EUA divulgarão centenas de conversas e documentos da era Nixon

WASHINGTON - Em 23 de janeiro, quando a Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou leis que criminalizavam o aborto, o presidente Richard Nixon (1969-1974) não fez qualquer pronunciamento. Mas fitas divulgadas agora revelam que na intimidade ele expressava ambivalência.

Nixon preocupava-se que um maior acesso ao aborto estimulasse a "permissividade" e disse que o procedimento "destrói a família". Mas ele também via necessidade do aborto em alguns casos - como gestações interraciais, afirmou.

- Há momentos em que um aborto é necessário. Eu sei disso. Quando você tem um negro e um branco... - disse o então ex-presidente a um assessor, na época, antes de acrescentar caso de estupro.

Essa é uma das revelações contidas em mais de 150 horas de fita e 30 mil páginas de documentos tornados públicos na terça-feira pela Biblioteca Presidencial Nixon, parte dos Arquivos Nacionais americanos. Os arquivos de áudio foram disponibilizados online, assim como amostras dos documentos.

As fitas foram gravadas por microfones secretos instalados no Salão Oval da Casa Branca, de janeiro a fevereiro de 1973. Elas trazem nova luz sobre um momento intenso da história dos EUA, incluindo a segunda posse de Nixon, o cessar-fogo da Guerra do Vietnã, e o julgamento de sete homens acusados de invadir a sede do partido Democrata no complexo de Watergate.

As gravações também capturaram detalhes do dia a dia da Casa Branca, como conversas sobre o que levar em uma viagem, quando marcar uma ida ao barbeiro, etc.

A maior parte dos registros relacionadas ao escândalo de Watergate, que levou à renúncia de Nixon 20 meses depois, já haviam sido divulgadas. Mas há material que inédito não divulgado porque a baixa qualidade do áudio podia comprometer o entendimento de quem ouvisse e induzir a erros. Graças a avanço em tecnologia de áudio, o material foi restaurado e também liberado.

Os materiais estarão disponíveis nos site nixonlibrary.gov , assim como na biblioteca Richard Nixon de Yorba Linda (Califórnia), e nos Arquivos Nacionais de College Park (Maryland).


Fonte: O Globo