a outras revistas, e os autores em potencial não deve temer a publicação nessas revistas apenas por causa de seu modelo de acesso. Além disso, não parece que a expansão do número de leitores potenciais, em si, transformará necessariamente o impacto de uma revista.”

Enfim, apesar do fato de a estratégia da via Verde ser a que oferece melhor custo/benefício e vir se consolidando em várias partes do globo, a estratégia da via Dourada não está totalmente parada, e a Thompson ISI comprovou isto, pelas palavras de James Pringle. Aliás, essa comprovação coincide com os resultados do estudo SOAP feito promovido pela Comunidade Européia junto a mais de 40 mil pesquisadores.

É preciso considerar também que James Pringle representa a Thompson ISI e, alguns de seus pontos de vista não são imparciais, evidentemente, existem interesses em jogo. Mas, o importante de tudo é que as revistas de acesso livre são similares a qualquer revista científica e pode tanto ter um alto fator de impacto ou não, depende da qualidade de seu comitê editorial, da qualidade dos artigos publicados e outros fatores. James Pringle tentou desqualificar o fato de um maior acesso provocar maior fator de impacto.

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