sábado, 8 de outubro de 2011

Pesquisas documentam línguas ameaçadas de extinção na Amazônia

Globo Universidade

Entre as pesquisas realizadas no Museu Emilio Goeldi, há algumas que estão relacionadas ao estudo das línguas indígenas, presentes na Região Amazônica. Segundo Ana Vilacy, pesquisadora da instituição, existem hoje no mundo seis mil línguas, sendo que muitas delas estão ameaçadas de extinção. O que chamou sua atenção para este fenômeno foi saber, quando ainda cursava a graduação, que somente no Brasil existem cerca de 150 línguas diferentes, sendo que dois terços delas localizadas na Região Amazônica, e todas elas com poucos falantes. Atualmente, Ana estuda duas línguas específicas de Rondônia, o Sakurabiat e o Puruborá, ambas pertencentes ao tronco Tupi, ou seja, derivadas da língua Tupi.


Ana Vilacy grava áudio na língua Menses, com Francisco Sakurabiat (Foto: Divulgação)

A pesquisa tem como objetivo localizar geograficamente cada uma dessas línguas, registrá-las e documentá-las em um acervo digital criado pelo Museu Emilio Goeldi. Ana e os outros quatro pesquisadores da instituição, quando vão às terras indígenas fazer registro audiovisual não só da expressão oral das pessoas, mas de todas as suas manifestações culturais, como cânticos e festas tradicionais. Esse trabalho que, a priori, era uma iniciativa dos pesquisadores do Emilio Goeldi, teve aceitação unânime dos povos indígenas, a ponto de, recentemente, um grupo do Pará, proveniente de uma das comunidades Tembé existentes na Região Amazônica, procurar os pesquisadores da instituição pedindo que eles documentassem sua língua e suas manifestações.

Ana Vilacy faz transcrição da língua Menkes, com Leidiane Sakurabiat (Foto: Divulgação)

Há um trabalho sendo realizado pelo instituto, em que músicas da comunidade estão sendo gravadas em CDs e DVDs para serem retransmitidas em outras comunidades Tembé onde a língua não é mais usada. Nos locais onde a língua mais falada não é mais a de origem, geralmente a primeira língua se torna a portuguesa. Há casos em que as terras indígenas estão próximas de fronteiras e aí, a primeira língua utilizada é a espanhola. Segundo Ana Vilacy, essa é uma boa resposta à pesquisa. “O nosso desafio é que o estudo tenha validade, ou seja, que as pessoas das comunidades tenham acesso ao acervo”, disse. O Museu Emilio Goeldi oferece formação técnica aos jovens dessas comunidades, que estão super interessados em aprender a manusear câmeras de gravação e ilha de edição. “Os da comunidade kaiapó estão recebendo oficinas de edição de vídeo para produzirem o seu próprio documentário. Eles estão adorando”, contou Ana.

Após a pesquisa de campo, os pesquisadores levam as gravações para o Centro de Documentação de Línguas Indígenas da Amazônia do Museu Emilio Goeldi, e lá, em laboratórios com programas de computadores capazes de distinguir a fonética da língua, eles catalogam-nas de acordo com o seu acervo. Esse material é utilizado para a produção de dicionários e gramáticas, além de ficar disponível para pesquisa acadêmica.
Atualmente, o grupo de pesquisadores doutores já documentou 70 línguas. Ainda é preciso identificar do que se trata cada material, para depois colocá-los no acervo digital. Estima-se que serão necessário anos para concluir o estudo com as 150 línguas e, embora seja um trabalho com prazo, ele é contínuo, podendo levar a outras vertentes de estudos.

Ana Vilacy fala da importância desse registro, não só para aquela população, mas para a sociedade como um todo. “O conhecimento de qualquer língua é importante para entendermos o ser humano. As línguas do tupi estão ameaçadas, têm pouco falantes, têm uma tendência a deixar de serem usadas. Por isso, é importante documentá-las, ter um registro. Quanto mais dados disponíveis, mais conheceremos, e faremos comparações para saber o que ocorre em outros lugares do mundo. Quando um grupo perde o uso da sua língua, ele perde todos os aspectos da vida social”, explicou.

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