quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Tecnologia de ponta



O que falta é mesmo conhecimento, cultura, estudo de verdade

por Eduardo Mahon | Mídia News
Imagem: Internet

Em tempos de tecnologia e com equipes especializadas em facilitar a vida do consumidor de softwares, a expertise ligada à manutenção de computadores estará ultrapassada em pouco tempo.

Aliás, programas de formulação de websites e outras mídias ficarão tão acessíveis ao usuário comum que perderão a tônica no mercado de trabalho. Da popularização da era digital, o que faltará é cultura. 

E, como sempre, o conhecimento será um dos bens mais preciosos do ser humano.

Em pouco tempo, fomos capazes de dar largos passos tecnológicos, revolucionando o conhecimento e a forma de relação interpessoal. 

Sou do tempo em que o volume da televisão ainda demandava um senta-levanta interminável; em que o telefone era discado; em que havia curso de caligrafia e datilografia; em que se usava ficha e se virava o disco e, por fim, em que o sistema de busca cartorial era o de fichamento em papelão. Vieram os computadores, a internet e as redes de relacionamento.

Nunca foi tão fácil compartilhar informação. Nunca foi tão difícil ter conhecimento pra compartilhar. Paradoxalmente, óperas, concertos clássicos, literatura universal, tudo foi digitalizado e, simultaneamente, nada foi compreendido, exercitado, lido ou degustado. As crianças tem acesso a tudo, mas nada é aproveitado. 

O Google é uma ferramenta facilitadora que consegue desconstruir o conceito de produção individual. Diante dos inúmeros programas de acessibilidade, informação, armazenamento, o que falta é mesmo conhecimento, cultura, estudo de verdade.

Erros de português são deprimentes na rede. Não se trata somente de adaptações de linguagem, gírias e outros modismos, mas questões relacionadas à formação gramatical. Os jovens não suportam mais perder três ou quatro horas sobre os livros; tudo indica que até a dinâmica neurológica da assimilação de informação está mudando drasticamente. 

Quem sabe escrever e se comunicar com antigas armas destaca-se porque ser original é valioso demais. 

O jovem lê, mas não compreende o que leu. A metodologia de leitura mudou, assim como as formas de assimilação que demandam imediatividade de imagem. A cognição quase virou sinônima de percepção e, desta forma, os antigos hábitos sofisticados de polemizar, argumentar e criar novas teorias estão apequenados. 

Tínhamos uma forma clássica de aprendizado que era por meio do debate, contraposição, diálogo. Um enorme esforço criativo era demandado, enquanto o ensino atual é um jogo de adaptações, plágios, condicionamentos pobres de inteligência.

É claro que não sou partidário da antiga consulta às enciclopédias. Mas os pedagogos precisam formular métodos de garimpo sociológico e filosófico dessas antigas fontes. De fato, a inteligência abstrata aumentou e o próprios conceito de inteligência evoluiu. 

Perceber a revolução que se deu em termos de linguagem, de aprendizado e de comunicação é essencial para que a criança e o jovem consigam situar-se no mundo. Educadores e pais necessitam formular pontes entre experiências e cultura com as novas formas de interação social. Ainda é possível um conteúdo linguístico rico, mesmo em tempos de instantaneidade como o nosso.

Daqui em diante, sobreviverá não apenas o mais plugado no novíssimo programa e sim aquele que conseguir inserir conteúdo nesse contexto. A cultura precisa ser visitada pela tecnologia, servindo de suporte para a interatividade da inédita pedagogia digital. 

O conhecimento é o maior patrimônio do ser humano e a cultura continua sendo o maior empreendimento da humanidade.

Eduardo Mahon é advogado em Cuiabá.

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