terça-feira, 1 de agosto de 2017

O fim da era digital já começou!


Cena original do filme à esquerda e a reproduzida a partir da gravação no DNA das bactérias à direita. 

Por Alberto Consolaro
via JCNET

O novo assusta, mas precisamos acolhê-lo. Disse o poeta: o novo sempre vem! Há mais de 50 anos atrás Hugo Gernsback, escritor de ficção científica, mostrava o que seria a "realidade virtual" como na internet, computadores e celulares. Pessoas e imprensa consideraram que era uma visão "engraçadinha" e não valorizaram!

Ford quando apresentou a fabricação em série de automóveis foi ridicularizado! O novo sempre vem e não resista, acolha, procure entender e compreender, use-o e valorize! Se resistir, impedir, cercear e evitar o novo, ele vai passar por cima te ignorando! O presidente George Peck disse à Ford: - o cavalo está aqui para ficar, o automóvel é apenas uma novidade, uma moda! Carros a 18km/h foram apedrejados, pois ameaçavam a segurança pública.

Com a invenção do rádio não foi diferente, era o novo! O brasileiro Landell de Moura disputa a descoberta de 1894 com Nikola Tesla e Guglielmo Marconi. Moura, que era padre, ao fazer demonstrações da radiodifusão em 1900 foi acusado de bruxaria por seus fiéis que invadiram e destruíram seu laboratório, acusando-o de ter um pacto com o demônio.

Uma das cenas mais ridículas da negação ao novo foi oferecida pelo presidente da poderosa IBM, Thomas Watson em 1943, quando lhe foi apresentado para a empresa fabricar o computador. Soberbamente ele disse: não nos interessa, eu acho que no mercado mundial, há lugar, talvez, para cinco computadores! A IBM quase faliu e passou por várias crises pela falta de visão "futurista" de seus dirigentes, uma habilidade que não é para todos.

O computador por muito tempo foi um objeto sem apelo comercial! Imaginem! O computador resultou de uma criação coletiva que foi se acumulando no tempo, tornando-se a máquina maravilhosa e multifuncional. Eram muito grandes e mesmo assim cartões de memórias e chips foram desprezados, inclusive pela própria IBM.

O primeiro computador doméstico foi um fracasso e era oferecido para guardar receitas e fazer contas. Em 1977 o presidente da empresa Digital Equipment Corp opinou que: - não haveria razão para alguém ter computador em casa! Até ser uma janela disponível para viajar no mundo virtual o computador teve que passar por várias etapas evolutivas.

O computador transforma tudo em dois números ou dígitos: zero e um. Não existe letra "A" no computador, mas sim um código tipo 10011 e da combinação se codifica tudo ou se "digitaliza"! Na era digital tudo registra-se em dois dígitos: 0 e 1. Antes de aparecer na tela, esses códigos numéricos são convertidos em sua aparência original em texto ou imagem.

O DNA não é binário e nem usa dígitos. Para codificar informações em sua fita espiralada em escada e para cada degrau a célula usa aleatoriamente duas das 4 letras ou bases nitrogenadas adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T), gerando combinações infinitas na molécula. As barras laterais da escada são feitas de fosfato e açúcar. Se o computador usa 2 dígitos e faz o que faz, imagine se usarmos 4 elementos de combinação! Haverá uma amplificação incalculável para armazenar informações. Os computadores serão muito mais poderosos! Adeus sistema digital e binário!

George Church e equipe em Harvard anunciou na "Nature" que gravou no DNA de uma célula um filme inserido no DNA de uma bactéria E. coli. Ao proliferar em várias gerações o filme ficou intacto nas bactérias, preservadíssimo! Antes desse experimento já haviam gravado em DNA todos os sonetos de Shakespeare e também um de seus livros. Fizeram 90 bilhões de livros via bactérias: um recorde de publicação! Agora os autores estão ensinando bactérias a filmar células humanas funcionando, um Big Brother, para assistir quando o corpo apresentar problemas e detectar-se o que está acontecendo!

Em pouco tempo os grandes centros de armazenagem de dados, bibliotecas e outras coisas como "guardar dados nas nuvens" estarão em pequeninas bactérias e células. Para que HDs, computadores e memórias enormes, se o DNA pode guardar milhões de vezes mais dados em espaços reduzidíssimos e facilmente replicáveis? O tempo médio de vida e duplicação de cada bactéria é 20 minutos!

Incrível, não é ficção, já está acontecendo! Agora é a era da informação genômica.

Alberto Consolaro é professor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no JC. 



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