quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cordel digital

Tradição nordestina ganha espaço na rede com obras completas disponibilizadas por instituições. Foto: Reprodução


Popularizada em feiras livres da Região Nordeste do Brasil, onde seus folhetos impressos em papel pardo adornados por xilogravuras ficavam expostos em varais, a literatura de cordel também pode ser acessada via internet. Uma das principais fontes para tal é a Fundação Casa de Rui Barbosa, localizada no Rio de Janeiro. Repositório de literatura popular desde 1989, o órgão disponibilizou parte do acervo de 9 mil folhetos em um site especialmente construído para facilitar o acesso remoto. Segundo Dilza Ramos Bastos, chefe de Serviço de Biblioteca da instituição, o trabalho começou em 2001. Inicialmente, a ideia era divulgar o material por meio de CDs e, depois, migrou para a rede. A digitalização foi uma medida importante para a preservação do próprio acervo, que passou a ser menos manipulado por pesquisadores. “Nós diminuímos a manipulação e facilitamos o acesso à informação visual do texto e das ilustrações”, explica. “Hoje são raros os casos em que precisamos dar acesso direto ao documento.”


A origem exata da literatura de cordel é difícil de ser pontuada. Formas literárias similares são encontradas em outros países, como França, Espanha e Portugal. Os romances ibéricos em versos, oriundos da tradição oral e posteriormente impressos em folhetos, e os desafios improvisados do Nordeste, são indicados por pesquisadores como algumas das forças criadoras do cordel. Surgido na primeira metade do século XIX em Pernambuco e na Bahia, a forma clássica do cordel atingiu o auge da produção entre 1930 e 1960.


Impressos em papel barato, os folhetos de cordel mediam cerca de 12×18 centímetros e possuíam de oito a 32 páginas, ilustradas com imagens reproduzidas de jornais ou xilogravuras. Seus versos rimados relatavam desde temas tradicionais (como os romances de cavalaria medieval) até eventos sociais, econômicos e políticos brasileiros, como o fenômeno do cangaço ou o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954.Um dos primeiros cordelistas a imprimir e vender seus versos foi o paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918), autor de Peleja de Manoel Riachão com o Diabo, publicado, provavelmente, em 1889. Tal -folheto pode ser lido e impresso na íntegra pelo usuário por meio do site da Fundação Casa de Rui Barbosa (www.casaruibarbosa.gov.br/cordel).


Outras instituições como a Fundação Joaquim Nabuco, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel e até mesmo a Biblioteca do Congresso norte-americano possuem acervos digitais semelhantes.


Atualmente, existem 2.340 folhetos digitalizados no banco de dados virtual da instituição, inaugurado em julho de 2008. A escolha das obras publicadas na rede procurou obedecer aos critérios de direitos autorais e de raridade. Por causa disso, apenas 25% dos 9 mil folhetos foi disponibilizado para o acesso via internet. O número corresponde aos autores que já caíram em domínio público ou cujos herdeiros autorizaram sua reprodução.


Para o presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva, todos os meios de comunicação acabam se constituindo como novos espaços de produção e divulgação dos cordéis. “Muita gente pensou no início que o rádio de pilha acabaria com a literatura de cordel. Pelo contrário, ele serviu como veículo de divulgação para os cordelistas e repentistas”, reflete o cordelista nascido na cidade cearense de Ipu, em 1937.


Onde encontrar


Fundação Casa de Rui Barbosa
Sem a necessidade de cadastro, é possível folhear e imprimir em baixa resolução os cerca de 2340 cordéis do acervo. No entanto, a mecânica de busca do banco de dados é um pouco complicada.


Academia Brasileira de Literatura de Cordel
Possui um bom acervo de cordelistas contemporâneos, mas disponibiliza apenas capas e os versos em texto, sem a diagramação de um cordel impresso.


Fundação Joaquim Nabuco
Apresenta 41 folhetos de cordel do acervo da instituição na íntegra, em formato pdf.


Biblioteca do Congresso dos EUA
Reúne informações, biografias e imagens de folhetos de cordel.O conteúdo, porém, está em inglês.


Fonte: Carta Capital

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