terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O Bibliotecário e a leitura conectada

Independente dos formatos, livros sempre existirão, livros sempre serão fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade sadia.


por Rodney Eloy


Ultimamente só se falam nos muitos argumentos a favor dos e-books ou livros eletrônicos. Embora tenham surgido em 1971, pouco a pouco tem se tornado popular devido a proliferação dos dispositivos (tablets, smartphones, e-readers etc). No entanto, em meio a este turbilhão existem os céticos que profetizam que tais dispositivos extinguirão os livros impressos e consequentemente as bibliotecas.


Toda esta revolução não deixa de ser interessante, porque como bibliotecário, a leitura de livros tem uma importância significativa em minha vida e tenho algumas centenas deles em meu apartamento. A princípio, depois de certa resistência - mesmo sendo um entusiasta da tecnologia - resolvi me enveredar neste mundo "desconhecido" e ter minha própria opinião sobre o assunto.


Lembro-me da primeira vez que ouvi falar de um tablet, foi em janeiro de 2010, com o anúncio de lançamento por Steve Jobs, de um tal iPad. Mal sabíamos, os pobres mortais, que aquilo era o início de mais uma revolução nos costumes.


Em novembro de 2011 adquiri meu primeiro tablet, um modelo econômico, entretanto, mesmo com seus inúmeros recursos, o que realmente me motivou a comprá-lo foi a opção de leitura de e-books. Como não poderia ser de outra forma, minha estreia se deu com a biografia de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson. Em um trecho tenso da obra, o autor relata uma conversa de Jobs com Barack Obama, onde Jobs declara "Todos os livros, o material didático e os sistemas de avaliação deveriam ser digitais e interativos, personalizados para cada aluno e com feedback em tempo real." Seria este um prenúncio do fim, vindo de uma mente inquieta?


Ainda não conhecemos totalmente até onde estes sistemas nos levarão, o que posso adiantar é que a leitura no tablet tem suas peculiaridades, a primeira, é que não tive de transportar 1 kg das 607 páginas do livro em papel de Isaacson, além disso tem as opções de adequar o tamanho da letra, ler no escuro, controlar o brilho da tela, fazer anotações e marcar páginas, exemplos simples entre tantos, mas que demonstram a praticidade da leitura com os citados recursos. Não me julguem antecipadamente, adorei a experiência e recomendo a todos, mas em tudo existem prós e contras, vantagens e desvantagens. Continuarei lendo livros em papel? Claro que sim, nada substituirá a experiência estética, lúdica, espiritual da leitura em livros impressos. E-books são um item a mais, no imenso ecossistema da leitura. Eu e minha esposa adoramos viajar, oportunamente, eu levo meu livro impresso, ela, o de sua preferência, o tablet também, como um complemento tecnológico e lado a lado, sem superior ou inferior, sem anular um ao outro, ambos distintos, coexistindo e prosperando pacificamente, porém essenciais nos dias de hoje. E mais, acredito que cada leitor deve saber o que é melhor para si e o que pode se adequar em seu contexto. Na área acadêmica, por exemplo, alunos de arquitetura poderiam evitar o peso em suas mochilas dos "Benevolos", "Neuferts", "Gombrichs" etc


A medida que vemos a tecnologia avançando, em contrapartida, a resistência ainda é grande, mas a história parece se repetir, pois já no século XV, Johannes Gutenberg sofria fortes criticas por parte dos copistas que eram contra seus tipos móveis. Ironicamente, o maior catálogo de e-books gratuitos do mundo chama-se Projeto Gutenberg, que inclusive disponibiliza inúmeras obras em português.


Grandes personalidades literárias deixaram a resistência de lado, como Ray Bradbury, que aos 91 anos, permitiu que seu clássico "Fahrenheit 451" fosse publicado na versão e-book. Aos 79 anos, Umberto Eco ao invés de carregar 20 livros em uma turnê pelos Estados Unidos, comprou um iPad e está adorando a experiência, não poupando elogios.


Nos Estados Unidos, uma nação com tecnologia em seu DNA, a dinâmica é outra. Existem escolas sem bibliotecas físicas, porém com bibliotecários digitais, “bibliotecas antenadas” - especialmente públicas - que já emprestam milhares de obras eletrônicas normalmente. É comum encontrar leitores com seus e-readers em transportes públicos, praças, praias etc.


No Brasil, a aquisição e utilização deste tipo de tecnologia ainda são bem discretos, porém a Amazon já tem planos de comercializar o seu maravilhoso aparelhinho e-reader por terras tupiniquins, trata-se do Kindle. Por considerar as taxas de importação exorbitantes, prefiro por enquanto esperar o início das vendas por aqui.


Portanto, vem a questão, os dispositivos eletrônicos substituirão os bibliotecários e bibliotecas? Uma das funções dos bibliotecários é organizar informação, independente dos suportes em que se encontram. As bibliotecas precisam se adaptar a este caminho sem volta e ir ao encontro das preferências dos novos leitores. Os livros impressos vão acabar? Não sei, talvez. Existe um lobby forte de ecochatos, que estão por aí, remodelando a sociedade já faz um bom tempo.


