terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Impressos estão definhando e morrendo, mas o digital não tá com essa saúde toda



Por Luiz Fernando Aquino, para Coletiva.net
Imagem: Internet

Morreu no último dia de 2019, aos 36 anos, o jornal impresso Correio de Gravataí, fundado em 1983 e, desde 2012, propriedade do Grupo Editorial Sinos. Foi a sua última edição. Saiu da história do papel para buscar um lugar ao sol no sedutor mundo do digital. O on-line é o caminho, acredita a maioria. Trata-se de uma meia verdade. 

Dados do site Poder360 mostram que a circulação dos dez principais jornais do país, nos últimos cinco anos, caiu 51,7%, escorregando do 1,2 milhão de exemplares impressos por dia para 588,6 mil. Opa! Mas então o on-line é sim a salvação da lavoura?!? Não exatamente. Os mesmos números do Poder360 revelam que as assinaturas dos digitais não decolam na mesma proporção em que os boeings de papel despencam. 

Peguemos dois gigantes: Folha de São Paulo e O Globo. A Folha: em dezembro de 2014, eram 211.933 jornais diários; em outubro de 2019, 86.196. Redução de 59%. No digital (assinaturas), em dezembro de 2014, eram 159.117; em dezembro de 2018, 207.176. Ou seja, o digital da Folha cresceu 30%. O Globo, nesse mesmo período, registrou o seguinte comportamento: caiu 49% no impresso e subiu 31% no digital. Atenção! Estou considerando dados do digital até 2018, porque em 2019 o Instituto Verificador de Circulação (IVC) aplicou uma espécie de "pedalada contábil", alterando o critério sobre o que é "circulação paga" no on-line, catapultando generosamente esses números. Atentem para o seguinte: tanto os preços de anúncio quanto de assinaturas do digital são bem menores em relação aos impressos. 

A questão é: se o jornal impresso está com o pé na cova, por que esse gap de desempenho inverso dos digitais? É aí que a porca começa a torcer o rabo, como dizia o meu avô Damião. O digital surgiu como uma espécie de calçado 36 para um pé 42 dos jornalecões. Faça um teste agora: abra qualquer site desses grandes jornais. A capa é um tijolo. Vamos para os textos: as matérias têm o mesmo tamanho e linguagem dos impressos. Está tudo lá: título, linha de apoio, fotos quadradinhas, legendinhas bonitinhas e links, muitos links, muitos "saiba mais e leia mais", em uma infindável espiral de leitura - o novo Labirinto de Creta, só que sem o Minotauro. Percebem? A postura é rigorosamente igual ao padrão antigo das publicações, uma verticalização editorial afetada, soberana e pretensiosa, a mesma que está ajudando a arrastar para a agonia o impresso, entre outras razões de ordem econômica, claro. A clássica organização editorial está ali, travestida de moderna.

Ora, se o impresso despenca, e o digital não emplaca às ganhas, cadê o leitor/consumidor? Nas redes sociais. E qual a grande característica dessa danadinha? Horizontalidade, a sociedade se mexendo feito coisa viva, mas agora em rede (a rigor, sempre esteve, mas agora as pessoas também se falam). Leem o que lhes interessa (sem julgamentos nem preconceitos). Vida real, o dia a dia. Ah, mas ali só tem bobagens! É a vida de cada um, e daí? Mas isso colide com o jornalismo clássico/tradicional?!?! Não! Esse jornalismo clássico/tradicional é que está colidindo com a vida real, perdendo conexão, caindo no vazio, caretão, quadradão, dizendo, à sua maneira, o que interessa ao leitor, quase sempre ancorado em uma pauta oficialesca.

Na data de falecimento do agora saudoso Correio de Gravataí, pendura-se essa reflexão: como se livrar do mofo do terno da imprensa clássica/tradicional diante de uma nova mídia e de uma sociedade antenada, em movimento e em rede? Há um pulo do gato aí! Sempre há!

Luiz Fernando Aquino é jornalista e secretário de Governança e Comunicação e Social Substituto de Gravataí.

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