quarta-feira, 23 de maio de 2012
O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você
Em seus primórdios a internet parecia tanto um estratégia para revolucionar o mundo da comunicação quanto uma via nova para conectar pessoas de diferentes regiões, sugerindo, por exemplo, uma grande tei ade ideias e opiniões.
Em O filtro invisível - o que a internet está escondendo de você, lançamento da Zahar, Eli Pariser mostra que o ambiente virtual, na verdade, pode estar afastando cada vez mais as pessoas indo a passos rápidos em sentido oposto ao da democracia. Pariser, presidente do conselho diretor e ex-diretor executivo do portal MoveOn.org - com mais de 5 milhões de assinantes - , é também fundador da Avvaz.org, uma das maiores organizações de ativistas do planeta.
O motivo do que à primeira vista parece um suspeito afastam é o que ele chama de "personalização da internet" consequência do excesso de informações - nem sempre relevantes - que a cada dia abastece blogs e sites de notícias e inunda caixas de e-mail e redes sociais como um dilúvio bíblico. Esse fluxo informativo, em vez de esclarecer, confunde e deixa perdidas multidões que procuram por um norte midiático.
O que é indispensável ler? Quais de milhares de músicas disponíveis são recomendáveis para ouvir? Para evitar esses caos e o colapso de atenção, grandes empresas como Google e Facebook trabalham para tecer um perfil de cada um dos usuários de seus serviços. Trata-se, na verdade, de um filtro, nem sempre produtivo (ao menos para você), para barrar o excesso de informação que parece não ser do seu interesse. A ideia, no mínimo discutível, é oferecer ao usuário apenas informações e produtos de seu interesse, o equivalente aos muros altos dos condomínios urbanos, para evitar o que, lá fora, parece a completa desorganização social. Assim, o ambiente virtual toma a forma narcisa do espelho, reduzindo uma grande rede de comunicação às demandas da personalidade de quem a utiliza.
Para quem acha que a ideia parece uma grande teoria da conspiração, no entanto, Pariser propõe uma análise: observe seu mural de notícias do Facebook, por exemplo. Quais atualizações aparecem com mais frequência? Certamente as de pessoas com quem você mantém mais contato. E essas pessoas, provavelmente, integram seu círculo social e têm ideias e valores parecidos aos seus. Supondo que sua posição política tenda para partidos de esquerda, por exemplo, e que você compartilhe informações ness área, o filtro do site de relacionamento passará a ocultar da sua página as publicações de pessoas com simpatia por partidos de direita. O resultado é que o conteúdo que você irá ler exibe apenas o que parece
ser compatível com seus pensamentos. O resultado disso sugere uma cena darwinista, de certa maneira: se as informações que intercambiamos moldam nossa visão de mundo, a unilateralidade talvez não seja muito promissora.
Até recentemente era preciso comprar o jornal diário para ler o caderno de esportes, por exemplo. Agora, basta acessar blogs e sites para informações detalhadas sobre o último jogo. O conceito de produto mudou sutilmente: o que é vendido, e consequentemente é a fonte de lucro, não é mais a matéria-prima da mídia, a notícia, mas os usuários da mídia. Ou seja, pago pelos anunciantes. Dessa forma os sites devem garantir que as pessoas que acessam suas páginas consumam os produtos anunciados. Assim é formado o círculo de venda on-line, com a notícia atuando como isca num anzol virtual.
A personalização da internet está submetida a essa lógica. Experimente trocar ideias com alguém sobre sapatos e, provalmente, já no dia seguinte sua página terá anúncios sobre tênis e hidratantes para os pés. Essa política de personlização foi anunciada recentemente nas página do Google. Para saber mais detalhes bastava clicar o link indicado pela empresa - o que pouquíssimos internautas fizeram.
Ao escolher determinado telejornal ou revista, provavelmente a pessoa sabe que as notícias transmitidas passaram por edição e, assim, tem ao menos uma vaga ideia dos princípios editoriais de cada veículo de comunicação e está ciente de que existem mais opções em outros canais e em bancas de jornal. No universo on-line, no entanto, esse filtro é cada vez mais invisível, privando o leitor de escolher o que gostaria de ter em sua tela. Se, como disse John Stuart Mill, entrar em contato com o diferente é uma das principais fontes de progresso, a personalização da internet deve surtir efeito contrário. Em uma analogia para reforçar esa possiblidade Pariser compara o filtro de conteúdo da rede a um presente de aniversário: as pessoas só ficam ansiosas para abrir o embrulho porque sabem que há algo lá dentro que as deixa curiosas. Como os filtros virtuais camuflam o conteúdo de forma dissimulada, ninguém se sente compelido a aprender sobre o que não sabe.
Para concluir: ao longo das páginas de O filtro invisível, o leitor é convidado não a rejeitar ou temer a internet, mas a se consientizar da força do mundo virtual. - Débora Queiroz dos Santos
Fonte: Scientific American - ed. 120 (Transcrição)
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A internet está cheia de filtros
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