sexta-feira, 14 de março de 2014

Origem e destino do leitor


José Roberto de Toledo | O Estado de S.Paulo

Se você está lendo este artigo em um jornal impresso, você faz parte de uma minoria. Ou melhor, de uma minoria da minoria. E não é só por causa da qualidade duvidável deste texto. A leitura de jornais em papel no Brasil limita-se a 25% da população. Descontados os leitores ocasionais, que dão uma lida só um dia ou outro, sobram apenas 10% que leem quatro vezes ou mais por semana.

Não, não é uma questão educacional. Nunca houve tantos alfabetizados, nem nunca tantos brasileiros completaram o ciclo escolar, inclusive o nível superior. Um dos desafios do jornal em papel é que mesmo entre os diplomados a sua leitura é rara: 56% nunca leem, e só 14% o fazem diariamente. É uma questão de tempo. Quem lê jornal passa uma hora lendo. E no resto do dia?

Cerca de 3 horas e 40 minutos, em média, são gastas na internet. A proporção é essa, um internauta dedica 3,5 vezes mais tempo à tela do que um leitor passa folheando seu jornal. E ele já não é mais a minoria. Metade dos brasileiros de 16 anos ou mais costuma usar a internet intensamente: 36% da população usa-a quatro vezes ou mais por semana; 26%, diariamente.

Por isso, é mais provável que você esteja lendo esta numeralha (fruto de uma pesquisa do Ibope encomendada pela Presidência da República e divulgada sexta-feira) num computador, tablet ou celular. As edições online das publicações que se originaram no papel têm, em geral, mais leitores hoje na rede do que nas suas versões impressas. Muito mais. Mas há uma diferença fundamental.

Enquanto o leitor de papel passa uma hora lendo um ou dois jornais, o internauta pulveriza seus 220 minutos diários entre dezenas de sites, checando suas redes sociais prediletas, e lendo e respondendo mensagens de e-mail. Num, a leitura é concentrada e contínua. No outro, dispersa e fragmentada.

Quando se trata de informação, essa diferença tem consequências. No papel, quando a edição é bem feita, há história e contexto. Uma foto remete a uma reportagem, que é explicada por um texto analítico. Uma informação puxa a outra, formando uma narrativa. O leitor tem um roteiro entre seções e assuntos. Na internet, o internauta ricocheteia num eterno entra e sai dos sites.

Um dos motivos que acentua essa mudança radical de comportamento é que o papel da primeira página está sendo substituído progressivamente pelas redes sociais. Em vez de passar pela capa de um portal, é grande a chance de você ter chegado a este texto através de uma rede social - e voltar para lá depois de lê-lo.

Segundo a pesquisa do Ibope, o Facebook é o site mais frequentado pelos internautas brasileiros para "se informar": 31% citaram espontaneamente o nome dessa rede social como uma de suas duas principais fontes de informação online. Recebeu quase cinco vezes mais citações que o segundo colocado. Não é só aqui.

Nos EUA, o tráfego de internautas enviado pelo Facebook para páginas online de veículos de imprensa cresceu 170% em 2013.

Twitter, Facebook, Pinterest e Linkedin são a nova vitrine das notícias da internet, mas há um problema: desconfiança. Só 1 em 4 internautas brasileiros confia sempre ou na maioria das vezes nas notícias que vê nas redes sociais. É o mesmo grau de falta de credibilidade que afeta os blogs.

Por comparação, a taxa de confiabilidade das notícias publicadas pelos jornais impressos é mais do que o dobro: 53% dos seus leitores confiam sempre ou quase sempre no que leem ali. Credibilidade é, portanto, o capital remanescente dos jornais.

Como se explica, então, a liderança da rede social no mercado de informação se há tanta desconfiança quanto ao que está ali? O internauta se adapta selecionando amigos no Facebook e quem vai seguir no Twitter. O risco é as pessoas se limitarem a guetos de quem tem as mesmas opiniões que elas e afastarem os diferentes. Diminuir a pluralidade é um passo na direção do preconceito.

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