terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Com a tecnologia, livros sobrevivem


Barbara Oliveira | Diário do Comércio

Há pouco mais de uma semana, o site brasileiro da Amazon iniciou diretamente a venda de seus leitores digitais Kindle, primeiros produtos físicos vendidos pela gigante de comércio eletrônico na América Latina. A empresa aposta na popularização dos livros eletrônicos (ebooks) no Brasil. Embora as obras impressas tenham garantia de vida longa, os conteúdos digitais começam a ocupar espaço entre usuários que buscam a praticidade da tecnologia.

Os ebooks são fenômeno recente no País – tem, no máximo, um ano – e representam de 3% a 5% das vendas de publicações impressas, ao contrário dos Estados Unidos – mercado em desenvolvimento há sete anos –, onde a relação chega a 27%, de acordo com a Association of American Publishers (AAP). “Acreditamos que o brasileiro é apaixonado pela leitura”, diz o country manager da Amazon.com.br, Alex Szapiro.

A Amazon estreou com as publicações digitais no Brasil em dezembro de 2012 e, desde então, mais do que dobrou o número de títulos. Hoje a loja coloca à disposição cerca de 2 milhões de livros eletrônicos (em vários idiomas), sendo que 28 mil são em português e 2.600 são gratuitos.

Além da Amazon, as livrarias tradicionais Saraiva e Cultura (que iniciou vendas de ebooks há três anos), a iBook Store (da Apple) e plataformas mais recentes (Moby Dick e Iba) se engajam nesse formato de leitura. Todas essas estantes digitais oferecem aplicativos para ampliar a experiência de uso em vários dispositivos: e-readers, tablets, smartphones e até o bom e velho computador.

Convivência com o papel

“O livro impresso não está morto e vai conviver com os novos formatos por muito tempo ainda, pois se complementam”, observa Jonas Ferreira, diretor de negócios digitais da Cultura. O executivo observa que o ebook é um segmento que não pode ser ignorado porque vem crescendo dois dígitos de dois anos para cá, e “muitos leitores adotam dois ou mais dispositivos para ler conteúdos, além do próprio impresso”. Segundo Ferreira, alguns lançamentos promovidos no site da livraria Cultura vendem mais no formato eletrônico do que no impresso, mas isso ocorre só na loja virtual. A vantagem não é só o preço (em média, 30% mais barato que o impresso), mas o fato de os usuários poderem carregar várias publicações em um só aparelho e ainda terem muitos recursos disponíveis. Afinal, livros pesam.

Os e-readers da Amazon à venda no Brasil, modelos Kindle e o Kindle Paperwrite 3G e Wi-Fi, dão acesso ao acervo da loja online e a mais 400 mil livros exclusivos só para os aparelhos, cuja bateria tem capacidade para até dois meses. Neles cabem cerca de mil títulos, que o usuário lê como estivesse lendo no papel, em fundo branco e sem reflexo na tela, mesmo sob a luz do sol. É possível ainda ajustar o tamanho dos textos à tela, do brilho e da cor de fundo.

Se o usuário não quiser comprar um aparelho Kindle porque já tem um tablet ou smartphone de tela confortável e preferir ler seu romance em um deles ou no PC/Mac, basta fazer o download do aplicativo de leitura eBook Kindle (gratuito) para acessar os conteúdos nesses aparelhos Android, iOS, Windows.

A Livraria Cultura – com 3 milhões de títulos em diversos idiomas e 19 mil em português na loja virtual – é outra que comercializa uma linha própria de leitores digitais em parceria com a fabricante Kobo. Três modelos são mais apropriados para visualização (o Aura HD, o Touch e o Glo), especialmente para quem está migrando para o digital. O tablet Arc 7, lançado no final do ano passado, já contempla quem prefere um pouco mais de flexibilidade além da simples navegação pelas páginas. Armazena até 12.600 publicações (na versão de 16GB) em formato ePub (o mais popular entre os padrões de livros digitais), além de arquivos de imagens e vídeos. “É para quem gosta de ler e compartilhar com os amigos seus hábitos de leitura”, diz Ferreira.

