sábado, 28 de dezembro de 2013

A Biblioteca Perdida

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As lembranças que Emily tinha de Holmstrand culminavam com um encontro em que conversaram sobre tecnologia. Era uma lembrança viva, que permanecera nítida em sua memória. Tinha ocorrido alguns meses antes, e ela estava em uma mesa na Biblioteca Gould do Carleton College, e perto dela estava Arno. Ambos pesquisavam os catálogos eletrônicos no computador. Um professor de óculos, cabelos brancos e casaco de tweed sentado diante da tela de um computador era uma imagem estapafúrdia em qualquer circunstãncia, mas Arno em frente a um computador era algo mais. Aquele ancião não parecia estar minimamente familiarizado com a tecnologia, como se o apertar de cada tecla o confundisse, e apesar disso ele se utilizava do sistema com uma surpreendente facilidade.

Até mesmo nesse detalhe, havia uma espécie de curioso paradoxo naquele homem.

Ele se voltou para Emily, em um dos poucos encontros pessoais dos dois, e exclamou com intensidade: - Sabe, esses catálogos são incríveis!

Emily, muito surpresa pela espontaneidade da conversa, não conseguiu dar uma resposta adequada e apenas balançou a cabeça.

- Você já observou - continuou Arno - que mais universidades espalhadas pelo mundo afora usam este mesmo software arcaico? Uma versão aqui, outra versão ali, mas no fundo, é tudo igual. Eu já usei esse sistema em Oxford, no Egito, em Minnesota. E em nenhuma das vezes ele foi cooperativo. Este exato sistema, Emily, em toda parte.

Emily se lembrava de ter sorrido humildemente, permitindo a si mesma um único gesto tímido. Apesar daquele minidiscurso contra a tecnologia, de alguma forma o velho professor sabia o home dela. Um pouco de fama, por minúscula que fosse.

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Trecho do livro "A Biblioteca Perdida", de A. M. Dean (Prumo)

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