terça-feira, 28 de julho de 2015

O Globo completa 90 anos e mantém características

Jornal comemora aniversário nesta quarta-feira (29) e executivos afirmam que ele ainda mantém características de sua origem

por Claudia Penteado | Propmark

Foto: divulgação
Felipe Goron: “jornais são ‘fogo puro’ e não fumaça como muitas mídias”

Nesta quarta-feira (29) O Globo completa 90 anos – o jornal foi lançado em 1925 por Irineu Marinho em um prédio antigo do Largo da Carioca, espaço emprestado pelo Liceu de Artes e Ofícios. Irineu Marinho – que havia perdido pouco antes o controle do A Noite, fundado por ele em 1911, acabou falecendo menos de um mês depois, de infarto, e O Globo passou a ser administrado por Eurycles de Mattos. Seis anos depois, em 1931, aos 26 anos, Roberto Marinho assumiu o jornal e o transformou no mais importante jornal fluminense e um dos mais influentes do país.

O Globo deu origem ao maior grupo de comunicação da América Latina. Pedro Dória, editor-executivo do jornal (leia reportagem abaixo), diz que hoje O Globo é, na base, o mesmo jornal fundado por Irineu Marinho, mas muito diferente na forma. “O Globo tem algumas características que o marcam desde o nascimento e que permanecem. Uma delas é a busca pela tecnologia. Da retrogravura ao offset, à cor, ao digital, passando pelas inúmeras técnicas de recepção e impressão de fotografias, sempre foi um jornal pioneiro, preocupado em manter-se antenado com as mudanças”, diz.

A audiência digital começou a ser construída, ainda de forma embrionária, em 1996, com o lançamento do Globo Online. Dois anos depois, começava a montar sua própria equipe de jornalistas e, em 1999, com um plantão de notícias 24 horas, o site firmou-se como um dos principais noticiários eletrônicos do país, com média mensal de 20 milhões de visitantes únicos. Em 2007, foi lançado o Globo.mobi, seu primeiro site de notícias para celulares ligados à rede e, em setembro de 2008, se reposicionou, corajosamente, para “Muito além do papel de um jornal”. Em 2009, O Globo foi o primeiro jornal sul-americano a lançar sua versão para o Kindle e, no ano seguinte, entrou no iPad.

Desde 2013, ser assinante do Globo significa receber o jornal impresso, ter acesso ilimitado ao conteúdo do site, e poder ter acesso ao conteúdo no computador, tablet e celular, além de acessar o acervo de seus 90 anos de história retratada em todas as edições desde o lançamento. Ascânio Seleme, diretor de redação do jornal, diz, como Dória, que, embora seja um outro jornal, O Globo publicado hoje é exatamente igual ao seu primeiro exemplar quando se trata da linha editorial. “O jornal não mudou em nada seu compromisso com a informação correta, rigorosa e meticulosamente apurada e checada. Tampouco mudou seu respeito aos princípios éticos e à pluralidade de opinião. Também não perdeu sua densidade e reafirma a cada dia sua convicção de que jornal se faz com mais reportagem, mais análise e mais debate”, afirma o jornalista.

Sandra Sanches, diretora-executiva do veículo, acredita que o jornal soube acompanhar as mudanças de hábitos no consumo de mídia preservando a sua essência. “Ele chega bem aos 90: rejuvenescido, investindo no impresso, sua principal plataforma, e ampliando cada vez mais sua presença no mundo digital. Chega muito disposto, vibrante e preparado para os próximos 90 anos”, diz Sandra, que não se arrisca a afirmar que o impresso perderá força no futuro, mas que haverá cada vez mais possibilidades de enriquecimento no conteúdo nas plataformas digitais e a adequação da oferta da plataforma para o leitor.

“Não se trata de abandonar a versão digital do impresso, mas de enriquecê-la com novos formatos. E isso inclui a publicidade. Hoje, é possível oferecer novos formatos de anúncio na versão digital, com animação e conteúdo multimídia. Estamos evoluindo muito nisso, o que valoriza a marca do anunciante e torna a experiência do leitor e usuário mais prazerosa. Ganha-se na atenção da audiência. Aumentamos o tempo de permanência do leitor diante de nossos conteúdos”, diz.

Equação

A equação do digital começa a fechar. E a pergunta de um milhão de dólares passou a ser como os jornais conseguirão construir um modelo de negócios rentável nos smartphones, o que ainda não ocorreu.

Felipe Goron, diretor-executivo de mercado da Infoglobo, vem trabalhando nesse e em outros desafio, e diz que ao longo dos últimos anos aprendeu que o meio jornal é muito especial e o mais relevante de fato quando se considera o real impacto na vida das pessoas. Segundo ele, é possível ser inovador 90 anos depois, pois os jornais são “fogo puro” e não fumaça como muitas mídias novas e velhas que estão no mercado. Permanece como uma grande aposta do jornal a área de projetos especiais, que hoje atua em duas frentes: a primeira é ligada à mídia, onde são formatados projetos sob medida para necessidades específicas de anunciantes e agências. A segunda é de eventos, onde são criadas e implementadas grande ativações no Rio, que cobrem temas importantes como gastronomia, educação, design, música, entre outros. Alguns exemplos são o Rio Gastronomia, a Semana Design Rio e o Verão Rio – que dividem espaço com projetos de marketing tão antigos como o Aquarius, criado há 40 anos e que leva música clássica de graça a milhões de pessoas, ou o Prêmio Faz Diferença, que há 12 anos homenageia os brasileiros que contribuíram com o seu talento para mudar o país. Um projeto mais recente do marketing, segundo destaca Sandra Sanches, é a parceria com a Casa do Saber, que, segundo ela, reforça a tradição de promover debates sobre temas de interesse da sociedade.

Na área de projetos especiais trabalham hoje cerca de 20 pessoas e nos últimos quatro anos a divisão dobrou seu faturamento, representando hoje 22% da receita total de mercado anunciante. Goron diz que há grande expectativa em relação a projetos ligados às Olimpíadas de 2016.

Sandra Sanches diz que o jornal caminha para um futuro promissor, buscando a melhor forma de distribuir informação nas plataformas digitais. Uma das preocupações é também investir na renovação dos leitores.

“Com a popularização das redes sociais, o leitor acostumou-se a ter voz, a opinar e interpretar os fatos. É para esse leitor mais informado, crítico e exigente que precisamos fazer um produto cada vez melhor, nos seus diversos formatos e plataformas. Porque esse leitor não é só mais um leitor. Ele espera consumir notícia nos mais diferentes formatos, com possibilidade de interação.”, conclui.

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