quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Após 140 anos, jornal argentino em inglês Buenos Aires Herald imprime sua última edição diária


O Buenos Aires Herald, jornal diário de língua inglesa mais antigo da América Latina, está em transição para se tornar uma publicação semanal. A última edição impressa diária é do dia 26 de outubro.

Seguindo uma tendência observada ao redor do mundo, a edição impressa diária do Herald parece ser mais uma vítima das mudanças na oferta e no consumo de notícias, principalmente entre os jovens, que querem conteúdo digital e gratuito.

At the end of the day. Our editorial today is about our final edition as a daily newspaper. https://t.co/rtSpFooLhF pic.twitter.com/gz9cCI42Nf
— Buenos Aires Herald (@BAHeraldcom) October 26, 2016

Em um editorial publicado na edição final, o jornal escreveu: "O Herald vem enfrentando dificuldades por um bom tempo e, ainda que nossa nova encarnação tenha sido pintada como um novo desafio e uma oferta interessante para o mercado, seria tolice negar que uma mudança tão dramática não tenha vindo a um custo enorme, ou que não reflita também uma indústria da mídia em crise".

O texto indica a singularidade deste problema na Argentina, "onde as modificações na publicidade paga pelo governo, além de sua distribuição e da recessão, intensificam as mudanças rapidamente". O editorial cita estimativas sindicais que apontam que cerca de 2 mil jornalistas argentinos poderiam perder seus empregos este ano.

O jornal afirma que os funcionários ficaram sabendo no dia 19 de outubro da decisão final, tomada por maioria pelo Grupo Indalo, proprietário do veículo. Posteriormente, a maioria dos funcionários do Herald foi notificada da perda de seus empregos, acrescentou o editorial.

O colunista Marcelo J. García escreveu na edição de 26 de outubro que, além de ser afetado pela transformação digital das notícias, "o Herald foi também uma vítima da guerra midiática irracional da Argentina."

Ele comentou que "a imprensa argentina [...] tem estado muito ocupada ao longo dos últimos anos com sua própria batalha fratricida de facções, em vez de se concentrar na guerra maior, da sobrevivência pela aliança." Ele também destacou a dependência de publicidade oficial, que é "distribuída de forma arbitrária."

Analisando a mudança da diretoria do veículo na última década, García observou que, uma vez que o Grupo Indalo assumiu em fevereiro de 2015, a corporação levou um "ano e meio para acabar com a tradição da redação do jornal, sem realmente lutar para salvá-lo”. O Grupo Indalo é uma empresa argentina cujos negócios estão inclusos nas áreas de mídia, petróleo e alimentos, entre outros.

A edição semanal do jornal começará no dia 4 de novembro, mas não há outras informações sobre o futuro do Herald, disse García.

Funcionários do veículo, bem como trabalhadores da revista Ámbito Financiero e do jornal El Argentino, ambos pertencentes ao Grupo Indalo, divulgaram um comunicado expressando solidariedade com os 14 colegas demitidos do antigo jornal diário.

El Grupo Indalo despide a 14 compañeros del Buenos Aires Herald y sigue sumando preocupación en los trabajadores https://t.co/dpwFvpmSph
— Sindicato Prensa BA (@sipreba) October 26, 2016

Os jornalistas criticaram a recente exibição de anúncios para explicar o fim da edição diária. A campanha tinha a mensagem "Boa notícia, é sexta-feira". Como observado pelo site argentino The Bubble, alguns funcionários alteraram as propagandas para "Boa notícia, você está demitido" e penduraram os anúncios modificados no escritório.

O grupo de jornalistas insatisfeitos pediu o fim das demissões nas empresas de mídia e o "pleno exercício da liberdade de associação".

O Herald foi fundado em 1876 pelo imigrante escocês William Cathcart e começou como um semanal de apenas uma página, segundo o site do jornal. A publicação passou a ser semi-diária no ano seguinte, depois que o veículo passou às mãos do americano D. W. Lowe. Em seguida, o jornal começou a sair mais regularmente a partir de 1913. O Herald passou por várias mudanças de proprietários e editores ao longo dos anos, que desempenharam diferentes papéis nas negociações políticas e foram alvos da repressão do governo, como explicado no site.

O jornalista Robert Cox foi editor do Herald durante os anos de "Guerra Suja" (1976-1983), e agora é celebrado por suas críticas ao regime e por trabalhar na revelação de violações dos direitos humanos, incluindo desaparecimentos forçados. Cox foi obrigado a se exilar devido a esta cobertura. O jornal foi premiado com o prestigiado Prêmio Maria Moors Cabot em 1976 de melhor cobertura na América Latina.

De acordo com o Grupo Ámbito, 60% controlado pelo Grupo Indalo, o Herald tem mais de 160 mil usuários únicos e 1 milhão de visitas em seu site por mês. A circulação diária é de 29 mil de segunda a sábado e de 35 mil no domingo.

via Journalism in the Americas


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