quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Fundaj trabalha na digitalização de discos da sua fonoteca

Acervo reúne raridades como disco de papelão de campanha eleitoral de Jânio Quadros e primeiro disco do selo Mocambo, da Rozemblit

AD Luna - Diário do Pernambuco

Fundaj realiza projeto de digitalização de discos de cera e vinis do seu acervo. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press

Pesquisadores, estudantes, fãs de discos antigos e amantes da música em geral terão acesso, a partir do próximo semestre, a cerca de 14 mil discos de 78 rotações, feitos de vinil, cera de carnaúba, acetato e até papelão. São peças raras, carregadas de história, joias da música nordestina, brasileira e mundial do acervo da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).

O processo de digitalização deve terminar em junho. “Até lá, deveremos ter a possibilidade da consulta aqui na Fundaj. A disponibilização disso na internet é uma etapa seguinte, que não podemos precisar quando se dará”, informa o bibliotecário Lino Madureira, coordenador do Núcleo de Digitalização da fundação, na Zona Norte do Recife.

Bolero, salsa, foxtrote, blues, jazz, samba-canção, marchinhas, baião e frevo são alguns dos estilos encontrados em meio às obras do acervo, que abrange discos fabricados entre as décadas de 1940 e 1960. Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Camarão, Jackson do Pandeiro, Claudionor Germano e Jacinto Silva estão entre os artistas presentes na coleção. Algumas faixas ainda nem foram identificadas, como duas do Mestre Camarão. É possível também encontrar disco com o jingle da campanha de Jânio Quadros à Presidência da República, em 1962.
Fundaj realiza projeto de digitalização de discos de cera e vinis do seu acervo. Na foto, Fabio Campos, engenheiro de áudio e gerente do projeto. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press

O trabalho foi iniciado em novembro do ano passado. Ao mesmo tempo em que o acesso à consulta do material digitalizado for ampliado, a diminuição do manuseio dos discos vai favorecer sua preservação. “Somos quatro pessoas trabalhando de segunda a sexta, numa média de 140 discos que passam pelo processo de higienização, catalogação e digitalização diariamente”, explica Fábio Campos, engenheiro de som e gerente do projeto. A empresa dele, a carioca Studio Visom Digital, foi a vencedora da licitação lançada pela Fundaj.

Os técnicos em áudio pernambucanos Rildo Leão e Ricardo Mendes (os quais já pilotaram o som ao vivo de Cascabulho, Silvério Pessoa, Faces do Subúrbio, Nando Cordel e Josildo Sá, entre outros) não escondem a satisfação de participar do processo. “É uma verdadeira viagem no tempo. E dá uma certa curiosidade em saber como se deu o processo de gravação”, observa Rildo, que também é músico. “Tem muita gente que gostaria de estar aqui no lugar da gente. Imagine passar o dia inteiro ouvindo música?”, brinca.

Fundaj realiza projeto de digitalização de discos de cera e vinis do seu acervo. Na foto, Ricardo Mendes e Rildo Leão (de camiseta branca), técnicos de áudio. Foto; Blenda Souto Maior/DP/D.A Press

Raridades

Número 1 da Rozemblit
Entre as raridades do acervo, o primeiro lançamento do selo Mocambo, da antiga gravadora recifense Rozemblit. O disco foi lançado em  1953 e contém o frevo de rua Come e dorme, de Nelson Ferreira, no lado A, e o frevo-canção Boneca, de José Menezes (morto em novembro do ano passado) e Aldemar Paiva, no lado B, interpretado pelo cantor Claudionor Germano.

Disco da Mocambo, selo da antiga gravadora Rozemblit, está no acervo da Fundaj. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press

Homenagem silenciosa 
Durante o trabalho de escuta, o técnico Ricardo Mendes achou que havia algo errado com um dos discos, visto que não conseguia ouvir nada. Ao ler o rótulo, ele entendeu o que acontecera. “Era uma homenagem póstuma da gravadora Odeon ao ‘rei da voz’ Francisco Alves, que tinha morrido na época”, conta. No lado B, Dalva de Oliveira canta Meu rouxinol também em celebração a Alves. 

Processo de Digitalização

1- Análise do estado físico do disco e restauração. É comum encontrar alguns rachados ou quebrados.

2- Substituição das capas antigas por novas, preparadas com material que evita qualquer tipo de contaminação. Isso garante maior durabilidade.

3- Higienização, através de um deionizador (aparelho que retira íons) de água e uma máquina criada especialmente para a lavagem das obras. A secagem é feita em escorredores.

4- Catalogação, com elaboração de planilha contendo todas as informações dos rótulos.

5- Audição, realizada por três pessoas que ouvem cada faixa dos discos em picapes, ao mesmo tempo em que as músicas são reprocessadas pelo software Wavelab.

6- Recatalogação, a fim de registrar as condições de cada disco e de cada gravação contida nele.

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