quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Filme 'Homens, mulheres e filhos' ilustra efeito da internet sobre valores morais


Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Homens, mulheres e filhos, dirigido por Jason Reitman (Juno, Amor sem escalas), é mais um drama sobre crises de valores em famílias de classe média dos Estados Unidos, tema explorado de formas diferentes em filmes como Beleza americana (1999), de Sam Mendes, Felicidade (1997), de Todd Solondz, e Pecados íntimos (2006), de Todd Field, entre outros exemplos. O diferencial nessa nova abordagem é a presença da internet como eixo de todos os problemas afetivos enfrentados pelos personagens.

A internet não é o problema. A maneira como as pessoas a usam ou reagem a ela é que parece doentia na maioria dos núcleos familiares retratados no filme. A rede virtual simplesmente representa a abertura de novas janelas onde são extravasadas questões de comportamento mais enraizadas relacionadas principalmente a conflitos conjugais (dos homens e mulheres do título) e imaturidade sexual na adolescência (dos filhos).

O mal está também no uso excessivo da internet, seja por tablets, smartphones ou desktops. Os personagens do filme estão sempre conectados. Um garoto dá mais importância aos amigos virtuais de um videogame do que ao mundo real. Marido e mulher passam horas na cama, cada um com um iPad, mas praticamente não se olham ou não se tocam fisicamente. Em um shopping, todas as as pessoas andam pelos corredores enquanto acessam informações ou conversam pelo celular.

Homens, mulheres e filhos não tem um ator principal. É um filme coral, com várias histórias direta ou indiretamente entrelaçadas. No elenco, que tem estrelas como Ansel Elgort e Jennifer Garner, a surpresa é o comediante Adam Sandler, que assume um papel sério e delicado, com poucos momentos de humor. Emma Thompson faz uma narração em off que aponta para a insignificância das angústias humanas diante da infinitude do Universo.

Os norte-americanos não tiveram um Nelson Rodrigues. Em comparação com A vida como ela é, entre outras obras do escritor brasileiro, os dilemas apresentados nesses filmes de Hollywood beiram a ingenuidade. Reitman, que já havia discutido o tema do aborto com uma inteligente leveza em Juno, pelo menos consegue manter certo equilíbrio, sem cair em desfechos escandalosos. Ele direciona a discussão para o afeto e a compreensão, no lugar de apelar para sentimentos de culpa ou moralismos puritanos. Em seu cinema, um silêncio ou uma conversa calma valem mais do que uma briga ou discussão descontrolada.

 


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