Por Fábio de Castro / Agência FAPESP
Novas ferramentas computacionais estão permitindo o mapeamento rápido e automático de redes de coautoria acadêmica, facilitando a tarefa de identificar como se dá a colaboração entre pesquisadores de diversas áreas do conhecimento no Brasil.
Este é o tema de um trabalho produzido por Roberto Marcondes Cesar Junior e Jesús Mena-Chalco – respectivamente professor e pós-doutorando do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP) –, que será apresentado em Estocolmo (Suécia), na primeira semana de dezembro, durante a 7ª Conferência Internacional sobre e-Science.
O trabalho se baseia na experiência de Cesar Junior, membro da Coordenação da Área de Ciência e Engenharia da Computação da FAPESP, e de Mena-Chalco com o scriptLattes.
A ferramenta de software livre, que teve sua primeira versão lançada em 2005, foi projetada e desenvolvida pela dupla de pesquisadores com a finalidade de auxiliar a Secretaria de Pós-Graduação do IME-USP a gerar, de forma automática, os relatórios de produção científica de seus docentes.
De acordo com Mena-Chalco, grande parte das instituições acadêmicas e dos grupos de pesquisa no Brasil utiliza, para elaborar seus relatórios de produção científica, as informações disponíveis nos currículos da Plataforma Lattes –– a base de currículos acadêmicos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“A compilação manual dessas informações, entretanto, é uma tarefa demorada e muito suscetível a erros. O scriptLattes é capaz de gerar os relatórios acadêmicos de forma automática a partir dos currículos cadastrados na Plataforma Lattes”, disse à Agência FAPESP.
Embora já seja usada por vários grupos, a ferramenta ainda deverá ganhar cada vez mais usuários e ajudar a explorar todo o potencial da Plataforma Lattes.
“A Plataforma Lattes é um banco de dados riquíssimo, mas que não tem todo o seu potencial de informação aproveitado. Acreditamos que muitas instituições do Brasil poderão se beneficiar do scriptLattes”, disse Mena-Chalco.
Desde que foi lançado, o scriptLattes ganhou novas versões, agregando possibilidades como, por exemplo, o mapeamento das redes de colaboração e coautoria entre membros de grupos de pesquisa.
“A aplicação mais utilizada pelas instituições acadêmicas é a geração de relatórios de pesquisas, que precisam ser feitos a cada ano. Mas há outras funcionalidades importantes. Uma delas é um mapa de localização que indica orientadores e alunos de mestrado e doutorado, permitindo uma visualização da distribuição acadêmica dos grupos e o impacto de formação”, explicou.
A ferramenta permite ainda caracterizar redes de coautoria, permitindo uma avaliação da evolução da coautoria entre os pesquisadores. “Essa aplicação permite entender como evolui, a cada ano, o grau de colaboração entre pesquisadores de um determinado departamento. Com isso, é possível investigar se existem correlações entre a forma de colaborar e a quantidade de publicações de um grupo”, afirmou Mena-Chalco.
O scriptLattes facilita também a indicação e o recrutamento de pesquisadores com formação acadêmica específica. “Muitas vezes, há oferta de postos de trabalho, mas não é fácil encontrar pessoal capacitado ou interessado. A busca ocorre de maneira informal, recorrendo a colegas próximos. A ferramenta permite que essa busca seja feita de forma mais abrangente, localizando a pessoa com a formação ideal em toda a rede de pós-graduandos e docentes do país”, disse.
Grupos de pesquisa
O scriptLattes foi concebido para ser executado sob o sistema operacional GNU Linux, mas pode ser compilado e configurado para ser utilizado sob outros sistemas operacionais. As primeiras versões foram programadas em Perl. Na última versão, o script foi inteiramente reprogramado na linguagem Python.
“O scriptLattes baixa automaticamente os currículos Lattes em formato HTML, utilizando a informação que está livremente disponível na rede a respeito de um grupo de pessoas de interesse. A partir daí, compila as listas de produções, tratando apropriadamente as produções duplicadas e similares. Isso evita a redundância dos dados, que é um grande problema na hora de gerar relatórios acadêmicos”, disse Mena-Chalco.
Os relatórios gerados permitem avaliar, analisar ou documentar a produção de grupos de pesquisa quanto à produção bibliográfica, técnica e artística, quanto às orientações, participação em bancas examinadoras, eventos e comissões julgadoras – além de produzir a representação gráfica das redes de coautoria e mapas de geolocalização dos pesquisadores e pós-graduandos.
Atualmente, está em implementação um novo recurso para o scriptLattes: a identificação de tópicos de pesquisa publicados em determinada área do conhecimento.
“Funcionará com um caráter análogo ao trend topics do Twitter, permitindo que se explore o banco de dados da Plataforma Lattes para identificar, de forma automática, os tópicos de pesquisa em curso. Esse recurso será importante para futuras tomadas de decisão em políticas científicas”, explicou Mena-Chalco.
Os pesquisadores do IME-USP desenvolvem também um recurso que permitirá gerar árvores de genealogia acadêmica. “Fazendo uma exploração automática, poderemos visualizar de forma gráfica toda a linhagem do pesquisador, incluindo seus orientadores e alunos orientados. Com isso, será possível avaliar o impacto direto e indireto de cada pesquisador na formação de novos alunos”, disse.
Mais informações sobre o scriptLattes: http://scriptlattes.sourceforge.net
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