quinta-feira, 11 de julho de 2013

Gibis entram na era digital


Desde que os heróis dos quadrinhos ganharam vida no cinema, nos videogames ou nas animações feitas para a TV, as páginas do velho gibi passaram a ter a sobrevivência questionada. Por um tempo, pensou-se que as novas gerações trocariam a leitura e os desenhos estáticos no papel pelo som e pelo movimento. Mas a reação vem na tela do tablet e do computador, onde antigos e novos enredos das HQs ganham um formato híbrido de narrativa interativa, que reúne diversas ferramentas do entretenimento digital.

Quem estava acostumado a ver Batman como uma figura imóvel, por exemplo, pode se impressionar com as novas histórias do Cavaleiro das Trevas lançadas pela DC Entertainment. O personagem foi escolhido como primeiro protagonista das novas plataformas digitais da empresa. O Homem Morcego, que já tem antigas aventuras disponíveis também pela internet, agora deve ganhar movimento no formato DC2, cujo ritmo é ditado pelo leitor.

Em Batman ‘66, a cada clique, balões, onomatopeias e até mesmo efeitos sonoros surgem e dão às ilustrações o clima da série de TV dos anos 1960. Em contraste com a comédia de estilo retrô, a história obscura de Batman: Arkham Origins, baseada no realista videogame homônimo, será a primeira a usar a plataforma DC2 Multiverse, que permite aos leitores escolher diferentes destinos para os personagens. Cada capítulo deve resultar em dezenas de finais possíveis, oferecendo novas formas de ler a história a cada vez.

Usar a tecnologia para criar uma relação entre os leitores, as telas e os próprios roteiristas é um caminho esperado para a DC. Desde que a editora passou a disponibilizar as edições digitais simultaneamente às revistas de papel, as vendas dos dois formatos se multiplicaram, o que levou a empresa a criar histórias especialmente para leitura em meios eletrônicos, quase sempre baseadas em tramas de outras mídias, como televisão ou games.

Indies precursores

A tendência digital chegou agora às histórias de personagens famosos, mas artistas independentes já brincam com as ferramentas da web há algum tempo. Em 2008, o quadrinho digital Nawlz combinou animação, efeitos sonoros e textos numa história que usa um formato panorâmico e não linear para misturar realidades virtuais. A história ganhou uma segunda temporada e foi adaptada para o iPad em 2011. Graças aos efeitos digitais é possível misturar a visão colorida do protagonista com a realidade fria do futuro imaginado pelo autor.

A narrativa começa a se desenrolar normalmente da esquerda para a direita, mas pode voltar atrás em uma cena de flashback ou ganhar outra dimensão na descrição de um sonho, com uma variedade de efeitos que dão nova vida às ilustrações.

Classificar obras que misturam artes gráficas e efeitos digitais ainda é um desafio. Enquanto algumas dão destaque para a participação do leitor, outras transformam os quadros em pequenos filmes independentes. É o caso de Botton of the Ninth, descrita pelo autor Ryan Woodward como “a primeira graphic novel animada”. O belo aplicativo para iPad usa cenas de duas e três dimensões para contar a história da jogadora de beisebol Candy Cunningham, num futuro que ilustra, em tom sépia, inovações tecnológicas do ano 2172. O traço pode parecer familiar aos brasileiros, já que o artista é responsável pela abertura de desenho coreografado da novela Amor à Vida.

Movimento brasileiro

Para o roteirista Yves Santaella Briquet, o excesso de elementos multimídia pode afastar demais a história do visual esperado de uma história em quadrinhos. 
— Na minha concepção, não é mais motion comics, é uma animação. E isso deixa a pessoa frustrada, porque ferramentas como o HTML5 têm muitas limitações, deixam a animação meio dura. E se a leitura é transformada em algo muito interativo, vira um aplicativo para brincar, e o leitor não consegue imergir na história — critica.

Briquet coordenou a nova motion comic brasileira Mascate, um conto de terror ambientado em São Paulo. Na trama, o anti-herói Marco precisa sobreviver numa realidade afetada por misteriosas crateras que serviram de porta de entrada para monstros horripilantes. O formato de quadros e balões parece tradicional, mas a tela do computador abre espaço para efeitos sonoros, música e movimento que dão nova vida a criaturas insectoides inspiradas nas antigas histórias em quadrinhos de ficção científica. Os quadros e balões são revelados conforme o clique do leitor ou de forma automática, garantindo uma série de sustos a cada imagem que surge na tela.

— Na verdade, é uma experimentação. O projeto foi pensado para ser algo bem mais simples. Mas a divulgação atraiu tanta atenção que eu sabia que tinha de fazer algo que atendesse às expectativas — revela o roteirista, que já recebeu várias propostas de trabalho baseadas na primeira história da empresa brasileira Draconian Comics, inclusive para o formato impresso.

O projeto, que precisou recorrer ao crowdfunding (arrecadação de dinheiro pela internet) para pagar os custos de produção, levou um ano para ser concluído. Mascate também deve ser lançado na forma de aplicativo para tablet como uma trilogia.

via Portal Vitrine

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