quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Nara Leão ganha acervo digital

Família da cantora reúne em site músicas, fotos e documentos da cantora. Se estivesse viva, Nara completaria 70 anos neste mês de janeiro


Danillo Casaletti / Época


A internet é a vilã e a mocinha dos artistas. Se por um lado a rede facilita a pirataria – pela qual cantores, compositores e músicos são lesados em seus direitos autorais-, por outro ela ajuda a manter viva e a divulgar a obra de um artista, por meio de fotos, vídeos, áudios, páginas informativas e troca de mensagens entre fãs. E contribui também cada vez mais para a venda de músicas.


No ano em que Nara Leão completaria 70 anos de idade (dia 19 de janeiro) e depois de 23 anos de sua morte, a família decidiu ‘oficializar’ as buscas pela cantora em um site oficial. A filha da cantora, a cineasta Isabel Diegues, afirma que o site começou a ser elaborado há três anos. “Queríamos reunir as informações sobre a carreira dela, mostrar às pessoas o que ela cantava e pensava”, diz Isabel que é filha de Nara com o cineasta Cacá Diegues. Além de Isabel, a cantora também é mãe do produtor Francisco Diegues.


O site naraleao.com.br reúne fotos, discografia e documentos da cantora. O leitor, ao navegar pelos discos que Nara lançou (foram 23), vai poder escutar todas as faixas gravadas por ela. Há coisas bastante interessantes, como, por exemplo, uma versão em espanhol de “Carcará”, sucesso do início da carreira de Nara, que entra como extra do disco O canto livre de Nara Leão, de 1965. Outra faixa curiosa é uma versão de “Bloco do Prazer”, conhecida na voz de Gal Costa, que na versão de Nara, no disco Romance Popular (1981) ganhou ares de forró.


A única música que ficou de fora foi “E que tudo mais vai pro inferno”, gravada por Nara em um disco dedicado ao repertório de Roberto e Erasmo Carlos. Como é sabido, Roberto, a partir da década de 1980, passou a implicar com a canção, sucesso dele na Jovem Guarda, parou de cantá-la e decidiu não autorizar mais gravações e reedições da música. Uma besteira. Nesse caso vale recorrer à “busca informal” e encontrar o arquivo na internet para conhecer a versão de Nara para a “música maldita”.


Para Isabel Diegues, Nara ficou marcada pela visão limitada de ‘musa da bossa nova’, estilo que abraçou no início de carreira. “É muito carinhoso, claro, mas a Nara foi mais que isso. Acho que esse site é um ponto de referência para quem quer conhecer as outras faces do trabalho dela”, diz Isabel.


De fato, Nara, que nasceu em Vitória (ES) e foi criada no Rio, apesar de ter cantado e ‘abrigado’ os músicos e compositores da Bossa Nova – que se reuniam em seu apartamento em Copacabana para ensaiar e fazer música – sempre olhou para o outro lado da cidade e, logo em seus primeiros discos, deu espaço aos sambas feitos nos morros cariocas. São de 1965 sucessos como “Opinião” e “Acender as velas”, ambas de Zé Kéti.


Em 1966, conseguiu um grande sucesso popular ao interpretar “A banda”, composição do então novato Chico Buarque, que se tornou um dos seus compositores prediletos. Ao longo de sua carreira, gravou nomes como Tom Jobim, Vinícius Moraes, Fagner, Fausto Nilo, Nelson Sargento, Francis Hime, João Donato e Paulinho da Viola. Nara morreu em 1989, aos 47 anos, vítima de câncer no cérebro.

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