segunda-feira, 22 de outubro de 2012

"Vivemos um retorno à palavra escrita"


O herdeiro e líder no New York Times afirma que o futuro do jornalismo na era digital será fabuloso - e aposta na qualidade do conteúdo para conquistar a audiência em todos os meios


Época - A estratégia do Times está baseada na produção de conteúdo. Mas o meio digital é dominado por empresas de distribuição, como o Google ou Facebook, que não produzem o próprio conteúdo. Por que a estratégia de vocês estaria certa?Sulzberger - Nesse ambiente em constante mudança, você não pode eleger uma única estratégia e achar que basta. É preciso continuar testando e aprendendo. Você pode nos comparar a Google, Facebook e dizer: "Olha só o tamanho da audiência deles". Isso é absolutamente justo. Mas sabe qual seria a versão disso há 50 anos? "Olha sua audiência comparada à CBS, ou aos programas de televisão." Você estaria certo. Mas o proprósito é diferente. Então o público vem até nós pelo que somos. Isso não quer dizer que não soframos concorrência por espectadores e anunciantes. Da mesma maneira que acontecia em relação ao rádio. Tenho um ótima história. Na década de 1850, um editor de Nova York escreveu em seu jornal que acabara de testemunhar a morte dos jornais. A literatura, ele dizia, sobreviverá. Mas os jornais devem desaparecer. Ele acabara de conhecer...o telégrafo. Não estou inventando essa história. Sempre dizem que o telégrafo matará os jornais, o rádio matará os jornais, a televisão matará os jornais. Qual é a primeira tecnologia, em 150 anos, que nos traz de volta à palavra escrita? A digital. Não quer dizer que o vídeo não seja importantíssimo para nosso sucesso. Ele é. Não significa que o crescimento internacional não seja crítico. Olhe para essa oportunidade incrível que temos agora. Baixei o New York Times no meu Ipad assim que aterrissei. É incrível, não? Há as tecnologias móveis, e precisamos entender como isso afetará nossos negócios. O público está se afastando cada vez mais dos computadores para usar iPads e smartphones. Mas tudo é um retorno à palavra escrita. É fascinante.

Época - Qual o futuro do jornalismo?Sulzberger - Fabuloso. Não precisamos nos preocupar.

Época - Mesmo?Sulzberger - Sim. Estamos num período de constante mudança. As pessoas estão abandonando os computadores e aderindo aos dispositivos móveis. Mas o impresso ainda está lá. Temos mais ou menos 850 mil assinantes do jornal impresso, número constante há bastante tempo. Claramente, o mais imporante é que estamos nos movendo em direção ao que o público quer. Esse é um desafio. Com os anúncios em dispositivos móveis - ainda não está claro o que fazer. Ninguém criou um modelo para ganhar dinheiro com publicidade no iPhone. No iPad? Mais fácil, muito mais fácil. No iPhone? Difícil, bem mais difícil. Vídeos? Está claro o que fazer. Os anúncios em produtos audiovisuais são um questão resolvida. Mas esse ainda será um cenário em constante mudança. Quando comecei, 80% de nosso lucro vinha de publicidade, e 20% da circulação. Agora, é meio a meio.

Época - Vocês estão criando um website no Brasil, em português. O que estã por trás dessa estratégia?Sulzberger - Há um desejo real pelo tipo de informação de qualidade que oferecemos. E vamos expandir isso oferecendo conteúdo nos idiomas nativos. No Brasil, teremos 30 reportagens por dia. Dois terços delas serão traduzidas. Um terço será de reportagens sobre o Brasil, escritas em português, para leitores brasileiros vivendo no país ou fora dele.

Trechos da entrevista com Arthur Ochs Sulzberger Jr. concedida à Hello Gurovitz na Revista Época n. 753
Imagem: Internet

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