Banco de dados preserva memória de 74 mil perseguidos políticos
por Victor Ribeiro | EBC
Pesquisadores de violações de direitos humanos no Brasil têm um novo instrumento de trabalho, o Laboratório de Tecnologia para Pesquisa em Memória e Direitos Humanos. Trata-se de um supercomputador que armazena os documentos de 74 mil pessoas que relataram perseguição política entre os anos de 1946 e 1985. São 10 milhões de páginas digitalizadas.
Para a presidenta do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, Victoria Grabois, a iniciativa é importante, mas ainda há muito o que fazer: "Muita coisa ainda tem que ser feita, principalmente em relação aos desaparecidos políticos. Até hoje a gente não sabe o paradeiro de 160 brasileiros que são considerados desaparecidos, o Brasil ainda não conseguiu identificar essas pessoas, então o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer."
O equipamento cruza as informações dos documentos e gera inúmeros dados. O sistema chegou a ser usado para desvendar casos de lavagem de dinheiro e foi adaptado, como explica o presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão: "Representa a mais moderna aparelhagem de apuração de informações, de pesquisa, de organização de dados, e que agora também será disponibilizada para os fins de promoção da cidadania, de promoção da memória como a melhor arma humana contra a barbárie. É a nossa tarefa para o estado brasileiro."
O laboratório já foi testado por três pesquisadores, em estudos que demonstram como funcionava a violência cometida pelo Estado, principalmente durante a ditadura militar. Os estudos concluem que essa violência ainda existe. Como destaca o presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Roberto Caldas: " A violência de hoje tem tudo a ver com a violência não punida no passado. A impunidade leva à repetição."
O jurista espanhol Baltasar Garzón defende a importância da punição para criar uma cultura de respeito aos direitos humanos: "O fundamental é a atuação integrada e coordenada das diferentes instituições do Estado com transparência, que é exigência de toda a sociedade, mas também deve estar prevista a punição."
O acesso ao supercomputador do Laboratório de Direitos Humanos ainda não está aberto, porque todos os documentos são confidenciais. A Comissão de Anistia pretende lançar um edital ainda neste ano, para selecionar instituições que terão acesso ao sistema.
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