Para novos autores

Para ler os arquivos vendidos pelo site da Cultura em outros aparelhos também é necessário o aplicativo Kobo, disponível nas lojas iTunes e Google Play gratuitamente. Esses aplicativos têm recursos de sincronização de marcações, notas e destaques de forma automática em cada um dos portáteis e a leitura pode ser retomada de onde o usuário parou. Sem falar, é claro, dos tamanhos das fontes programáveis e da possibilidade de se poder ler à em ambiente escuro, itens básicos nesses tipos de aplicativos.

A Saraiva dispõe, em seu site, 25 mil títulos nacionais e 450 mil estrangeiros, informa a empresa por e-mail. Seu aplicativo Saraiva Reader para smartphones, tablets e computadores teve três milhões de downloads desde que foi lançado, há mais de três anos. A exemplo da Amazon, a empresa tem uma plataforma de autopublicação lançada no ano passado onde já lançou 1.500 livros.

A autopublicação, segundo Szapiro, da Amazon, é um recurso interessante para novos autores sem uma estrutura editorial que os apoie. “Pela Kindle Direct Publishing, criada em dezembro de 2012, é possível uma publicação gratuita, rápida e independente”, desde que o autor detenha os direitos legais para a venda do livro, explica o executivo.

Szapiro cita alguns casos de sucesso desse tipo de autopublicação, como o do funcionário público Miguel Perez Corrêa, cuja obra “Mnenômica” que ensina técnicas para aperfeiçoamento da memória, foi traduzida para o espanhol e chegou entre os mais vendidos no México. Outro caso bem sucedido é o da dentista Fátima Pimentel, do Rio de Janeiro. Dois livros dela, dedicados ao público adolescente – “Não Pare!” e “Não Olhe” – ficaram entre os Top 100 da loja virtual por cinco meses consecutivos.

Virada no mercado

Além de ebooks, a publicação de revistas e jornais é o foco da Iba, do grupo Abril, outra plataforma de consumo e distribuição de conteúdos digitais. Há quase dois anos no ar, a Iba concentra 20 mil publicações, entre livros, 40 jornais do País e 35 editoras de revistas, informa Ricardo Garrido, diretor de operações. Para a leitura desses conteúdos, Garrido aposta no tablet como principal veículo, tendo em vista as pesquisas feitas sobre intenção de compra do consumidor brasileiro.

“O grupo Abril fez uma pesquisa com 10 mil leitores no segundo semestre do ano passado para saber que tipo de aparelho eletrônico eles pretendiam comprar no período de seis meses. O tablet foi eleito com 30% das intenções, liderando o estudo. Para nós, a experiência e o crescimentos da leitura no Brasil se dará com o tablet e o celular, desbancando os e-readers”. Na opinião de Garrido, o leitores dedicados chegaram tarde ao mercado brasileiro, quando já havia uma base sólida desses outros dispositivos multimídia e interativos. O segmento de jornais e revistas virtuais tem crescido mais rapidamente do que o de ebooks, por causa das assinaturas, avalia o diretor do Iba. No ano passado a Iba registrou 636 mil downloads de seus aplicativos para jornais, revistas e ebooks.

Uma das mais novas livrarias a ingressar na Web é a Moby Dick Ebooks, uma pequena startup há menos de um ano no ar e com 18 mil títulos nos formatos ePub e PDF (bem aceito nos conteúdos educacionais). Ela ambiciona ter 15% do mercado até o final deste ano. Leandro Barros, diretor de marketing da plataforma, acredita que até 2016 haverá uma “virada do segmento, quando os ebooks superarão as vendas dos impressos”. Um dos setores mais promissores será o educacional, prevê Barros, porque as faculdades estão adquirindo tablets para distribuição de seus conteúdos de ensino aos alunos. Por causa desse público jovem e universitário é que Barros também vê o aparelho como principal dispositivo de leitura. “Essa geração lê em qualquer plataforma. Mas se esses jovens precisarem carregar algo na bolsa, será algo mais interativo”. Não importa o aparelho, o importante é que os livros não se percam.

Serviço
www.amazon.com.br
www.apple.com/br/ibooks/
www.livrariacultura.com.br/scripts/ebooks/index.asp
www.iba.com.br/
www.livrariasaraiva.com.br/livros-digitais/
www.mobydickbooks.com.br/

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