terça-feira, 4 de abril de 2017

O que o Facebook sabe sobre você (mesmo que você não queira)


A rede social sabe se você terminou um namoro, por onde você caminhou durante o dia e ainda pode lhe oferecer anúncios condizentes com sua faixa de renda

Daniela Simões, Giovanna Wolf Tadini e Paula Soprana | Época

Facebook e Google são exemplos de companhias que oferecem "serviços gratuitos" que se tornaram cruciais na vida de boa parte dos usuários de internet. Para ter acesso irrestrito às facilidades propostas por esses sites, a moeda fornecida são os dados pessoais. As informações de cada usuário cadastrado são vendidas a outras empresas em troca de verbas bilionárias de publicidade. Quanto mais serviços essenciais são criados, maior a demanda por dados. Quanto mais detalhes individuais são fornecidos, mais dinheiro as companhias ganham. Só que há um balanço saudável nessa relação de troca: é preciso haver transparência e respeito à privacidade. Nesse sentido, essas gigantes deram algumas escorregadas nos últimos anos, em especial o Facebook, com 1,8 bilhão de usuários ativos no mundo.

Por exemplo, você pode revelar ao Facebook seu status de relacionamento. Pode dizer se está solteiro, em um relacionamento sério ou casado (e indicar com quem). Pode também optar por não dar essa informação à rede social e deixar o campo em branco. Em uma relação saudável, a empresa respeitaria a opção. Na prática, o Facebook tenta descobrir essa informação (afinal, é valiosa para outras empresas que anunciam na plataforma) a partir dos rastros digitais de cada um processados por um algoritmo. Dependendo do que você conversa no Messenger, dos perfis e das páginas que passa a visitar, o algoritmo supõe, por exemplo, que você se separou ou começou a namorar. O mesmo vale para sua localização geográfica, sua faixa de renda e uma série de informações que, ainda que o usuário não queira compartilhar, ficarão à disposição.

O Facebook age de modo ilegal? Até que haja uma legislação geral para o tratamento de dados pessoais no Brasil, não. Todas as práticas constam nos termos de uso, aqueles que ninguém lê. Do ponto de vista moral, é de esperar que a empresa não use uma informação que você explicitamente tenta ocultar de seu perfil. Com base nisso, criamos uma lista de informações que o Facebook consegue detectar, querendo o usuário ou não:

1. Que você terminou um relacionamento (mesmo que não tenha alterado o status)
É possível expressar publicamente se você namora alguém, está solteiro, casado ou em um relacionamento aberto. O problema é que, mesmo que você decida não fornecer essa informação em seu perfil, o Facebook consegue supor. Ele cruza dados de suas buscas e da interação com outros usuários na rede e, assim, traça um perfil. Por exemplo: Joana se divorciou, começou a receber convites de balada dos amigos, a interagir com pessoas novas que, por sua vez, utilizam aplicativos de paquera. O Facebook deduz que os interesses de Joana mudaram e ela passa a integrar um grupo de consumo novo. Assim, anúncios do Tinder e do Happn começam a surgir em sua página pessoal.

2. Qual a sua renda estimada
O Facebook cruza uma base de dados genérica sobre a distribuição de renda de um local fornecida por uma empresa (no Brasil, trata-se do grupo Experian) com sua própria base de dados. A rede sabe, por exemplo, que em determinada região há 20% de habitantes pertencentes à classe A. O Facebook então, com base em curtidas de páginas, busca por produtos e serviços e locais que o usuário frequenta, enquadra os usuários naquela faixa econômica aproximada. Isso se traduz em publicidade direcionada. Por exemplo: um anunciante de uma TV de luxo não terá interesse em alcançar usuários com uma renda estimada em dois salários mínimos. O problema? O uso de informações que não concordamos em fornecer (mesmo que a identidade seja preservada ao anunciante) e o risco da segregação, afinal, muitas campanhas na rede social vão além da mera propaganda "compre agora" e poderiam interessar a grupos socioeconômicos que foram excluídos do direcionamento.

3. Por onde você caminha ao longo do dia
Mesmo com o GPS do celular desativado e sem permitir o acesso do Facebook à sua localização, a rede social consegue detectar por onde você andou a partir de sua conexão a alguma rede sem fio. O usuário não tem a opção "Não ser rastreado". Se você já cruzou com um mesmo usuário em diferentes locais, tem amigos em comum e interesses semelhantes, é grande a chance de o algoritmo do Facebook cruzar informações para sugerir que você adicione a pessoa na rede social, mesmo que seja um completo anônimo.  

4. Os produtos que você quer comprar
Não é teoria conspiração quando você pensa em um produto e um anúncio de uma marca relacionada a ele surge em sua timeline. Muitas vezes, nesse processo de "pensar sobre um produto", digitamos uma palavra-chave relacionada a ele na busca ou mencionamos em algum comentário. Esse rastro é identificado pelo Facebook, que oferece um sofá, um batom ou um destino turístico, por exemplo, logo depois de você mencioná-lo a algum amigo. Alguns usuários relatam que, só de mencionar um produto verbalmente, o Facebook já oferece um anúncio relacionado na rede social. Para isso, a empresa precisaria captar e processar áudios de conversas ocorridas próximas ao celular. Não há confirmação de que o Facebook adote tal prática.

5. Quem são seus amigos mais próximos
A partir da quantidade de interações na rede (mensagens, publicações na timeline e marcações de fotos) e de informações explicitamente fornecidas pelos usuários, o algoritmo detecta os laços de amizade e a intensidade das relações entre dois perfis. A identificação facial nas imagens é usada também como um sistema proteção da rede para confirmar se determinado usuário é o detentor de uma conta. Isso pode acontecer quando você errar sua senha repetidas vezes ou conectar de um dispositivo desconhecido.

6. Quem você adiciona no WhatsApp
O grupo Facebook é dono do aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp e do aplicativo de imagens Instagram. Parte de suas atividades nessas redes é compartilhada com o Facebook. Se um número é adicionado no WhatsApp, a sugestão de amizade com o detentor desse número será quase instantânea em outra rede social do grupo. O fato de uma conta no Facebook não estar vinculada a um número de WhatsApp, por exemplo, já gera um alerta ao Facebook de que esse perfil pode ser falso. Uma relação meramente profissional, por exemplo, que inclui conversas de WhatsApp, quase automaticamente vira uma sugestão de amizade.  

7. Qual é a velocidade de sua banda larga
Com o auxílio da localização do usuário, o Facebook pode detectar o padrão médio de banda larga de uma região. Se João está no bairro paulistano Itaim, por exemplo, é fácil extrair a média de conectividade daquela região específica.

8. Qual é seu modelo e versão de celular, tablet ou computador
A partir do momento que você instala o aplicativo do Facebook em seu dispositivo ou acessa algum de seus serviços, a rede social tem acesso a informações sobre seu sistema operacional, bateria, nomes e tipos de arquivos, softwares utilizados no aparelho, nome da operadora de celular, informações de conexão e localização geográfica. Esses sinais parecem irrelevantes, mas dão dicas sobre seu poder aquisitivo e de consumo.

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