Por fim, independente dos formatos, livros sempre existirão, livros sempre serão fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade, devemos pensar na integração dessa transmidialidade dos livros. A magra estatística de livros lidos por ano em nosso país indica uma subnutrição cultural aguda, e isto sim, é um problemaço a ser resolvido, pois como “tuítaria” Monteiro Lobato se estivesse vivo, em ser perfil no microblog: “Um país se faz com homens, mulheres e livros eletrônicos.”


Rendam-se! A festa nunca é tão divertida quanto parece do lado de fora. A história dos livros continua a ser escrita. É só ligar e ler!




@rodneyeloy é bibliotecário universitário e responsável pelo Pesquisa Mundi




Não deixem de se atualizar sobre o assunto visitando a tag e-books do Pesquisa Mundi

23 comentários:

  1. Ótima atualizada no Lobatão. Não apenas nos EUA que vemos a questão amplamente inserida no contexto cultural, mas na maioria dos países da Europa e coisa já está emparelhando.

    ResponderExcluir
  2. Existem profissionais que já perderam o bonde faz tempo. Não adianta apresentar pontos positivos, eles não mudam a mentalidade nunca.

    William Correia

    ResponderExcluir
  3. Parabéns pela quebra da resistência aos e-books, definitivamente é um caminho sem volta, e está a passos largos.

    Eu tb tive a 1º experiência de leitura em Tablet há pouco tempo, e posso falar com toda franqueza, o app iBooks que utilizei no iPad para tal, é incrível, faz a leitura ter uma dinâmica no minimo mais interessante...

    Todavia, o intercâmbio de livros no formato ePub me agradou muito, na qual livros recém lançados podem ser adquiridos sem colocar a mão no bolso.

    Deixo a dica para os interessados:

    www.iosbooks.com.br

    Almir jOHncoto

    ResponderExcluir
  4. Amigão Rodney, você é o máximo tablet ou livro... Sou apaixonado por livros, ainda hoje não consegui me adaptar a leitura de livros com a tecnologia, mas o mundo é isto ...amanhã o que será no lugar do tablet? belo artigo Rodney...estarei postado no blog. Abração

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. VC apaixonado por livros Roberson? Já terminou o Os Irmãos Karamazov ? rs

      Brincadeira amigo? Abração!

      Almir jOHNcoto

      Excluir
  5. Parabéns pelo post, acredito também que o digital e o físico devem coexistir..são muitas as vantagens q o digital trás...
    Fica a dica à todos os profissional para pegarem carona nesse novo suporte para atrair mais leitores e oferecer novos serviços!

    ResponderExcluir
  6. Querido amigo Rodney.

    Primeiramente parabenizo por um texto rico, sucinto e impecável.
    Particularmente gosto de sentir o livro sobre as mãos, podendo fazer anotações ao lado do corpo do texto além de sublinhar colocando notas inclusive na contra capa.

    Sou muito fã de tecnologia porém no mundo da informação pós-moderno nos falta conhecimento e sabedoria... época em que se escreve muito e se diz pouco. Muitos usuários terão HDs abarrotados de livros virtuais sem ao menos desfrutar de um verso de Castro Alves... pois na terra da tecnologia poesia é luxo para mentes que flutuam em marte.

    Sem mais delongas; creio que será uma ótima ferramenta p/ um bom professor, palestrante que pode se servir de uma biblioteca em miniatura, mas creio que o sabor da leitura está longe de ser conquistado através dos tabletes. Também creio que os ecoanacronicos deveriam começar reciclando suas próprias ideias e horizontes... como diria Eistein "o que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano"; não são os livros que estragarão o meio ambiente mas a falta de leitura sadia, enriquecedora.


    Um forte abraço
    Fernando Nepomuceno.

    ResponderExcluir
  7. Que beleza de artigo!

    Parabéns Zorzo!

    Mais uma vez você surpreende e presenteia, a nós e a Ciência da Informação com um texto didático, objetivo e esclarecedor!

    Maria Aládia Braga

    ResponderExcluir
  8. Belo artigo, Rodney! Ainda não me dei ao prazer de ler um livro digital. Seu artigo instigou-me para tal. Com certeza, nossas belas árvores adoraram a ideia!! rs Um grande abraço!!

    Vergílio

    ResponderExcluir
  9. Perfeito Rodney! Artigo muito bem escrito.
    Essa é a tendência e como vc mesmo disse, não importa como leremos, mas sim lermos...
    O importante é estamos atentos e acompanharmos as novas tendências, as novas tecnologias e, consequentemente, adaptamos nossas Bibliotecas a elas e aos nossos leitores.
    Abraços... :o))

    ResponderExcluir
  10. Muito bom o artigo.

    Ainda este semestre será lançado o iPad 3 e o Kindle no Brasil, novos ventos estão chegando.

