terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Por que só se fala em e-books?
Porque eles encantam e assustam. Não só os leitores, mas principalmente os editores.
Cindy Leopoldo | Publishnews
Os leitores (nem todos) se encantam com as novas possibilidades de armazenamento de sua biblioteca, a praticidade de comprar um livro a qualquer momento e de qualquer lugar. Os editores se encantam com o fato de poder colocar seus livros para vender mais rapidamente, para todo o país, sem precisar passar pelas etapas da impressão e da distribuição física (embora no formato digital existam ainda outras etapas que, dependendo do conteúdo do livro, podem levar quase a mesma quantidade de tempo).
Há, porém, coisas que assustam: nem leitores nem editores (e menos ainda as livrarias) estão prontos para o “desaparecimento” dos livros impressos e alguns acham que os e-books vieram justamente para isso. Não tenho como prever se coexistirão para sempre (e também não sei quanto “para sempre” dura), mas o trabalho atual tem sido fazer os dois formatos. E isso força as editoras a criar novos cargos e a treinar pessoal exclusivamente para a criação de produtos que ainda não vendem o suficiente para pagar tudo isso.
Sei que a ideia comum é a de que é só pegar o arquivo final do impresso e colocá-lo para vender como e-book. Pode ser que existam editoras que trabalhem assim, mas no geral há o que chamamos de “conversão”. Eu achava que essa conversão era mais fácil que a criação do zero de um e-book, mas não é. Atualmente, vejo que é mais difícil converter, por exemplo, um livro impresso para ePub do que começar um sem modelo impresso. Isso acontece porque o impresso cria expectativas irreais de diagramação, e como exemplos dolorosos posso citar que imagens e fontes não raramente têm que ser integralmente trocadas. E, sério, isso assusta. (Quando você troca todas as imagens por um formato que você sabe que ficará perfeitamente legível, mas esse formato é tão pesado que cada página com imagem demora mais de dez segundos para passar, isso assusta demais! Mas, ok, esses são terrores muito pessoais...)
Sim, e-book assusta quem faz, quem lê e quem vende. Então, por que, diabos, fazer isso? Porque (quase) todos admitem que ter a opção de se livrar do físico quando der vontade é uma boa ideia. Ok, uma ideia que parte das empresas de tecnologia, mas ainda assim boa. Como é boa a ideia de ter zilhares de músicas estocadas digitalmente e de ver filmes direto do celular ou dos tablets. Isso é encantador. Mas, sinceramente, quando penso em músicas e filmes digitais, eu não penso em iTunes ou Netflix, por exemplo, eu penso em sites tipo Megaupload, ou o mais popular no Brasil, 4shared. Isso é mais que assustador... e é uma tendência. Busque agora, por exemplo, “e-books” no Google e você vai ver que a primeira página de resultado quase inteira tem a palavra “grátis” ao lado de “e-books”.
Além disso, Paulo Coelho está finalmente apresentado seus poderes sobrenaturais ao mundo e apoiando a pirataria dos seus livros. Isso encanta o leitor, mas apavora as editoras, que, com a digitalização de seu trabalho, sente que pode perder não só o dinheiro que entrava com a venda dos livros para os leitores, como também os seus autores best-seller, pois estes podem vender (ou até doar) suas obras diretamente para seus leitores.
Mas o que me encanta na atitude do Paulo Coelho é que ele, diferentemente do Metallica na época do Napster, por exemplo, está tentando agradar a maioria. O que não foge às palavras do filósofo Jeremy Bentham sobre a função do capitalismo, que seria produzir “o maior bem para o maior número”. Sinceramente, me encanta ver o capitalismo mudar, ainda que por exigência de outra indústria e não completamente por causa de cyberativistas Anonymous. Encanta bem mais do que assusta.
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