quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Idade Média...


O acesso à internet tem proporcionado maior acesso à leitura? Estamos nos tornando melhores leitores? Certamente estamos lendo mais, porque se ampliou o acesso à informação, mas não a conhecimento. Informação, por si só, não gera conhecimento. Há incontáveis livros, artigos, blogs, notícias disponíveis na internet, mas a maioria das pessoas consome sem checar a fidedignidade. Multiplicam-se ‘informações’ sem discernimento ou reflexão. A internet muda paradigmas existentes, notadamente no que se refere ao acesso à informação e relacionamentos interpessoais, mas, decresce a capacidade do humano em testar fontes, sabê-las válidas. Isso sim, permitiria qualidade e conhecimento capaz de fazer diferença. 

Há verdades nos livros, mas ‘nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser conhecidas como tais por alma piedosa; e há, nas bibliotecas mesmo, livros que contêm mentiras’. Essas frases são de Umberto Eco no livro O nome da Rosa. Continuam atuais e demonstram que conhecimento ainda está nas mãos de poucas pessoas. No texto está que  havia biblioteca de livros raríssimos num mosteiro, contrários aos interesses dominantes. Por essa razão, pouquíssimos tinham acesso. Ler era perigoso. Quem lia certos livros morria! 

Talvez este seja um dos motivos da educação pública de nosso país estar sucateada. Os investimento não chegam a produzir transformação pessoal e social. Tem que mudar. Sem leitura o ser humano ‘morre’. É preferível ‘morrer’ pela leitura libertadora, do que pela a ausência geradora de ‘prisão’ e ignorância. Sem senso crítico, dialética e capacidade de argumentar, ‘verdades’ ou ‘mentiras’, se tornam tônica. Sem essas ferramentas não podemos imaginar que ‘quando entra em jogo a posse das coisas terrenas é difícil que os homens raciocinem com justiça’, como também afirmou Umberto Eco. Livros impressos estão se transformando em ebooks. Espero que  isso não se torne modo de ‘incendiar’ livros como antigamente. Na internet, podem deixar de ser disponibilizados se ficarem sem acesso ou não vendidos? Eis aí, de novo, a idade média... 

Acir de Matos Gomes
Advogado, professor universitário
via GCN
Imagem: Intertnet

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