sexta-feira, 6 de junho de 2014

Os mapas que explicam São Paulo


O Núcleo de Acervo Cartográfico do Arquivo Público do Estado de São Paulo é um espaço futurista que reúne mapas que fizeram a vida de tantos profissionais da nossa História. Outrora ocupava andares separados. Hoje, com a torre gigante de 2012, tudo se centraliza, o que garante mais segurança ao documento.

“A gente não anda mais pelo Arquivo para fazer o atendimento. O documento fica na sala ao lado da área reservada à consulta”, comenta Janaína Yamamoto Santos, diretora do Núcleo de Acervo Cartográfico, formada em Geografia.

No total, há 19.500 documentos cartográficos, produzidos e acumulados pelo Estado. São acumulações e doações, mapas recolhidos. E documentos que fazem parte dos chamados relatórios textuais.

O documento textual fica na Guarda Permanente. Ali, o Núcleo Cartográfico tem descoberto muitos mapas que compõe esses relatórios.

POLÍTICAS –  Janaína fala do acesso à documentação, da preservação e da digitalização. São políticas do Núcleo de Acervo Geográfico.

1) O acesso, claro, é aberto aos estudiosos e ao público em geral interessado. Basta agendar visitas para as pesquisas.

2) A preservação é a garantia de que o documento será mantido da forma mais científica possível.

3) A digitalização é uma forma de disponibilizar a informação sem a necessidade da consulta do original em todos os casos – já são mais de 5.000 mapas digitalizados na Internet.

“Começamos a digitalização pelos mapas mais consultados, os que sofreram maior ação mecânica, pois é no manuseio que se prejudica o documento. Cria agressões, rasgos, por mais que se tenha cuidado”, conta Janaína.

LINHA DE PRODUÇÃO – No interior do Núcleo, ao qual o pessoal do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC teve acesso, juntamente conosco do Diário – obrigado, Simone Bello! – os preciosos mapas; do lado de fora, o banco de dados.

Dentro, a conservação; fora, a pesquisa dos documentos cartográficos.

Verdadeira linha de produção.

Estúdio fotográfico montado por R$ 100 mil, contra o R$ 1 milhão que custaria a compra de equipamentos específicos. Com o valor dez vezes menor, o mesmo resultado. Mapas de todos os tamanhos são fotografados e limpos. A sujeira é sugada, o mapa volta a ser novo, visível em suas curvas de nível. A capacidade é de se fotografar 30 mapas por período, com 100 mega de resolução cada um.

Duas formas de guarda foram criadas. A solução encontrada permite o acondicionamento em quatro padrões de tamanho, distribuindo o peso dentro da gaveta. Anteriormente, o acondicionamento era do tamanho do documento, criando montinhos que o deturpavam fisicamente.

Os mapas maiores são enrolados. Eliminou-se a tendência deles voltarem a se enrolar sozinhos quando abertos graças ao molde posto no meio, que age pela ação da gravidade. Janaína faz uma demonstração: o documento não joga mais seu peso nele mesmo. A carga fica no molde. Simples, eficiente...

PARCERIA – Com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Alunos de História atuam com a equipe do Núcleo. São bolsistas, mestrandos e alunos. É testada nova metodologia de uso para os documentos cartográficos e históricos.

Pelo convênio, os bolsistas trabalham 40 horas semanais no desenvolvimento do projeto. Bons nomes têm sido revelados.

EXPERIÊNCIAS – Esta carga de conhecimentos está na cabeça das gentes do Acervo Fotográfico. Verdadeiras tecnologias desenvolvidas. Experiências boas que não podem se perder e que devem ser difundidas aos demais arquivos criados ou em processo de criação pelo Estado todo, como os que imaginamos para as sete cidades do Grande ABC, Prefeituras e Câmaras – olha lá, senhores e senhoras gestores e gestoras públicas de Santo André a Rio Grande da Serra, cobrindo as sete cidades.

Cris, uma executiva, há pouco mais de um mês atua no Núcleo Cartográfico com a missão de pôr no papel essas experiências.

“São tecnologias desenvolvidas, modos de trabalho. Produção de conhecimentos, hoje deixada aos acadêmicos. Um problema do Arquivo que temos que superar”, comenta Marcelo Chaves.

E DE REPENTE... – Na saída do Núcleo de Acervo Cartográfico, um mapa exposto permanentemente chama a atenção de Maria de Lourdes Ferreira, a Malu do Centro de Memória de Diadema. É um mapa da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, datado de 1905, e que leva a assinatura de nomes como o de Theodoro Sampaio. Cobre parte significativa de São Paulo, incluindo-se o nosso Grande ABC.

O vidro impede uma boa reprodução fotográfica. Clicamos uma, duas, dez vezes – reflexos escondem os traços regionais e quase todo rural de um século passado.

Telefonamos, posteriormente, para a Janaína. Ela nos envia um primeiro mapa, de uma região do Estado – mapa que emoldura nossa página Memória hoje.

Mas o que buscamos é o mapa do então município de São Bernardo, abrangente de todo o Grande ABC. Aquele, de 1905, da turma de Theodoro Sampaio.

Janaína nos atende mais uma vez. O mapa ansiado já está com Memória. E é tão importante e rico que ele ilustrará por inteiro esta página Memória de amanhã. Um presente do Arquivo Público do Estado ao leitor do Grande ABC.


Ademir Medici | Diário do Grande ABC


Nenhum comentário:

Postar um comentário