quarta-feira, 22 de abril de 2015
Palavrões censurados
Aplicativo para livros eletrônicos esconde palavras consideradas impróprias e desperta a ira dos autores.
Por Felipe Marra Mendonça | Carta Capital
A remixagem é comum em vários setores, a exemplo da indústria da música, em que diferentes artistas usam a faixa original para reinterpretá-la de modo distinto. O resultado é uma espécie de homenagem ao original. Um pouco diferente daquilo que é feito com livros por meio de um aplicativo chamado Clean Reader, descrito pelos seus criadores como “o único e-reader que te dá o poder de esconder palavrões”.
O aplicativo foi criado pelo casal Jared e Kirsten Maughan, do estado americano de Idaho, preocupados com certas palavras que a filha encontrava ao ler alguns livros da biblioteca pública local. Entrevistado pelo Washington Post, o casal descobriu que “muitos adultos também preferiam não ver palavras de baixo calão nos livros que liam. Eles são interessantes, mas não existe uma agência que os classifique. Então você não sabe se o volume adquirido é mais ou menos ‘limpo’”.
Perguntados se esse tipo de intervenção não feria a intenção original dos autores dos textos, responderam que os leitores não tinham com que se preocupar, já que “compraram o livro e, portanto, podiam consumir seu conteúdo da maneira que preferissem”.
O aplicativo foi alvo da ira de autores que não gostaram de ver suas obras modificadas dessa maneira, como Joanne Harris, autora de Chocolat. Em seu blog, ela escreveu que, no fundo, a questão não era a presença de palavras potencialmente ofensivas, “mas a censura, já que muitos autores pensam muito no tipo de linguagem que utilizam. Fazemos isso por nos preocuparmos com os livros e com a linguagem. E se usamos alguma profanidade, existe sempre uma razão para isso”.
A controvérsia foi tal que os criadores do Clean Reader decidiram interromper as vendas de livros por meio do aplicativo, permitindo que apenas os títulos já comprados por seus clientes fossem mantidos.
Fundamentalmente, o exemplo do Clean Reader mostra o que a tecnologia atual permite fazer com obras “completas”. O aplicativo vendia livros para seus clientes e estes depois poderiam ou não usar as funções oferecidas para retirar palavras consideradas ofensivas. A escolha ficava com o consumidor final.
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