quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Os computadores podem ajudar você a achar o livro que deseja ler?


por Felipe Lindoso | Publishnews

A proliferação de títulos é um dos fenômenos mais marcantes do mundo editorial. Já comentei, em diversas ocasiões, o livro Livros demais, do Gabriel Zaid, filósofo mexicano. Zaid defende que o “encontro feliz” entre o livro e seus leitores é o grande problema, e que esse encontro é extremamente difícil. O leitor “acha” o livro quase que por acaso ao frequentar livrarias, ler jornais, conversar com outros leitores etc.
 
Em um momento em que milhões e milhões de títulos são publicados no mundo inteiro, todos os anos, a ansiedade em promover esse “encontro feliz” tem motivado algumas iniciativas destinadas a resolver isso. Ajudar o leitor a encontrar o livro que – ainda não lido – se enquadre nas suas expectativas.
 
Os meios mais tradicionais de achar esses livros, além daqueles já mencionados, eram as indicações dos livreiros e dos bibliotecários (onde existem bibliotecários e bibliotecárias, e bibliotecas equipadas, é claro). Esses profissionais, por cujas mãos passavam todas as “novidades”, e que também conheciam o gosto do leitor com quem conversavam, faziam as sugestões que achavam pertinentes.
 
Recentemente, topei com duas iniciativas que pretendem ajudar os leitores a resolver esse problema com a ajuda da informática, e uma terceira que espera tornar “mais profissional” esse labor de indicação feito pelas equipes das livrarias.
 
A primeira das iniciativas foi a proposta de fazer o “DNA dos livros”. Apareceu em um artigo do Ed Nawotka na Publishing Perspectives. Publiquei a tradução integral no meu blog. Aaron Stanton, o autor da ideia, conseguiu um certo apoio do Google para montar o site Booklamp.org. A ideia que ele teve foi desenvolver um software que “qualifica elementos como densidade, ritmo, descrição, diálogo e movimento, além de numerosas e nuançadas microcategorias, tais como ‘pistolas/rifles/armas’, ou ‘descrições explícitas de intimidade’ ou ‘ambientes de trabalho’”. A partir daí, comparando esses elementos em um banco de dados, o serviço especifica o que cada livro tem em comum com outros. Atualmente o banco de dados do Booklamp abriga cerca de 20 mil títulos. O site depende dos editores lhe enviarem originais em formato eletrônico, que são então analisados pelo programa. É o “Genoma dos livros” em elaboração.
 
Eu experimentei com alguns livros que já tinha lido e o resultado foi convincente: as indicações resultaram em outros livros do mesmo gênero que eu também já tinha lido e gostado. Mas Stanton adverte que o programa pode cometer erros que só serão “autocorrigidos” com o aumento do banco de dados. Stanton pretende que essas informações sejam úteis para os editores, e é aí que pretende ganhar dinheiro.
 
Outro site montado para ajudar os leitores a achar outros livros a partir do conteúdo de alguma obra que tenham lido é o Small Demons. O site pretende levar seus frequentadores a conhecer títulos onde pessoas, lugares e coisas que aparecem em um livro também aparecem em outros títulos. Ao entrar na aba “people” do site e clicar na foto de Miles Davis, por exemplo, os small demons levam você para City of bones, do Michael Connelly (publicado aqui pela Record como Cidade dos ossos), que está junto dos demais livros do autor e de outros livros que citam músicos em suas páginas, e mostra as fotos de Elvis Presley, Bob Dylan, Bono e muitos outros mais. O mesmo tipo de resposta aparece na aba “places” e na aba ”things”. Ao clicar em “Jaguar” (carro), o site manda você para uma bela coleção de livros policiais onde a marca automotiva é citada ou é “personagem”. E assim por diante. Por enquanto o acesso é grátis, mediante cadastramento.
 
A terceira iniciativa mistura informática com as indicações tradicionais de livreiros. Roxanne Coady, dona de uma livraria em Connecticut, bolou o Just the Right Book. A ideia da livreira é que as pessoas respondam a um questionário sobre seus hábitos e gostos de leitura. As perguntas são simples e nada agressivas: “Nas férias você prefere sentar na praia ou visitar a cidade com os moradores locais como guia?”; “Você prefere ler Jodi Picoult ou Gabriel García Márquez?”.
 
A partir daí a equipe de vendedores da sua livraria analisa o “mood” de leitura e indica livros, baseados em sua experiência e contatos com quem frequenta a loja.
 
Para evitar que as pessoas “ganhem” as indicações e saiam comprando online em outras lojas (na Amazon, por exemplo), ela pretende cobrar uma assinatura. Ainda não decidiu se vai cobrar um ou cinco dólares por mês de quem fizer a assinatura. Por enquanto ela tem cerca de dois mil assinantes, que responderam a quinze mil questionários. A discrepância, por enquanto, não a preocupa, já que seus sistemas mostram que metade dos que responderam compraram algum livro em sua loja.
 
Evidentemente, ela desenvolve todo um conjunto de ações para estreitar o relacionamento com seus clientes, promoções etc.
 
Esse último modelo, quem sabe, pode até ser adotado pelas livrarias brasileiras. Como eu não respondi ao questionário, não sei se funciona, até porque as respostas não saem na hora: são analisadas pela equipe da loja.
 
PS – A autora contraposta a García Márquez, Jodi Picoult, publica romances sobre “relacionamentos familiares”. Já publicou dezoito romances e ganhou um prêmio da Associação dos Livreiros da Nova Inglaterra (EUA) e, pelo que consegui descobrir, tem três livros publicados no Brasil: A guardiã da minha irmã e A menina de vidro, pela Verus, e Piedade, pela Planeta do Brasil. Não sei o que leva os livreiros da Nova Inglaterra a antepor os dois como “preferências de leitura” e a partir daí ter critérios para indicar livros.

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