quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Jornais nunca tiveram tantos leitores mas nunca venderam tão pouco



O coordenador de projetos editoriais do grupo Impresa, Henrique Monteiro, afirmou hoje que, embora os jornais tenham mais leitores do que alguma vez tiveram, nunca venderam tão pouco, criticando o «total agnosticismo» das empresas em relação às novas plataformas.

A falar na conferência internacional «O Regresso do Jornalismo: A Grande Reportagem na Era Digital», no painel de debate sobre «modelos para o jornalismo digital em Portugal», Henrique Monteiro resumiu o problema em discussão com a seguinte ideia: «Os jornais nunca tiveram tantos leitores, mas nunca tiveram tão poucas vendas», disse.

O jornalista, que foi diretor do semanário Expresso, defendeu que tal acontece porque «existe um total agnosticismo em relação às plataformas [na Internet]», argumentando que, embora «o fundamental seja o jornalismo», este «tem de saber adaptar-se às novas realidades».

Para Henrique Monteiro, os jornais em papel vão ser «cada vez mais de nichos» e o jornalismo digital «vai ser cada vez mais popular».

«Nenhum meio matou os anteriores, os suportes é que são descartáveis. O meio nunca acaba, nunca vão acabar os jornais, mas podem -- e vão -- ficar configurados de outra forma», acrescentou.

Para a diretora-executiva do Público online, Simone Duarte, o atual modelo de negócio «está falido», e hoje «já não se pensa em jornalismo sem pensar em vídeo, móvel e [rede] social».
É preciso, defendeu, que os jornais se assumam como «marcas» e no que essa marca significa na relação com o leitor.

De acordo com a Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT), o jornal vende hoje quase 30 mil exemplares por dia, mas o site tem, de acordo com Simone Duarte, 52 mil leitores registados e a conta do jornal da rede social Facebook tem 450 mil seguidores, mas «alcança um milhão de pessoas».

Atualmente, acrescentou a jornalista, o Público «fala» com 3 milhões de pessoas por mês: «E a métrica -- o tempo que o leitor fica com o jornal -- é muito importante. Não importa onde [em que plataforma]», afirmou.

Na opinião do diretor de informação da TVI, José Alberto Carvalho, os modelos de financiamento dos média na era digital terão que ser «múltiplos», uma vez que o velho modelo, em que o preço de capa e a publicidade financiavam o jornal, «morreu».

Hoje, defendeu, «vivemos num mundo em que nos sentimos saciados de informação». A informação, disse o jornalista, «tornou-se banal», criando uma «falsa ilusão de saciedade».

«A pergunta que acho que deve ser feita é: a sociedade quer mesmo jornalistas? As pessoas valorizam as notícias? Estão dispostas a pagar por elas?», interrogou-se.

O diretor de informação da TVI, José Alberto Carvalho, afirmou que «o que as empresas jornalísticas estão a fazer, sobretudo em países em crise financeira, é tentar fazer o mesmo com cada vez menos», considerando que, neste momento, «não há outra discussão no seio das empresas».

O responsável lamentou ainda que a Google tenha «entre 50 e 70 milhões de euros de lucros por ano com Portugal -- com dinheiro retirado do mercado publicitário português -- e que este dinheiro seja tributado no Luxemburgo».

«Que se saiba este dinheiro sai do mercado publicitário português. Acho que isto é um problema gravíssimo. Porque eu não tenho como melhorar as condições de trabalho dos extraordinários jornalistas que trabalham na TVI, porque não consigo convencer os gestores a investir, e não consigo reorganizar a minha redação para breaking news, agenda e jornalismo distintivo», concluiu.

via Diário Digital - Portugal

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