quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Nós não vendemos Kindles, vendemos livros, diz chefe de e-readers da Amazon Brasil


Por Lucas Carvalho | Yahoo

Quando o primeiro Kindle chegou ao mundo, em 2007, o mercado de leitores digitais engatinhava e era disputado por empresas do Japão, como Sony e Rakuten. Doze anos depois, em 2019, a norte-americana Amazon é praticamente a única competidora do setor em diversos países, incluindo no Brasil.

A Amazon ocupa uma posição tão confortável no mercado que consegue um feito raro entre fabricantes de eletrônicos que vendem produtos importados: vender o Kindle, no Brasil, mais barato do que nos Estados Unidos. Tudo graças a uma estratégia sustentada desde a fundação da empresa como uma livraria online, no final da década de 1990.

"O nosso negócio é vender livros", e não Kindles, diz Alexandre Munhoz, gerente geral do setor de e-readers da Amazon no Brasil. "A gente vende livros digitais e os clientes podem consumir esses livros pelo aplicativo, que é gratuito, ou pelos modelos de e-reader que a gente vende. Mas o business não está no e-reader, está no livro. A gente não ganha dinheiro, não fazemos lucro [com o dispositivo]."

O novo Kindle Oasis, por exemplo, lançado em julho no Brasil, é vendido nos Estados Unidos por US$ 249, o que, em conversão direta na cotação alta do dólar atual (mais de R$ 4,10 no momento em que esta reportagem é produzida), sai por algo em torno de R$ 1.030.

No Brasil, o mesmo Kindle Oasis é vendido por R$ 1.149. Se comprado nos EUA, o aparelho ainda recebe uma carga de impostos (que varia dependendo do estado onde ele for adquirido) e ainda pode ser taxado ao passar pela alfândega do Brasil, levando o total da compra a um valor superior aos R$ 1.200.

Ou seja, para um brasileiro, vale mais a pena comprar um Kindle no Brasil do que nos EUA. E a Amazon não se importa. Segundo Alexandre, entra no cálculo do preço final do aparelho também o retorno esperado com a venda posterior de livros.

O Kindle só permite comprar livros digitais pela própria loja da Amazon, que oferece um catálogo extenso de títulos dos mais diversos gêneros. Além disso, a empresa ressalta que os brasileiros estão entre os principais usuários do mundo no serviço por assinatura Kindle Unlimited, que oferece mais de 1 milhão de ebooks por R$ 20 ao mês.

Embora pareça contraditória, a estratégia de não buscar lucro com a venda de aparelhos tem dado certo para a Amazon, pelo menos no Brasil. O Kindle, que já teve entre seus competidores o Lev, da Saraiva, e o Kobo, da Livraria Cultura, hoje reina sozinho no mercado formal de e-readers.

No site da Livraria Cultura, o único modelo de Kobo à venda está "indisponível" há meses. O mesmo acontece com o Lev, da Saraiva, que possui duas versões no Brasil, mas apenas as respectivas capas protetoras são encontradas à venda no site da empresa.

Quem procurar no mercado de revenda e marketplaces online, pode encontrar o Kobo e o Lev por preços bem mais altos que o do Kindle de entrada vendido no site da Amazon, e ainda deve estar atento à provável falta de suporte das fabricantes.

O fracasso de Saraiva e Livraria Cultura no Brasil não se limitou ao mundo dos e-readers, porém. As duas redes estão em processo de recuperação judicial, com dívidas milionárias, vendendo ativos e fechando lojas físicas por todo o país. Já a Amazon só cresce.

Só em 2018, o investimento da empresa no Brasil superou os R$ 97 milhões com a compra de um novo galpão e o início das vendas de produtos de outras categorias além de livros e e-books. No mesmo período, a empresa se tornou a mais valiosa do mundo e seu CEO global e fundador, Jeff Bezos, ultrapassou Bill Gates para se tornar o homem mais rico do mundo.

Mesmo a crise econômica e política do Brasil nos últimos anos, o aumento do preço do dólar, o temor de uma recessão global, nada tem tirado da Amazon - pelo menos por enquanto - o desejo de continuar investindo no mercado brasileiro.

"A aposta que a gente tem no Brasil é uma aposta de muito longo prazo", afirma Munhoz. "A gente está apostando que o Brasil é um país que tem muito potencial para a Amazon como um todo, não só para livros."

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