domingo, 28 de julho de 2019

Arquivo online reúne manuscritos de Jane Austen



Site agrega mais de mil páginas digitalizadas do trabalho de ficção da escritora inglesa, até então dispersas em diferentes acervos

Juliana Domingos de Lima | Nexo

Para estudiosos ou apreciadores de uma obra literária, os manuscritos podem ser reveladores do processo criativo de um autor. 

No caso da inglesa Jane Austen (1775-1817), estes documentos foram, literalmente, escritos à mão. E estão reunidos em imagens de alta qualidade em um site que agrega cerca de 1.100 páginas de ficção escritas por ela, dispersas em diferentes bibliotecas e coleções particulares. 

Os manuscritos digitalizados abrangem todo o período de produção da autora, entre 1787 e 1817, de sua infância até sua morte aos 41 anos. Entre eles há rascunhos, cópias integrais e publicações para circulação privada, relativos a romances como “Persuasão”, de 1817, e à obra inacabada “Sandition”.  

Até 1845, ano da morte de sua irmã Cassandra, todos eles faziam parte de uma mesma coleção. Foram, em seguida, dispersos entre membros da família e, mais tarde, nos anos 1920, passaram a fazer parte de instituições públicas e coleções privadas. 

O projeto de arquivo online foi uma ação conjunta da Universidade de Oxford e do King's College, de Londres. A iniciativa é importante por reunificar os documentos, permitindo que pesquisadores façam comparações simultâneas dos manuscritos e estudem as práticas da escritora ao longo da carreira, uma área ainda negligenciada nos estudos que tratam de sua obra.

Como funciona o arquivo 

No menu do site, é possível buscar por um item específico ou navegar pela seção manuscritos, na qual eles estão agrupados cronologicamente. 

Cada item do acervo online pode ser acessado de múltiplas maneiras: em fac-símile, uma reprodução imagética dos documentos originais que pode ser ampliada por uma ferramenta de zoom; pela transcrição do texto ao lado do manuscrito original ou por meio de uma nota introdutória que fornece detalhes sobre a história e o estado de conservação do documento.

A excepcionalidade de Jane Austen 

Os romances de Austen só passaram a ser publicados com o nome da autora após sua morte. “Razão e Sensibilidade”, de 1811, trazia a inscrição “by a lady” (por uma dama) no lugar de sua assinatura – no século 19, muitas autoras publicavam sem assinar ou sob pseudônimos masculinos. Ainda assim, Jane Austen goza de enorme popularidade 200 anos depois de sua morte, tanto no Reino Unido quanto em outros países. 

Sobre as dificuldades de ser uma mulher escritora na época, e o contexto em que os manuscritos do arquivo foram produzidos, a autora inglesa Virginia Woolf cita, em seu ensaio “Um teto todo seu”, de 1929, um trecho das memórias do sobrinho de Austen. Ele afirma que ela não dispunha de um espaço reservado para escrever e que o fazia na sala de estar comum, sujeita a todo tipo de interrupções. 

Tomava o cuidado para que ninguém fora de seu círculo familiar suspeitasse de sua atividade. “Jane Austen escondia seus manuscritos ou cobria-os com um pedaço de mata-borrão”, escreveu Woolf.

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