quinta-feira, 8 de novembro de 2012

É o livro digital, estúpido!

A fusão da Random House com a Penguin cria um gigante no setor editorial capaz de brigar de igual para igual com Amazon, Apple e Google no nascente mercado de publicações online.

Por Carlos Eduardo Valim e Luciele Velluto | IstoÉ Dinheiro

Por que Robert Langdon, o heróico professor de ícones religiosos do livro O código Da Vinci, se uniria ao esperto e bigodudo detetive belga Hercule Poirot, criado por Agatha Christie? A resposta é simples: pelo livro digital. Ao menos é o que deixou claro o anúncio de formação, na segunda-feira 29, da Penguin Random House, uma editora com faturamento de US$ 4 bilhões. Trata-se de uma fusão de duas das principais companhias das chamadas seis grandes do mundo editorial. A Random House já era a maior do mundo e responsável pela publicação de alguns best-sellers atuais de grande repercussão, como a trilogia 50 tons, o “pornô para mamães” da inglesa E.L. James. 

 Marjorie, da Pearson: nova empresa pode ter portal e até leitor
de livros eletrônicos

Em seu catálogo, de mais de 100 selos editorais que controla, estão ainda os autores Stephen King, Michael Crichton, Haruki Murakami e até Bill Clinton e Barack Obama. Já a Penguin foi criada pelo lendário editor britânico Allen Lane, que levou a alta literatura para os livros de bolso e a tornou acessível às massas. Entre os seus primeiros autores, publicados no mesmo ano de sua fundação, em 1935, estavam Ernest Hemingway e Agatha Christie. “Juntas, as duas empresas deterão 23% do mercado e terão maior poder de negociação com Amazon, Apple e Google”, diz Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Tão importante quanto aumentar a capacidade de barganhar é que o negócio une dois dos maiores grupos de entretenimento do mundo. Sediada em Nova York, a Random House faz parte do conglomerado alemão Bertelsmann, dono do selo musical BMG e da maior rede de transmissão de rádio e televisão da Europa.

A Penguin, por sua vez, é controlada pelo grupo britânico Pearson, com interesses no setor de educação e dono das tradicionais publicações jornalísticas Financial Times e The Economist. No Brasil, o Pearson controla o sistema de ensino do Sistema Educacional Brasil (SEB) e 45% da editora paulista Companhia das Letras. A Penguin Random House terá 53% de seu controle nas mãos do Bertelsmann e o restante ficará com o Pearson. A dúvida é se, com todo esse porte, a nova editora terá capacidade para mudar o jogo contra as empresas de tecnologia para definir quem ganhará mais com o mercado de e-books. A CEO da Pearson, Marjorie Scardino, afirmou durante o anúncio da joint venture que a nova empresa terá mais recursos para investir em publicações digitais. 

 Inimigo comum: a Amazon, de Jeff Bezos, é quem mais ganha com os livros online,
e atrai a ira das editoras

Isso pode significar até a criação de uma plataforma nova de internet para a venda de livros diretamente aos leitores ou mesmo um leitor eletrônico que bata de frente com o Kindle, da Amazon. “Poderemos ser mais ousados em tentar novos modelos nesse excitante e dinâmico mundo dos livros e leitores eletrônicos”, afirmou Marjorie. A empolgação da executiva pode ser explicada pelo potencial de expansão do mercado digital. Nos Estados Unidos, há a expectativa de que decuplique, entre 2011 e 2014, para atingir os US$ 4,2 bilhões de receitas. A própria Amazon já vendeu, no ano passado, mais livros eletrônicos do que físicos – apenas quatro anos depois de entrar no novo nicho. As editoras, agora, temem que a prática de descontos da empresa de Bezos prejudique as suas margens de ganhos.

Essas disputas travadas em torno do mercado editorial também terão impactos no Brasil, que movimentou R$ 4,8 bilhões em vendas de livros em 2011. A Amazon já anunciou a sua chegada ao mercado local. Por sua vez, a rede brasileira Livraria Cultura divulgou, em setembro, uma parceria com a canadense Kobo para trazer leitores eletrônicos para o País. A nova Penguin Random House não deve assistir passivamente esse movimento. O CEO do Bertelsmann, Thomas Rabe, afirmou em nota oficial que a joint venture deve aumentar a “presença nos mercados de maior crescimento, como Brasil, Índia e China”. É nesse ponto que a união pode ser vantajosa para a Companhia das Letras. “Estão nos considerando uma boa porta de entrada para o País”, diz Luiz Schwarcz, fundador da editora.
 


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