    Meses atrás, uma Nerd aqui da Facul veio me perguntar se eu sabia quantas árvores eu já tinha derrubado por ler livros impressos, vê se pode?.

    Tem um artigo do Alex que pode servir de complemento ao seu: O bibliotecário, o livro eletrônico e os dispositivos - http://bibliotecno.com.br/?p=2111

    ResponderExcluir
  11. Rodney! Artigo muito interessante. Há pouco tempo também, fiquei sabendo que na escola do meu filho de 10 anos, os professores terão que adaptar-se com as novas tecnologias digitais disponibilizadas para as escolas públicas. Carteiras e Losas digitais, farão parte do cotidiano do ensino nas escolas. Ou seja, se esta tecnologia chegou em algumas escolas públicas e já estão forçando os professores a se adequarem, nós bibliotecários com certeza temos que fazer a nossa parte. Temos que estar atentos as novas tecnologias e saber direcionar nossos conhecimentos biblioteconômicos em prol da melhor disponibilização e recuperação da informação em qualquer suporte.

    Grande Artigo Rodney, meus Parabéns.

    Abraço

    Élcio

    ResponderExcluir
  12. Parabéns pelo artigo, caro amigo, vejo que continua com a mente aberta a novas tecnologias. Eu já li alguns livros digitais, no notebook. Ainda não experimentei um Tablet. Creio que o livro de papel sempre terá
    seu charme. Francismar Aparecido de Castro.Abraço

    ResponderExcluir
  13. Edivaldo J. de Oliveira15 de fevereiro de 2012 às 13:45

    Parabéns pelo artigo Rodney, objetivo e elucidador, eu acredito que os livros impressos e os e-books possam co-existir harmoniosamente, lembro-me que na década de 90 -na segunda metade para ser mais exato- com o acesso facilitado à Internet, alguns profissionais da área da Biblioteconomia acreditavam que seria a extinção dos Bibliotecários, o que não ocorreu, sobrevivemos e hoje a Internet é nossa aliada.

    ResponderExcluir
  14. Fala Mestre.

    Fantástico o artigo...muito bom mesmo...PARABÉNS...

    Eu ainda não tive o prazer de ler livros em um tablet...na verdade, a primeira experiencia que eu tive com um, ele desligou na primeira tentativa de ver tv, e ai não ligou mais...dai tive de devolver para o dono...rs

    Eu já tentei ler pela tela do celular, mas como é obvio, é inviável, a menos que vc tenha uma excelente visão, ou uma lupa.

    Seu texto me instigou a adquirir um aparelho desses, mas penso que vou esperar a Amazom trazer seu aparelho para o Brasil, o Kindle, pois eu me conheço, e sei que se for um tablet...a leitura vai dividir lugar com jogos e outras baboseiras.

    abraços Irmãozinho...e é isso ai...vamos artigar ( do verbo criar artigo...entende??? não??) rsrsrs

    ResponderExcluir
  15. Muito bom, vc conseguiu demostrar a qualidade do e-books e valorizar o bom e velho livro, ambos podem sim conviver juntos. Valeu abraços..

    ResponderExcluir
  16. Estamos vivendo num momento muito excitante da história, porém precisamos buscar sempre o equilíbrio necessário (e muitas vezes esquecido) entre o tradicional e as inovações.

    ResponderExcluir
  17. Muito bom o artigo que vc escreveu, bastante esclarecedor, quebrou alguns pre conceitos que eu tinha, sobre e-books.
    Obrigado.
    Victor G Gomes.

    ResponderExcluir
  18. SEMPRE É POSSÍVEL TRANSFORMAR, É SÓ MANTER O EQUILÍBRIO. OBRIGADA POR COMPARTILHAR SUAS IDÉIAS.
    MÁRCIA XAVIER

    ResponderExcluir
  19. Gostei muito do texto (o estilo está muito clean e preciso, parabéns!). O caminho é sem volta, com inúmeras vantagens, mas nem tudo são flores. Fiz um post complementando o debate no blog de Metodologia em Ciência da Informação.

    ResponderExcluir
  20. Também gostei do texto. Resumindo, acho que os e-books vem aí para melhorar a acessibilidade aos livros, e as bibliotecas ficaram dentro de um servidor, comandadas e pesquisadas pelo os próprios bibliotecários.

    ResponderExcluir
  21. Não importa qual o suporte (papel ou bytes) o importante é ler! A TV não acabou com o cinema e nem os tablets acabarão com o livro em papel. Pelo menos não em um futuro próximo.

    ResponderExcluir
  22. Bom artigo Rodney, parabéns.
    Ainda me pergunto como se dará esse processo, se ocorrer por completo, de substituição dos suportes informacionais. A memória é algo que a tecnologia ainda não provou preservar no longo prazo. Os ecochatos devem lembrar que o papel é material renovável e seu descarte de baixo impacto ambiental. Enfim, muito a se pensar ainda.

    ResponderExcluir