sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Na internet, um projeto genoma para o mundo da arte


The New York Times | R7

Qualquer fã de música sabe que há mil maneiras de encontrar novas canções online: é só rolar as listas digitais e serviços de rádio online como o Pandora, que servem também como mecanismos de indicação de músicas. Do mesmo modo, os inscritos no Netflix são normalmente cobertos de sugestões que vão de comédias românticas a filmes de terror, baseadas nos filmes já vistos.

Mas, até agora, não havia nenhum tipo de orientação automática para amantes da arte que buscassem descobertas online – nada do tipo "se você gostou de 'Número 1', de Jackson Pollock, poderá também gostar de 'Número 18', de Mark Rothko".

É aí que entra o Art.sy, uma startup cuja versão pública acaba de ser aberta na rede. Esse grande repositório gratuito de imagens de arte e guia de apreciação de arte online se baseia na ideia de que os públicos que se sentem à vontade com sites centrados em imagens como o Tumblr e o Pinterest estão agora habituados a passar horas navegando por entre telas e esculturas em seus monitores e tablets, especialmente se tiverem ajuda a um clique de distância.

Depois de dois anos de testes reservados e com milhões de dólares de investidores, incluindo algumas celebridades dos mundos da arte e da tecnologia, o site pretende fazer pela arte visual aquilo que o Pandora fez pela música, e o Netflix, pelos filmes: tornar-se uma fonte de descoberta, prazer e educação.

Tendo como parceiros 275 galerias e 50 museus e instituições, o Art.sy já digitalizou vinte mil imagens no seu sistema de referência, chamado de Art Genome Project (Projeto Genoma da Arte). Mas, conforme estende o alcance de sua plataforma, o Art.sy também levanta questões sobre como (ou se) a análise digital deve ser aplicada à arte visual. Algoritmos conseguem explicar a arte?

Robert Storr, decano da Escola de Arte da Universidade de Yale, tem suas dúvidas.
"Depende muito da informação, de quem está fazendo a seleção, de quais são os critérios, e de quais os pressupostos culturais por trás desses critérios", diz Storr, que já foi curador de pintura e escultura do Museu de Arte Moderna de Nova York. Em termos de compreensão da arte, ele acrescentou: "Tenho certeza de que será redutor".

A tecnologia é, ao menos, expansiva. Para conseguir fazer sugestões, os computadores devem aprender um julgamento humano especializado, processo iniciado com a rotulação: dê à máquina códigos que digam a diferença entre um retrato renascentista e uma pintura modernista feita com gotejo de tinta, e então ele poderá selecionar entre infinitas obras, fazendo comparações e estabelecendo conexões entre elas.

Para o Art Genome Project, Matthew Israel, 34, doutorado em arte e arqueologia pelo Instituto de Belas Artes da Universidade de Nova York, lidera uma equipe de doze historiadores da arte que decidem o que são e como devem ser aplicados tais códigos. Alguns rótulos (que o Art.sy chama de "genes", e entre os quais reconhece cerca de 800, com novos sendo acrescentados a cada dia), denotam qualidades razoavelmente objetivas, como o período histórico e a região de onde vem o trabalho, ou se ele é figurativo ou abstrato, ou se pertence a alguma categoria bem estabelecida como o cubismo, o retrato flamengo, ou a fotografia.

Conforme as categorias são aplicadas, a cada uma delas é atribuída um valor entre 1 e 100: um Andy Warhol pode receber uma nota alta na escala da pop art, enquanto uma obra pós-Warhol pode ser ranqueada de outro modo, a depender de suas influências. O software pode ajudar a filtrar imagens em busca de qualidades visuais básicas como a cor, mas a alma do juízo emitido é humana.

"Literalmente, uma pessoa entra e insere ela mesma um número em todos os campos relevantes", diz Israel.

A complexidade técnica é sobrepujada pelos desafios curatoriais.

"Vimos que os dados são muito mais importantes que a matemática", diz Daniel Doubrovkine, 35 anos, encarregado da engenharia do Art.sy. "Como você vai escolher algo 'caloroso' com uma máquina? Não é o nosso caso."

Do mesmo modo, o Pandora tem a sua salinha cheia de musicólogos desconstruindo cada música; cada análise é então inserida num algoritmo, chamado de Music Genome Project, que recomenda canções em seu tocador com base no gosto dos usuários e das avaliações que eles fazem de cada faixa. (Joe Kennedy, diretor executivo do Pandora, foi consultor do Art.sy).

Mas o Art.sy pretende fazer conexões entre obras de arte que pertencem a mundos aparentemente diferentes, com um catálogo que abrange peças do British Museum de Londres, da National Gallery de Washington e do Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles, entre outros. Um parceiro que entrou no projeto recentemente, o Museu Nacional de Design Cooper-Hewitt, de Manhattan, que é um braço da Smithsonian Institution, adicionou objetos ao cardápio, o que será um teste da tecnologia do site e dos paralelos que é capaz de traçar, diz Seb Chan, diretor de mídia digital e emergente do Cooper-Hewitt.
Culturalmente, "o que significa recomendar uma pintura a partir de uma colher do século VII, por exemplo?", pergunta ele. Antecipando tais questões, a equipe do Art.sy tem um blog explicando como funciona esse processo.

O diretor executivo e fundador do site, Carter Cleveland, 25 anos, imaginou o Art.sy quando concluía sua graduação na Universidade de Princeton e não conseguia encontrar uma obra de arte de que gostasse para decorar seu quarto no dormitório. Ajudado por sua família – seu pai escreve livros sobre arte; sua mãe é financista – depois da graduação ele conseguiu atrair parceiros como o galerista Larry Gagosian e investidores como Dasha Zhukova, figurinha do mundo da arte, e Wendi Murdoch, a esposa de Rupert Murdoch, que tem colaborado nos contatos. Eric Schmidt, do Google, e Jack Dorsey, do Twitter, também são investidores, e John Elderfield, que já foi curador chefe de pintura e escultura do Museu de Arte Moderna, é conselheiro.

Com seu apoio, Cleveland ficou livre para empreender sua ambiciosa visão para o site.
"Toda a arte do mundo será aberta a qualquer um que disponha de uma conexão à internet", diz ele, articulando um lema da companhia, senão um plano de negócios. Espera-se que os rendimentos venham de comissões de vendas e de parcerias com instituições.

Mas o Art.sy ainda está longe de ter toda a arte do mundo – o Google Art Project, outro repositório de imagens, já tem quase o dobro do seu tamanho – e o genoma só é robusto na medida de sua própria coleção. Um aficionado por antiguidades gregas ou romanas veria pouco uso nele agora, o que constitui uma omissão cultural semelhante a não se encontrar filmes de Hitchcock no Netflix. Storr, de Yale, também se preocupa com a possibilidade de os buracos na base de dados serem preenchidos com as coisas erradas.

"Esse lugar está cheio de arte ruim, à qual ninguém deveria ser direcionado", diz ele, após examinar o site.

Os fundadores do Art.sy respondem que, uma vez que a compreensão da arte está em constante evolução, o site não tem como ser um guia definitivo.

"É melhor olhar para ele considerando a seleção como bons pontos de partida", diz Sebastian Cwilich, chefe de operações do site.

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