sábado, 24 de agosto de 2013

Como o Google está redescobrindo o Séc. 19

O Google Books é lugar de pós-vida acadêmica. Onde autores esquecidos estão tendo uma espécie de reencarnação

Paula Findlen | Galileu
Transcrição

No meio de 2008, comecei a notar que o Google Books estava redefinindo meu modo de pesquisar. Em ano sabático, com tempo de sobra para me dedicar a vários projetos, fui, como a maioria dos historiadores, em busca de documentos impressos nas bibliotecas. Ao mesmo tempo, estava encantada com as descobertas digitais. Baixava, feliz, grandes achados. No final do ano, meu escritório era ocupado, basicamente, por um computador cheio de livros virtuais.

Percebi então que, graças ao Google, nós do século 21 estamos nos acostumando a ler muito mais livros do século 19. Como estes perderam os direitos autorais, agora estão todos online a nosso dispor, sem custos. Não me refiro aos clássicos, como O Capital, de Karl Marx, que nunca saiu do centro da bibliografia universitária. Agora lemos trabalhos menos conhecidos de seus contemporâneos. A digitalização torna acessível escritores que foram negligenciados por serem considerados muito datados, duvidosos.

Trabalhos que falharam em entrar no cânone - literário, histórico etc. - tendem a definhar nas empoeiradas prateleiras das universidades. Digitalizá-los permite que uma nova geração de intelectuais olhe para eles como se fosse algo fresco. Isso representa uma mudança significativa no modo como pensamos o conhecimento. Google Books ser torna um tipo de portal vitoriano que nos leva a um grande mar de autores fora de catálogo, muitos dos quais ajudaram a criar conceitos e disciplinas.

Não sou uma intelectual do século 19, nem mesmo uma especialista na área, mas acho que  a digitalização desse período é uma das mais fascinantes novas fontes para conhecer os séculos que o precederam. Foi um tempo em que muitas das práticas escolares, agências governamentais e instituições culturais tomaram forma. Ler esse século online permite que os observemos, de modo mais próximo, a migração de modo mais próximo, a migração de textos e objetos - e as histórias que foram escritas a partir delas - fora de suas configurações originais e dentro de depósitos modernos de conhecimento.

Hoje vejo o Google Books e demais plataformas similares como lugares pós-vida acadêmica, onde autores esquecidos e obras descartadas estão tendo uma espécie de reencarnação.

Para deixar claro, esse tipo de redescoberta não promete nenhum tipo de fama individual - não transformaremos ninguém em cânone duma hora para outra. No entanto, gosto de pensar que estamos à beira de um reconhecimento coletivo de que os autores tidos como menores merecem um lugar em nossas bibliotecas do século 21.

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