O acesso irrestrito ao acervo universal do passado é um ganho, mas algumas coisas se perdem no caminho
Li em "A Biblioteca à Noite", de Alberto Manguel, que pensadores medievais consideravam a ideia de um presente eterno semelhante à ideia de inferno. Ponha seu nome no Google, recolha o lixo químico de algumas coisas que andaram dizendo sobre você, e o fenômeno fica evidente.
Muito já se especulou sobre como a overdose de dados na internet mudará o atual conceito de inteligência. Me interessa um outro efeito disso: se pensar é saber esquecer, como mostrou um personagem de Borges, sujeito sobre quem caiu a maldição de lembrar tudo o que fez, disse e sentiu, sem conseguir dar hierarquia e sentido a nada, gostar esteticamente de algo também demanda um descarte contínuo de informações.
Ou a manutenção de certas memórias num lugar seguro. Livros costumam mudar (para melhor ou pior) longe de nós. Não tenho como manter a impressão original sobre "Os Meninos da Rua Paulo", lido aos 13 anos, ou "Os Dragões Não Conhecem o Paraíso", lido aos 20, porque não sei mais --ninguém sabe-- pensar e sentir dentro dos limites de épocas passadas.
Leia o texto completo na Folha de S. Paulo
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