quarta-feira, 16 de outubro de 2013

WikiLeaks invade as telas com novo filme


Por David Carr | The New York Times

Julian Assange já era uma celebridade antes de existir um longa-metragem sobre ele e um documentário sobre o WikiLeaks.

Com um passado misterioso e cabelos quase brancos, Assange surgiu na consciência pública em 2010. Enquanto revelava milhões de segredos, tinha uma espécie de fama rarefeita.

A história ainda inacabada de um avatar aventureiro que combate forças poderosas era um filme esperando para acontecer. Assange já estava sendo convertido em mito muito antes do lançamento de "We Steal Secrets", documentário dirigido por Alex Gibney, e antes da divulgação de "O Quinto Poder", filme de Bill Condon que será lançado em todo o mundo nas próximas semanas, com Benedict Cumberbatch no papel de Julian Assange.

Os críticos de Assange dizem que ele se comportou de modo descuidado -para alguns, insensato. Essa visão ganhou força depois de ele ser procurado pela polícia por acusações de agressão sexual na Suécia.

Bonito, impetuoso, dividido e perseguido, Assange é uma espécie de espião free-lancer que lança operações secretas contra interesses multinacionais poderosos.

O fato de ele, que antes viajava por todo o mundo, agora estar confinado na embaixada equatoriana em Londres é um terceiro ato paradoxal. "Ele criticou nosso filme, mas não podemos deixar de sentir como ele está vulnerável neste momento", disse Condon.

Para Gibney, Julian Assange expressa um impulso humano duradouro. "As pessoas querem e precisam de um herói. Aqui temos alguém que é capaz de configurar um computador e instantaneamente estar dentro dos caminhos neurais da World Wide Web inteira", disse o diretor. "É difícil resistir à história de um sujeito que percorre o mundo munido apenas de seu laptop."

"O Quinto Poder" está cheio de cenas de Assange abrindo seu computador com um gesto decisivo. Nunca antes um laptop pareceu tão sexy ou poderoso.

Tentando impedir que bots digitais governamentais tomem conta de nossas vidas, Assange parece estar lutando em prol de toda a humanidade.

Outra coisa interessante: ele gosta de dizer que vai esmagar um adversário "como se fosse um bug".

Os dois filmes mostram Assange como uma figura trágica que funde seus interesses pessoais aos do movimento.

Talvez ninguém devesse ter sua vida vasculhada da maneira como tem sido o caso de Assange, mas ele se mostra quase invariavelmente hostil à mídia.

Assange já deixou claro que detestou os dois filmes. Reação que não surpreende, pois vem de alguém que enxerga agendas ocultas e mentiras em toda parte. Ele e seus apoiadores fizeram críticas contundentes a "O Quinto Poder".

Em mensagem enviada à reportagem, um membro do WikiLeaks que assessora Assange sugeriu que o filme, além de se equivocar em relação aos fatos, não tem boas perspectivas comerciais.

"A maioria das pessoas aprecia nosso trabalho e a luta contínua que ele representa", comentou.

"Essas pessoas formam a espinha dorsal do mercado para filmes sobre o WikiLeaks. Mas, em vez de atender a esse mercado, a DreamWorks decidiu defender outros interesses. O resultado é um filme reacionário e entediante do qual apenas o governo americano pode gostar. O resultado é que o filme não tem público e não tem comunidade na qual possa ser promovido. Vai fracassar nas bilheterias, e com razão."

Bill Condon declarou que seu filme é fiel a seu tema, incluindo o retrato que faz da alegada hipocrisia de Assange em relação às informações organizacionais e ao WikiLeaks.

"Para uma figura pública, Assange é uma das pessoas mais sensíveis a críticas que já vi", comentou Condon. "Ele acredita na transparência e a advoga, exceto no que diz respeito a si próprio."

"Ele não se dá conta disso, mas tornou-se um herói trágico perfeito, alguém que lançou as sementes de seu próprio fim."

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