quarta-feira, 9 de maio de 2012

Contra a produção serial do saber

Slow Science: A jornalista Fabiana Moraes escreve sobre o movimento que discute a sobrecarga de atividades acadêmicas.


por Fabiana Moraes

A imagem clássica da linha de produção fordista, aquela em que uma série de trabalhadores bate um martelo sobre uma peça que mais à frente vai ser manipulada por outra fila de pessoas fardadas, apressadas e focadas no salário do final do mês, se contrapõe, simbolicamente, à ideia do intelectual que lança mão do tempo para maturar o pensamento. Porém essa oposição, bem o sabem professores e pesquisadores, não só brasileiros, mas de outros países, há muito deixou de ser realidade: a constante chamada à ordem recebida pelos departamentos das mais variadas universidades, entidades de pesquisa e afins é prova disso. Funciona como na linha de produção: pesquisador escreve texto para revista, organiza provas, orienta alunos em mestrados e doutorados, participa de congressos, é chamado para bancas, coordena curso, pesquisador – acredite – até ministra aulas. Quem não consegue dar conta dessa realidade, que absurdo!, faça o favor de se ajustar ou não receberá incentivos (verbas). É uma medida que não atinge apenas professores e departamentos, mas alunos que deixam, por exemplo, de receber bolsas para fomentar seus estudos. Simples assim – mas não tanto.
O ato do pensar faz parte, hoje, do momento no qual ser como uma impressora multifuncional é o que torna sua sobrevivência possível. O produtivismo é a bola da vez, em detrimento de uma prática em que o esmero com o que está sendo levado ao conhecimento público fica em segundo plano. Termômetro disso é o enorme uso, entre pesquisadores, de um medicamento à base de cloridrato de metilfenidato, voltado a pessoas com déficit de atenção. Ele estimula o sistema nervoso central e suprime o sono, visto como um empecilho por quem tem que orientar, escrever artigos, participar de congressos e bancas, dar aulas...


Essa realidade é discutida num artigo, escrito no final de 2011, pela professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Maria Ester de Freitas, O pesquisador hoje: entre o artesanato intelectual e a produção em série, no qual lemos críticas duríssimas a respeito do “sistema de produção intelectual fordista”. “O professor-pesquisador-publicador-orientador é cada vez mais pressionado a ser um faz-tudo. Certamente, a sobrecarga de trabalho e o uso de seu tempo pessoal de férias e de finais de semana o tornam um apagador de incêndios, indo de um prazo a vencer a outro. A leitura e a reflexão, tão fundamentais no nosso métier, praticamente não encontram mais seu lugar em nossa rotina”, afirma.


Leia a matéria na íntegra na edição 137 da Revista Continente.
 
 
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Devagar e sempre

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